O Jornal da Cidade
Carnaval: Barra vive racha de moradores sobre mudança de circuito para a Boca do Rio
Com ou sem Carnaval, a população da Barra está dividida sobre a mudança do circuito para a orla da Boca do Rio. Após o anúncio da possibilidade de transferência, a Associação de Moradores da Barra (Amabarra) solicitou uma reunião com o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), para tratar do tema que pegou todos de surpresa. O encontro, que aconteceu na manhã de segunda-feira (4), também contou com a presença de comerciantes e empresários da região.
Para Waltson Campos, diretor de comunicação e relações públicas da Amabarra, essa é uma solicitação antiga dos moradores, incentivada pelos problemas percebidos por essa população durante os dias de folia, como mobilidade, poluição e violência. Adversidades que, segundo o diretor, o bairro não comporta mais.
“Há cinco ou seis anos vínhamos pleiteando este espaço dentro do Comcar, para que pudéssemos começar a falar o que pensamos como moradores. Nós não concordamos com esse modelo de trios e camarotes, porque ele cresceu muito. Temos em um bairro pequeno, que recebe uma concentração de grandes quantidades de pessoas e que não tem mais estrutura para isso”, diz o diretor da Amabarra.
Sônia Garrido, de 65 anos, é uma das moradoras da Barra que concorda com a mudança da festa para a Boca do Rio pelos mesmos motivos apontados pelo representante da Amabarra, além da falta de espaços de suporte para os ambulantes que passam os sete dias de Carnaval alocados no circuito. Na reunião, sua principal queixa foi o excesso da valorização do lucro, pelos empresários.
“Vimos muita gente falando da sua própria expectativa em termos do dinheiro que vai ganhar ou perder, deixando de lado o aspecto de funcionalidade do carnaval no bairro. O Carnaval não precisa deixar de existir. O que não pode acontecer é parar o local completamente, gerando um volume absurdo de lixo, para que uma festa se instale e paralise a praia”, opina Sônia.
Como criador do circuito Habeas Copos e representante da Associação Carnavalesca das Entidades sobre Percussão (ACESP), Sérgio Bezerra afirma que a mudança visa manter, na Barra, um Carnaval que seja suportado pelo espaço, ao mesmo tempo que poderá descentralizar a festa.
“Eu acho que é a oportunidade de descentralizar o Carnaval e contemplar a cidade toda. Para que não se crie mais um circuito como o que temos hoje, desconfortável para o carnavalesco, moradores e para o policiamento, que hoje já não consegue ter a mesma atuação que tinha antigamente”, destaca Bezerra.
Contra a mudança
Quando souberam que a Barra poderia deixar de ser o circuito principal do Carnaval, os empresários da região formaram o grupo SOS Carnaval Barra-Ondina, para tentar impedir a mudança. Criado há quase um mês, tem 177 membros. Um deles é Mauricio Mordechai, 47, dono de uma agência de turismo e morador do local. Para ele, além da perda de capital para os comerciantes, a mudança gerará uma perda de identidade para a festa.
“Se falou na reunião que não tem como resolver o problema porque tem muita gente aglomerada na Barra. É uma mentira, porque não foi feito tudo. O que existe hoje é uma aglomeração de trios elétricos, que saem colados um no outro. É preciso fazer o espaçamento desses trios. O Carnaval no exterior é muito vinculado ao Farol. Se você tira isso, o estrangeiro simplesmente não vem para essa parte da cidade”, afirma o empresário.
Ao seu lado está a proprietária de duas pousadas na região, Ajulimar Marchionne, 31. A empresária questiona os benefícios de uma mudança durante a pandemia da Covid-19, em que muitos comerciantes perderam suas rendas ou esperam pelo Carnaval para tentar recuperá-las.
“A mudança vai ser uma tragédia para as empresas. Uma pousada como a minha consegue sobreviver o ano inteiro só com o Carnaval. Na Boca do Rio não tem estrutura para receber a festa. Vai ser uma incógnita muito grande. Depois de uma pandemia, esse é o momento? Está todo mundo se recuperando desses tempos catastróficos", lamenta Ajulimar.
Mudança
Diante da divisão de opiniões entre as comunidades que moram e trabalham na Barra, o presidente do Comcar, Joaquim Nery, afirma que a decisão deverá ser anunciada oficialmente até o mês de agosto. O veredito depende da realização de estudos com a participação dos órgãos que atuam nos dias de folia, como Secretária Municipal de Saúde (SMS), a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador).
“Já houve reuniões com essa turma. Eles estão preocupados com o tempo. Mas o que eu acho que a gente tira disso tudo é a necessidade de uma mudança no Carnaval da Bahia. Se essa inovação não vier para 2023, que seja planejada com antecedência para 2024, porque isso vai ter que acontecer. Até agosto estaremos discutindo junto com a Prefeitura”, explica o presidente do Comcar.
Ao comentar sobre a possível mudança, o prefeito Bruno Reis, confirmou a previsão do Comcar e destacou a parceria com o órgão para a execução do projeto, que ainda está em fase de elaboração pelos empresários que trabalham na festa. "A previsão é de que seja encaminhado em agosto. O projeto está sendo elaborado a partir de uma grande intervenção que vamos fazer em Pituaçu. À medida que for aprovado pelo Comcar, a prefeitura vai analisar e emitir uma opinião", explicou.
Ainda segundo Nery, a mudança não pretende prejudicar o Carnaval do Centro Histórico, já que o planejamento do novo circuito tem sido pensado junto com a revitalização dessa região.
Como um dos órgãos e secretarias envolvidas na definição, a Transalvador informou que ainda não há informações para um projeto que está no início das discussões. Em nota, a PM-BA, ressaltou que seguirá atuando em eventos de grande porte, a exemplo do Carnaval de Salvador, mas não comentou sobre a mudança. Já a SMS esclareceu que no momento não está envolvida na discussão sobre a troca do circuito do Carnaval.
ACM Neto segue líder nas intenções de votos para as Eleições 2022
O instituto Paraná Pesquisas divulgou, nesta terça-feira (05), levantamento que mostra o pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil) com 58% das intenções de voto para as eleições deste ano. No cenário estimulado, Neto ganharia em primeiro turno caso o pleito acontecesse hoje.
O pré-candidato pelo União Brasil foi o único que conseguiu aumentar o percentual de apoiadores desde o último levantamento realizado sobre as intenções de votos para governador na Bahia. A pesquisa, encomendada pelo Bahia Notícias, mostra que somados, os adversários de ACM Neto não acumulam nem metade das intenções de votos registradas por ele.
Enquanto Jerônimo Rodrigues (PT) aparece com 15,8%, João Roma (PL) somou 9,1% dos votos. Ambos perderam quase dois pontos percentuais desde abril. O pré-candidato pelo PSOL, Kleber Rosa, caiu de 1,2% para 0,5%, e Giovani Damico (PCO) saiu de 0,5% para 0,1% das intenções de voto.
Votaram nulo, branco ou nenhum dos candidatos 9,8% dos entrevistados, enquanto 6,9% disseram não saber ou preferiram não responder ao questionário.
O levantamento do Paraná Pesquisas ouviu 1640 pessoas de 72 municípios baianos. Realizado entre os dias 30 de junho e 04 de julho, a pesquisa tem margem de erro de 2,5% e intervalo de confiança de 95%. O estudo foi registrado no TSE sob o nº BA-07579/2022.
Municípios baianos com maiores gastos nas festas juninas serão alvos de fiscalização
Ações conjuntas de fiscalização e de orientação dos gestores públicos sobre gastos realizados com os festejos juninos foram debatidas pelo Ministério Público estadual e Tribunais de Contas do Estado (TCE) e dos Municípios na última segunda-feira (13). Durante a reunião, o coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção à Moralidade Administrativa (Caopam), promotor de Justiça Frank Ferrari, e os presidentes do TCE e TCM, respectivamente, Marcus Presidio e Plínio Carneiro, definiram que as atividades de fiscalização terão o propósito de assegurar a melhor preservação dos recursos públicos e o cumprimento das normas orçamentárias e de responsabilidade fiscal.
A decisão é que a fiscalização deve ser feita sem perder de vista que a preservação do interesse público inclui a priorização de medidas que privilegiem a manutenção dos festejos e de seus benefícios para a economia e o lazer, assim como atenda a legítima expectativa da comunidade na preservação de sua cultura e tradição, frisam eles.
Os órgãos também decidiram que, para melhor eficiência do trabalho de fiscalização, as ações serão concentradas nos municípios que empreguem maior volume de seus recursos na realização das festividades, e, mais especialmente, naqueles que tiveram emergência/calamidade decretada e foram beneficiários de aportes de recursos federais e/ou estaduais de transferências decorrentes dessas situações.
Além disso, serão foco da fiscalização os municípios que não aplicaram recursos vinculados previstos, especialmente na área da saúde, e detenham elevadas dívidas previdenciárias, entre outras. Essa fiscalização, explica o promotor de Justiça Frank Ferrari, deve ser realizada com a devida cautela, pautada pela análise de custos e benefícios com vistas à mais efetiva proteção do interesse público.
Para ele, dentre as várias formas de abordar e tratar os problemas relacionados à defesa do patrimônio público, “não há dúvidas de que a atuação preventiva de danos ao erário e de outros ilícitos é a abordagem mais econômica, possuindo menores custos sistêmicos com potencial de produção de maiores e melhores benefícios, de modo que deve ser preferida às intervenções reativas, sobretudo aquelas de natureza repressiva e sancionatória, muito mais caras para todos e em todos os sentidos possíveis”.
O promotor de Justiça alerta, entretanto, que a prevenção será priorizada sem prejuízo da eventual adoção de medidas mais duras em face de casos mais graves, “o que esperamos seja desnecessário”. Já o presidente do TCE, Marcus Presídio, ressaltou que as instituições estão buscando “a melhor forma de preservar o interesse público, de forma a preservar os recursos financeiros sem perder de vista os interesses econômicos e culturais legítimos da população.
"Buscaremos, sobretudo, orientar os gestores para prevenir novas ocorrências de irregularidades no futuro, aproveitando para preparar o controle externo para nos apoiar na prevenção das situações indesejadas”, disse Presídio. Ainda segundo o MP e os Tribunais de Contas, será promovida a verificação do conteúdo das decisões que fundamentaram a realização dos eventos e os valores despendidos, com a exposição clara e detalhada dos motivos, bem como as justificativas para os dispêndios com a contratação de artistas, estruturas e outros gastos relacionados.
O promotor de Justiça e os presidentes dos Tribunais destacam que os esforços buscarão soluções que previnam que o problema volte a ocorrer futuramente, com o estabelecimento de orientações para os gestores públicos que melhor assegurem a prevenção de danos e ilícitos para os próximos anos e garantam o estabelecimento de parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade para realização desses gastos, e com a orientação da população sobre a importância de sua participação no controle social.
No entendimento do presidente do TCM, Plínio Carneiro, prevenção e orientação são as palavras-chave quando o assunto é a fiscalização dos recursos públicos. “Em grande parte das vezes o político não está suficientemente preparado para ser gestor. E ainda há a questão da rotatividade da gestão pública, que é um processo natural da democracia. É aí que entra o nosso papel, de orientar e capacitar os gestores para que façam o controle dos gastos de forma correta. Eu vejo esta reunião como um grande avanço, principalmente no que diz respeito à orientação aos gestores”, concluiu ele.
Teve de tudo: missa, feijoada, procissão e reza para celebrar Santo Antônio
Uma fé que arrasta multidões. Foi assim que aconteceu na segunda-feira (13), quando crianças, jovens e idosos saíram de suas casas para participar da alvorada, reza popular, carreata, missa e procissão dedicadas a Santo Antônio, conhecido como “pai dos pobres” e “santo casamenteiro”. Os devotos se reuniram em peso depois de dois anos de pandemia para, além de pedir por paz, abertura de caminhos e fartura, agradecerem por terem sobrevivido ao vírus da covid-19. Em Salvador, a santidade foi celebrada em mais de seis missas em bairros diferentes.
Às 6h, os fiéis realizaram uma alvorada, seguida da reza popular e carreata pelas principais ruas do Santo Antônio Além do Carmo. Neste período, alguns devotos fizeram a entrega de alimentos. É o caso de Gustavo Nascimento, de 53 anos, que oferta pães para as pessoas no dia de Santo Antônio todos os anos. “Levei dois sacos com 56 pães que foram abençoados pelo padre depois da missa. O último pão é o meu, que vai me dar energia para continuar o ano todo e fazer outras oferendas nos próximos anos”, disse.
Já Raimunda Amparo, 66, distribuiu 95 quentinhas de feijoada no bairro. “Faço isso há 20 anos e minha tia já fazia antes de mim, é sempre bom ajudar todos que precisam, é um trabalho muito bonito. Faço com muito amor”, declarou.
De noite, a programação foi farta: uma missa comandada pelo bispo auxiliar, Dom Valter Magno de Carvalho; uma reza popular na última casa amarela do bairro, que é dedicada ao santo; uma feijoada feita pela ialorixá do Ilê Axé Oyá Ogum Silé Omin, mãe Marta de Iansã; e uma procissão que levou muita gente atrás da santidade. Nessa última, que percorreu as principais ruas dos bairros Santo Antônio Além do Carmo e Barbalho, a santidade foi levada com 400 pães aos seus pés.
Quem acompanhou o percurso do início ao fim foi Augusto Antônio, 63. “Essa fé veio do meu avô, que construiu uma igreja para Santo Antônio no município de Ubaíra e eu, desde lá, já era devoto. Morei 30 e poucos anos aqui no Carmo e, hoje, mais agradeço do que peço”, contou.
Responsável por fazer o altar de Santo Antônio para a procissão, o artista plástico Rodrigo Guedes, 31, contou que o pão representa o alimento do corpo e do espírito, além de simbolizar o corpo de Cristo. É do artista também a exposição na casa amarela do bairro, que é de sua avó, uma das responsáveis por passar a tradição de devoção do santo casamenteiro para o neto.
Rodrigo ainda realizou mais uma edição da reza pública Santo Antônio na casa de sua avó, que estava de portas abertas para receber o público. A estimativa do artista plástico é que mais de 300 pessoas tenham passado pelo local para rezar, agradecer e fazer seus pedidos. “Esse ano completamos 17 anos de reza pública, oriunda de uma devoção centenária por parte de minhas avós, materna e paterna”, afirmou.
Santo Antônio é sincretizado com Ogum, orixá que assim como ele abre caminhos. “Essa é uma tradição milenar na minha vida, minha ligação com Santo Antônio e com Ogum, tenho por herança de família. Assim como Santo Antônio saía nas ruas dividindo os pães, peguei a missão de sair às ruas para distribuir quentinha de feijão, então eu sirvo 600 quentinhas no dia, 300 meio-dia e 300 de noite, são mais de 60 quilos de feijão”, explicou mãe Marta de Iansã.
A ialorixá afirmou que, além dos pedidos por paz e fartura, as pessoas se reuniram no Santo Antônio Além do Carmo para agradecer por terem conseguido sobreviver depois de dois anos de pandemia. A mãe de santo também relatou ter visto pessoas com muita fome na porta de sua casa.
“Eu vi que chegavam aqui pessoas realmente com fome. Teve gente que chegou aqui chorando, dizendo que tinha dois dias sem comer. Então, fazer isso é muito compensador”, finalizou.
Senado aprova projeto que limita ICMS dos combustíveis
O Senado aprovou nesta segunda-feira (13) o Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, que limita a aplicação de alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. Segundo a proposta, esses produtos seriam classificados como essenciais e indispensáveis, levando à fixação da alíquota do ICMS em um patamar máximo de 17%, inferior à praticada pelos estados atualmente. O texto também prevê a compensação da União às perdas de receita dos estados.
O objetivo do projeto é provocar a redução no valor dos combustíveis na bomba, aliviando o gasto do consumidor com gasolina, que supera os R$ 7 o litro no país, e com o diesel, beneficiando também caminhoneiros e transportadores. O PLP também busca reduzir o valor do gás de cozinha e da conta de luz.
Foram 65 votos a favor e 12 contrários. O projeto volta para a Câmara para nova análise após as emendas inseridas no texto. Para o relator do projeto no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o PLP é “um passo importantíssimo para derrubar a inflação”, além de segurar os preços nas contas de luz e nos postos de combustível. Ele também afirmou que o Congresso “faz história” ao incluir esses setores entre os considerados essenciais.
“Participei da Constituinte de 1988, lá a gente dizia que a essencialidade dos produtos tinha que ser definida por lei complementar. E se passaram mais de 30 anos e o Congresso, em nenhum momento, definiu a essencialidade dos produtos. Portanto, esse é um passo importante, estamos fazendo história”, disse o senador.
Bezerra leu seu relatório em plenário na semana passada e hoje se ateve às emendas recebidas pelo projeto. Foram 77 no total e Bezerra acolheu quatro integralmente e nove parcialmente.
Emendas
Uma das emendas acatadas repõe perdas de arrecadação do Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb) e de ações de serviços de saúde. Ambos setores têm receitas vinculadas à arrecadação com o ICMS. O relator incluiu um trecho que prevê a manutenção das vinculações à saúde e educação básica, mas de forma proporcional à dedução dos contratos de dívida dos Estados com a União.
Bezerra também incluiu no texto um dispositivo para conferir segurança jurídica aos gestores estaduais. Assim, eles poderão reduzir a arrecadação do ICMS sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). De acordo com o regramento, um ente federativo não pode abrir mão de uma receita sem indicar uma nova fonte de arrecadação para compensar.
Senadores
O PLP não foi unânime no plenário. Alguns senadores se colocaram contrários ao projeto. Para Zenaide Maia (Pros-RN), o projeto não ataca o principal causador do aumento dos combustíveis, que é a atual política de preços da Petrobras, vinculada ao preço internacional do barril de petróleo e o valor do dólar.
“Esse PL não tem nada a ver. E, ainda, sem a garantia de que vai ter redução dos preços na bomba de combustível, a gente sabe que depende do dólar, e a certeza de que a Petrobras, assim que for aprovado isso aqui, vai recompor os preços, porque já faz mais de 20 dias que não dava aumento”.
Carlos Portinho (PL-RJ), novo líder do governo no Senado, defendeu o projeto e pediu a participação dos estados no esforço de reduzir o preço do combustível para a população. Segundo ele, o governo tem contribuído ao abrir mão de impostos federais sobre o combustível para reduzir o impacto da inflação explicada, segundo ele, pela guerra na Ucrânia, dentre outras variáveis internacionais.
“Temos que cortar os impostos, assim como diversas nações no mundo, neste momento de emergência internacional, estão fazendo. É o que temos para hoje”, disse. “Agora é hora dos governos: é hora do Governo Federal, que põe na mesa, e é hora desse sacrifício dos governos estaduais”.
Relatório
Na semana passada, ao apresentar o relatório à imprensa, Bezerra afirmou que, se aprovado, o PLP poderia derrubar em R$ 1,65 o preço da gasolina e em R$ 0,76 o preço do diesel. No entanto, destacou que os preços poderiam apenas “não subir muito mais”, a depender do cenário internacional, que influencia no preço do barril de petróleo e na valorização do dólar frente ao real.
“Não estamos tabelando preço. Tem uma guerra na Ucrânia, a Rússia é responsável por 25% da produção de diesel no mundo, os preços estão tensionados. É evidente que pode haver elevação de preços. Mas, mesmo que haja, isso vai ajudar a não subir muito mais do que subiria”, disse, na ocasião.
Já existe um projeto, aprovado no Senado em março, que pretende reduzir o valor dos combustíveis. O Projeto de Lei 1.472/2021 propõe a mudança a forma de cálculo do preço dos combustíveis, além de criar uma Conta de Estabilização, para garantir a previsibilidade nos preços ao consumidor. O projeto, considerado uma das prioridades do Senado no início deste ano, atualmente está parado na Câmara dos Deputados, sem previsão de votação.
Casos de covid crescem 198% na Bahia; megaeventos juninos preocupam
O número de casos da covid-19 voltou a crescer e a estimativa de especialistas é que o São João colabore para um novo surto da doença. Segundo as informações do mais recente boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), divulgado nesta segunda-feira (13), houve um aumento de 198% no número de contaminações em território baiano na primeira quinzena de junho. Barreiras, Itabuna e Lauro de Freitas são os municípios do interior com o maior número de casos ativos. O quadro acontece dias antes do início das festas juninas, que têm potencial para aglomerar milhares de pessoas nas cidades com tradição na festa.
Frederico Pasche, doutor em Saúde Coletiva, alerta que a aglomeração e contato entre indivíduos de regiões diferentes devem resultar em um surto ainda maior de 21 a 28 dias após as festas juninas. Além da contaminação, a previsão é o pressionamento do sistema de saúde.
Essa é a maior preocupação do representante comercial Nivaldo Machado, morador de Barreiras. Ele afirma que ainda não é o momento ideal para a montagem de megaestruturas do São João promovido pela cidade.
“Quando tem aglomeração, corre o risco de voltar o aumento de casos e superlotar as vagas nos hospitais. Prefiro ir para a roça e ficar só com a minha família do que fazer aglomeração. Muita gente ainda não está vacinada”, diz preocupado com a possibilidade de seus filhos precisarem de algum atendimento e o sistema de saúde estar sobrecarregado.
A infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi classifica o cenário como “preocupante” devido às duas novas subvariantes da cepa ômicron do coronavírus - a BA.4 e BA.5 -, cuja “transmissão é 50% maior que a ômicron inicial”. Ela também cita a baixa procura pelas doses de reforço como indicativo de um novo surto.
“Podemos considerar uma quarta onda. Não deve ter impacto tão grande quanto tivemos nas outras ondas em relação à hospitalização e mortalidade. Todos os eventos que levam à aglomeração em ambientes fechados, com muitas pessoas sem máscara e sem vacinação em dia levam ao aumento do risco de adoecimento”, alerta.
Para o governador Rui Costa (PT), as festas não correm risco de cancelamento (leia ao lado), apesar do aumento dos casos neste mês. Em coletiva, ontem, o gestor afirmou que o governo tem monitorado o panorama de alta, no entanto, mais três critérios são considerados: número de internamentos, vagas nas UTIs e mortes.
Frederico Pasche discorda, pois as consequências da covid-19 a longo prazo ainda são desconhecidas mesmo para quem desenvolveu sintomas leves ou foi assintomático. “Estamos numa quarta onda [...] o vírus vai procurar corpos suscetíveis; crianças não vacinadas, jovens sem ciclo vacinal completo, idosos sem quarta dose. O vírus vai encontrar corpos para se instalar. Estamos colocando essas pessoas em risco”, alerta.
Sabendo da potência junina no estado, especialistas orientam os governos que tenham responsabilidade sanitária e que lembrem a população sobre a possibilidade de contrair o vírus em aglomerações, orientando o uso de máscaras em espaços abertos e aglomerados. Outra recomendação é realizar a testagem durante o evento.
“A gente tem tido uma gestão, do ponto de vista das autoridades sanitárias, muito irresponsável. Não é à toa que o Brasil é um dos grandes responsáveis pelo grande número de óbitos. Os gestores não quiseram compreender efetivamente [a covid]”, aponta Pasche.
Em Salvador, o prefeito Bruno Reis afirma que o aumento de casos não está impactando o sistema de saúde e recomenda para quem vai festejar o São João no interior: "Tomem a vacina. Ampliamos a oferta e pedimos que todos que puderem se vacinar, principalmente, aquelas pessoas que vão para o interior, que vá com o ciclo vacinal completo", afirma.
No interior
Segundo a prefeitura de Barreiras, ontem ocorreu reunião do Comitê de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) para avaliar a necessidade de medidas preventivas. As providências, no entanto, ainda não foram divulgadas. Por enquanto, a atividade é a monitoração do quadro epidemiológico. "Na última semana tivemos 56 casos de covid e seguimos com 47 pessoas em isolamento. Até então, continuamos sem pacientes internados no município”, pontua o secretário de saúde Melchisedec Neves.
“Deveria pedir passaporte da vacinação para quem está vacinado entrar, assim como pode ter medição da temperatura”, sugere o morador Nivaldo Machado.
A prefeitura de Itabuna tem seguido a mesma linha de monitorar os casos graves. De acordo com a administração do município, não há internamento por covid-19 na cidade e, apesar dos números de pacientes ativos, as infecções estão brandas. No período junino, é tradição em Itabuna a festa de São Pedro, que ocorre de 30 de junho a 3 de julho. Algumas das atrações confirmadas são João Gomes, Tarcísio do Acordeon e Bel Marques. A prefeitura, porém, não respondeu quais medidas pretende tomar contra a disseminação da covid no evento.
Já a prefeitura de Lauro de Freitas, cidade que tem 95 casos, afirmou que a população deve apresentar certificado de vacinação no ‘Arraiá de Ipitanga’, mesmo com o esquema vacinal completo. A medida tem concordância com as sugestões de moradores do município, a exemplo de Carolina Lima, 19 anos, estagiária de docência.
“Me preocupo mais com meu desempenho no trabalho, atuo com crianças que têm a imunidade baixa normalmente e trazem esses vírus. Com isso, já fiquei doente mais de 3 vezes, com amigdalite, e precisei interromper as aulas. Além do risco de contaminar minha família, já que moro com meus pais e irmãos”, conta ela, que sugere à prefeitura que cobre a terceira dose como obrigatória para entrada nos eventos. “Não acho que se o uso da máscara for obrigatório haverá fiscalização. Então, pelo menos a terceira dose obrigatória. Além de ter pontos de álcool em gel”, diz.
Morador de Vitória da Conquista, quarta cidade do interior com mais casos ativos, o controller de 42 anos Fábio de Jesus acredita que a festa deveria ser adiada até haver controle da proliferação. “Baseado nessa questão do aumento de [cerca de] 200%, [a prefeitura] deveria rever a comemoração. Talvez diminuir a quantidade de gente em certos locais, manter uma festa com todos os cuidados possíveis. Acho muito perigosa aglomeração nesse momento. Pior que não vai ser só aqui, também vai ser em outros lugares”, lamenta.
A prefeitura de Vitória da Conquista não retornou o contato da reportagem para responder sobre as medidas de proteção no ‘Arraiá da Conquista’.
Na linha contrária dos moradores, a costureira Maria da Silva, 65, vai viajar para comemorar o São João em Senhor do Bonfim. Embora a cidade não apareça na lista de 10 municípios com mais casos ativos, é esperado grande fluxo por ter uma das principais festas juninas da Bahia. “Sempre frequento o forró do jegue, tradição na cidade. No entanto, é em um clube com ambiente fechado. Esse ano não vou participar. Devo ficar na varanda da casa em que vou ficar, ela fica de frente para uma praça que sempre têm atrações”
Vacinação
Um total de 3,6 milhões de baianos estão com a dose de reforço anticovid em atraso, informa a Sesab. No estado, apenas 48% da população já tomou a terceira injeção, seja em dia ou com algum atraso. Enquanto isso, 2,4 milhões ainda não foram tomar a segunda dose de reforço, a quarta dose, oferecida para pessoas a partir de 50 anos, profissionais de saúde, idosos e imunossuprimidos.
A infectologista Raquel Stucchi explica que as modificações comuns e frequentes [mutações] que acontecem com os vírus podem causar sintomas dos mais leves aos mais graves ou, ainda, tentar escapar da defesa das vacinas. “É preciso, portanto, manter uma quantidade maior de anticorpos para impedir que o vírus cause a forma mais grave da doença. Essa função é exercida pelas doses de reforço”.
A orientação do epidemiologista Paulo Petry é completar o ciclo vacinal e manter o uso de máscaras com maior poder de filtração como a cirúrgica e PFF2. "Se as pessoas estiverem aglomeradas, ainda em locais abertos nessas festas, a transmissibilidade do vírus vai ser alta. Essas novas variantes e subvariantes da ômicron são altamente transmissíveis”, ressalta.
Já Stucchi dá instruções para quem estiver com sintomas. “As pessoas que tiverem qualquer sintoma como dor de garganta e nariz escorrendo devem fazer o teste. Se for positivo, fique em casa, se negativo e os sintomas persistirem, devem repetir o teste em 48h. Neste período [é preciso] ficar em casa ou usar máscara N95 se tiver de sair”.
Quem seguiu o exemplo foi o estudante de comunicação, Pedro Beno, de 22 anos. O jovem testou positivo na semana passada e cancelou os planos de viajar a Lençóis, na Chapada Diamantina, para curtir o São João. “Eu estava na dúvida de viajaria para lençóis com meu pai ou ficaria em casa com minha mãe, parece que agora só vou ter uma opção”, brinca. Vacinado, o jovem desenvolveu sintomas leves, como dor de cabeça, coriza e enxaqueca.
Municípios com mais casos ativos na Bahia (13/06):
Salvador - 956 casos
Barreiras - 168 casos
Itabuna - 132 casos
Lauro de Freitas - 95
Vitória da Conquista - 91
Santo Antônio de Jesus -74
Feira de Santana - 73
Porto Seguro - 53
Brumado - 51
Canápolis - 47
INSS: concurso para mil vagas de técnico de seguro social é autorizado
O Diário Oficial da União publica, nesta segunda-feira (13), portaria da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, que autoriza a realização de concurso público para o provimento de mil cargos de Técnico do Seguro Social do quadro de pessoal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A responsabilidade pela realização do concurso será da presidência do Instituto Nacional do Seguro Social, a quem caberá editar as respectivas normas, mediante a publicação de editais, portarias ou outros atos administrativos necessários”, diz ainda o documento.
O prazo para a publicação do edital de abertura do concurso público será de seis meses, contado a partir de hoje, data da publicação da portaria.
Uso de máscara volta a ser obrigatório na Uneb e na Uefs
O crescimento do número de casos da covid-19 no estado acendeu um alerta em duas universidades estaduais. Mesmo com o decreto estadual que liberou a obrigatoriedade do uso de máscaras no estado, tanto a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) quanto a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) voltaram a tornar obrigatório o uso nas suas dependências.
"Considerando o aumento de casos ativos da Covid-19 nos municípios em que a Universidade do Estado da Bahia desenvolve atividades e as orientações do Comitê de Biossegurança (Cobio) da instituição, a Reitoria da Uneb recomenda o retorno do uso de máscaras dentro de todos os ambientes administrativos e acadêmicos da instituição, nas instalações do interior do estado e da capital, visando à prevenção e ao controle epidemiológico", diz comunicado divulgado pela instituição.
A instituição destaca ainda que a Administração Central da Uneb segue promovendo uma série de ações para o acolhimento da comunidade acadêmica e para a garantia das condições de biossegurança, em todos os campi, sempre pautada pela preservação da vida e pela confiança na ciência.
Já a Administração Central da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) comunicou que tornou obrigatório o uso de máscaras em espaços fechados do campus universitário e também das unidades extra campus. A medida passou a valer na última quarta-feira (8) e foi recomendada pelo Comitê Emergencial para o Enfrentamento da Crise da COVID-19 e pelo Comitê do Plano de Retomada das Atividades Presenciais. A decisão está amparada no Artigo 9ºB da Resolução Consepe 042/2022, e foi oficializada por uma portaria a ser publicada no Diário Oficial do Estado na última quarta-feira.
"A decisão foi tomada após o crescimento do número de casos e de contaminações por covid-19, no estado da Bahia e no Brasil, e tem como princípio a manutenção de ações que visem o cuidado com a vida de quem compõe a comunidade universitária. Em tempo, a Administração Central lembra que a Instituição mantém vigilância epidemiológica constante para a detecção de qualquer caso suspeito de infecção pelo SARS-CoV-2 (vírus causador da COVID- 19) com a realização de exames, na Sala de Testagem (MT 62)", diz o comunicado da Uefs.
A universidade orientou ainda que as pessoas sintomáticas (sinais de gripe ou resfriado) ou potencialmente em contato com transmissores, devem se ausentar das atividades rotineiras e realizar teste para COVID-19. E para aqueles que ainda não completaram o esquema vacinal, fica o alerta de fazerem o quanto antes.
Sem dinheiro para o gás, baianos se arriscam usando álcool e lixo para cozinhar
A catadora de materiais recicláveis Lucileide Pereira nunca teve tanta dificuldade para pôr comida na mesa quanto nos quatro últimos meses. Moradora de um barraco na comunidade de Vila Vitória, em Fazenda Grande IV, tem utilizado álcool, galhos e até lixo, como restos de resíduos plásticos, para acender a lenha onde cozinha, do lado de fora da sua residência. Isso porque não tem mais dinheiro para custear o gás de cozinha.
O mais recente dos sucessivos aumentos no preço do GLP gerou um valor médio do botijão em Salvador e Região Metropolitana de R$ 122, de acordo com o Sindicato dos Revendedores de Gás. Na Bahia, o preço flutua e, em média, custa R$ 127.
No mesmo período, cresceu a quantidade de acidentes com queimaduras. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o número de queimados aumentou 18,75% na Bahia no primeiro trimestre de 2022 comparado ao mesmo período do ano anterior.
Enquanto em 2021 a quantidade de queimaduras registradas nos três primeiros meses do ano foi de 384, em 2022, o número saltou para 456. As queimaduras não são lesões de notificação obrigatória nos hospitais públicos da Bahia. Ainda de acordo com a secretaria, até março deste ano, 198 pessoas foram internadas no estado por conta de queimaduras.
Embora a Sesab não tenha informado as causas, um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) aponta a relação direta entre a incidência das queimaduras por líquidos inflamáveis, especialmente o álcool, e o preço do gás liquefeito de petróleo.
José Adorno, cirurgião plástico e presidente da associação, explica que a substituição do gás por essas substâncias é a responsável por grande parte dos acidentes domésticos, especialmente durante a pandemia. A flexibilização da venda da substância pela Anvisa e, consequentemente, o uso indiscriminado do álcool, apenas intensificaram a quantidade de casos.
"Em levantamento que fizemos de março e setembro de 2020, em publicação que será ainda lançada, verificamos que tivemos cerca 700 internações motivadas por álcool em todo o Brasil, e mais de metade dos casos foram acidentes domésticos. Então, a correlação de casos de queimadura acontece tanto com o uso maior do álcool, quanto com o aumento dos preços do gás", esclarece Adorno.
A SBQ foi fundada em 1995 e é uma entidade associativa que reúne multiprofissionais, e que promove campanhas de prevenção de acidentes.
Em 2017, também foi lançada pela SBQ uma pesquisa que aponta que, com o aumento do preço do GLP, também houve um aumento de mais de 366% das queimaduras por álcool entre janeiro e novembro de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016. O sexo feminino predomina entre as vítimas, e a faixa etária mais acometida é a dos adultos entre 18 e 59 anos. Nesse público, se encaixa não só Lucineide, como Jucelina e Jorgina, suas irmãs.
Em comum entre as três, além dos pais, está o fato de que lidam, todos os dias, com os riscos de queimaduras na cozinha. Jucelina, que usa álcool, carvão e lenha para cozinhar, já se queimou tantas vezes que não consegue contar.
“Minhas vistas doem muito, e sempre me queimo, mas não chegou a ser grave ao ponto de precisar de hospital”, diz.
Desempregada, está em busca de um emprego como faxineira, mas até trabalhos autônomos não estão fáceis de encontrar, explica.
Jorgina Pereira, por sua vez, não chegou a sofrer danos físicos, mas sua casa já. O teto do imóvel, onde mora com quatro crianças, pegou fogo. Embora ninguém tenha ficado ferido, ela não teve condições de deixar de cozinhar de formas alternativas. “É muito perigoso, mas às vezes tenho que usar para não deixar de cozinhar”, diz.
Ela ressalta, no entanto, que só largou o gás há dois meses, quando passou a cozinhar na lenha, com carvão e álcool. Irmã mais velha das três, Jorgina também atua como catadora de materiais recicláveis. “Com esse tempo chuvoso, ganho ainda menos, de R$ 15 a R$ 20 no dia, e vivo da renda do Bolsa Família [Auxílio Brasil]. Com o auxílio, às vezes, não consigo comprar o gás, embora já me ajude muito”, relata.
O mesmo acontece com Lucileide, que tem dois filhos, de 9 e 11 anos. Utiliza um facão para cortar a lenha, que encontra em matos próximos de casa. Para acender o fogo, usa desde sacos plásticos até garrafas de água sanitária. Quando o fogo acende, coloca uma panela em cima, para que ele se mantenha. E guarda as comidas todas na geladeira, rezando para que não chova de novo. Assim tem vivido há quatro meses, quando as dificuldades se intensificaram.
"Quando consigo um trabalho, é para comprar alimentação para casa, um feijão, um arroz, que agora tá até caro demais. Pior é quando chove, que preciso deixar estiar para fazer alguma coisa, já que a lenha fica molhada, e aí nem consigo acender o fogo", lamenta.
Política de preços internacional
O aumento do preço do gás de cozinha está diretamente ligado ao acréscimo de preço do barril de petróleo na cotação internacional, como explica o economista e integrante do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Alex Gama.
Tanto a Petrobras, como a Acelen, empresa privada que controla a Refinaria de Mataripe desde dezembro de 2021, utilizam a política de Preço de Paridade Internacional (PPI). Esse formato considera o preço dos combustíveis praticado no mercado externo.
"A política das empresas é que haja um reajuste toda vez que ocorra desvalorização do câmbio e aumento do preço do barril. O preço do gás de cozinha, em cerca de R$ 120, representa quase 10% do salário mínimo, o que pesa bastante na cesta de consumo das famílias", diz o economista.
Para Gama, a principal causa do aumento do preço do petróleo no exterior ainda é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que reduziu a oferta do gás no mercado europeu. O confronto já se desenrola há mais de 100 dias.
O aumento dos preços, no entanto, é anterior à pandemia. Em março de 2020, o preço do botijão de gás na Bahia custava cerca de R$ 65, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em novembro do ano passado, o produto já era encontrado por R$ 95 no estado.
"Antes da pandemia, o gás de 13 quilos custava aproximadamente 5,8% do salário mínimo. Após a pandemia passou para 7,3% do salário. Hoje essa relação já passa de 8%. Em resumo: o baiano está tendo que se virar nos trinta para comprar", diz o também economista Cleiton Silva.
A desvalorização que a moeda brasileira sofre desde 2020 também explica os aumentos progressivos de preço.
Há formas alternativas e seguras de cozinhar?
De acordo com o major bombeiro militar Leandro Vialto, é possível cozinhar de forma segura sem a utilização de substâncias inflamáveis, desde que sejam usados equipamentos especificamente desenvolvidos para a tarefa, como panela, fornos e fritadeiras elétricas, fogão e forno à lenha ou churrasqueira.
"Líquidos inflamáveis são muito voláteis, o que significa, a grosso modo, que geram uma nuvem inflamável ao seu redor. No momento de tentar acender o fogo, há o risco de ter uma explosão dessa nuvem, gerando queimaduras e até mesmo espalhando o combustível em lugares que não se pretendia, começando, assim, um incêndio", explica.
Em casos como esses, Vialto reforça que, se as chamas de fato se espalharem no caso do uso de um combustível líquido, a chance de apagar só existe se a quantidade de combustível for pequena. O tamanho de um copo, por exemplo. Para isso, a pessoa deve jogar bastante água de forma pulverizada. Se a ação não estiver resolvendo, o recomendado é evacuar o local e ligar para o telefone 193.
Ele também ressalta as situações em que nunca se deve jogar água. É o caso de uma panela em óleo conversível, como óleo de soja, por exemplo. "A água vira vapor ao entrar em contato com o óleo e empurra o óleo para o alto, formando uma nuvem combustível que pega fogo rapidamente e com muita energia, causando um incêndio e grandes queimaduras na pessoa que tentou jogar a água", alerta.
Por isso, o recomendado é simplesmente apagar o fogão abaixo da panela e tampá-la, ou utilizar um pano de algodão molhado para cobrir. Sem o contato com o oxigênio, o fogo apaga. A panela deve ser destampada apenas depois de 10 minutos.
Como proceder em casos de ferimentos
A médica dermatologista Camila Ribeiro chama atenção para que as vítimas de queimaduras não apelem para cuidados caseiros, especialmente se a lesão for de segundo grau. Diferentemente das lesões de primeiro grau, as de segundo contém o aparecimento de bolhas no local. "As pessoas às vezes colocam manteiga, pó de café, clara de ovo, o que não deve ser feito", aponta.
A recomendação é resfriar o local machucado com água corrente fria ou um pano limpo úmido. O uso de gelo deve ser evitado porque tem efeito de queimadura. "Em todos os casos de queimaduras mais profundas, em que haja formação de bolhas, acometimento extenso ou de áreas sensíveis, o paciente deve sempre procurar o pronto atendimento", indica a médica. As bolhas nunca devem ser estouradas em casa porque há risco de infecção.
As queimaduras são divididas em três tipos. Nas de primeiro grau, menos graves, não ocorre o aparecimento de bolhas, pois apenas a camada mais superficial da pele é atingida. No caso das medianas, de segundo grau, além de afetar a epiderme, parte da derme é acometida, por isso são mais profundas. As mais graves, de terceiro grau, prejudicam músculos e ossos.
"A queimadura de terceiro grau é gravíssima, geralmente o paciente interna, vai para a UTI, e há chances de óbito. Elas não são tão frequentes e costumam precisar de cirurgia", explica Camila Ribeiro.
Procurada, a Sesab informou que qualquer Unidade de Pronto Atendimento pode fazer o atendimento inicial. Se o caso for mais grave, o paciente é encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), referência nesse tipo de tratamento.
Auxílio Gás
Há ainda a possibilidade da inscrição no programa Auxílio Gás, promovido pelo Governo Federal, que paga um valor equivalente a 50% do valor médio do botijão de 13 kg. A Caixa Econômica Federal pagará o benefício em conjunto com o Auxílio Brasil, entre os dias 17 e 30 de junho. O Ministério da Cidadania ainda não informou quanto cada família receberá neste mês.
São elegíveis ao Programa Auxílio Gás dos Brasileiros todas as famílias inscritas no CadÚnico, com renda familiar mensal menor ou igual a meio salário-mínimo por pessoa, inclusive as famílias que recebem benefícios de programas do governo. Além disso, podem requerer famílias que tenham alguma pessoa que mora na mesma casa, que recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC) da assistência social, inscritas ou não no CadÚnico.
Grupos familiares com mulheres vítimas de violência doméstica que estejam sob o monitoramento de medidas protetivas de urgência terão preferência na concessão do benefício.
Para receber o auxílio, é necessário fazer um registro no aplicativo Caixa Tem, por onde é realizado o repasse do benefício. Ainda é possível movimentar e utilizar o auxílio para realizar pagamentos de contas e compras com os benefícios do governo, com um cartão de débito virtual.
Caso tenha dúvidas em relação a ter direito ou não ao benefício, entre em contato com o Canal de Atendimento ao Cidadão, através do número 111.
Oito ararinhas-azuis são soltas na Bahia 20 anos após extinção
Oito ararinhas-azuis foram soltas no sábado (11), em Curaçá, no norte do estado. As cinco fêmeas e três machos estavam em um viveiro e voaram pela primeira vez pela Caatinga brasileira. Mais 12 ararinhas-azuis serão soltas neste ano como parte do “Plano de Ação da Ararinha-azul”, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) em Berlim, na Alemanha. O objetivo é aumentar a população em cativeiro, restaurar seu habitat natural e reintroduzir a espécie, extinta há 20 anos, na natureza.
O coordenador do Plano, Antonio Eduardo Barbosa, explicou que esse primeiro grupo de oito aves foi escolhido entre os mais aptos a sobreviver na natureza. “São animais sadios, que têm musculatura de voo, que interagem e que não apresentam comportamento agonístico, isto é, que não brigam com outro. São os animais mais aptos para a soltura.”
As ararinhas-azuis foram soltas com oito araras-maracanã, espécie com quem dividia o habitat natural e que tem hábitos semelhantes aos seus. Nos últimos dois anos, as ararinhas passaram por adaptação em um viveiro instalado em Curaçá e que envolveu a redução do contato com humanos, o convívio com araras-maracanã, o treinamento do voo, o reconhecimento de predadores e a oferta de alimentos que serão encontrados na natureza.
Para esse projeto de reintrodução, foram criadas, em 2018, duas áreas de preservação em Curaçá e Juazeiro: a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ararinha-Azul e o Refúgio da Vida Silvestre (Revis) da Ararinha-Azul. “Foi uma soltura branda, como chamamos. A gente abre o recinto, mas quer que as aves permaneçam ali. Será ofertada alimentação suplementar durante um ano, para que elas ainda visitem o recinto. Nessa fase experimental, queremos conhecer a dinâmica que as aves vão apresentar”, afirmou Barbosa.