O prefeito de Salvador, Bruno Reis, disse na noite desta quinta-feira (14) que vai anunciar em breve a implantação da Arena Multiuso, equipamento que terá capacidade para cerca de 16 mil pessoas e será instalado na orla da Boca do Rio. Durante entrega de uma praça em Jardim Armação, o prefeito destacou que a cidade precisa de um equipamento desta magnitude.

“A arena vai ser climatizada, vai receber shows, terá camarotes, com capacidade para 12 mil pessoas sentadas, em pé pode chegar a 16 mil. Vai ser um grande equipamento. Nossa expectativa é soltar a licitação ainda neste mês de agosto”, destacou o prefeito.

Segundo ele, desde a desativação do Balbininho, Salvador tem necessidade de uma arena multiuso. “Será um ginásio multiuso que vai ficar ali ao lado do Centro de Convenções. Um equipamento que vai se comunicar com o Centro de Convenções, com o Parque dos Ventos e com a Arena Daniela Mercury. Um ginásio importante para nossa cidade, que carece de um equipamento dessa magnitude, e que nós vamos ter”, disse.

Com ou sem Carnaval, a população da Barra está dividida sobre a mudança do circuito para a orla da Boca do Rio. Após o anúncio da possibilidade de transferência, a Associação de Moradores da Barra (Amabarra) solicitou uma reunião com o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), para tratar do tema que pegou todos de surpresa. O encontro, que aconteceu na manhã de segunda-feira (4), também contou com a presença de comerciantes e empresários da região.

Para Waltson Campos, diretor de comunicação e relações públicas da Amabarra, essa é uma solicitação antiga dos moradores, incentivada pelos problemas percebidos por essa população durante os dias de folia, como mobilidade, poluição e violência. Adversidades que, segundo o diretor, o bairro não comporta mais.

“Há cinco ou seis anos vínhamos pleiteando este espaço dentro do Comcar, para que pudéssemos começar a falar o que pensamos como moradores. Nós não concordamos com esse modelo de trios e camarotes, porque ele cresceu muito. Temos em um bairro pequeno, que recebe uma concentração de grandes quantidades de pessoas e que não tem mais estrutura para isso”, diz o diretor da Amabarra.

Sônia Garrido, de 65 anos, é uma das moradoras da Barra que concorda com a mudança da festa para a Boca do Rio pelos mesmos motivos apontados pelo representante da Amabarra, além da falta de espaços de suporte para os ambulantes que passam os sete dias de Carnaval alocados no circuito. Na reunião, sua principal queixa foi o excesso da valorização do lucro, pelos empresários.

“Vimos muita gente falando da sua própria expectativa em termos do dinheiro que vai ganhar ou perder, deixando de lado o aspecto de funcionalidade do carnaval no bairro. O Carnaval não precisa deixar de existir. O que não pode acontecer é parar o local completamente, gerando um volume absurdo de lixo, para que uma festa se instale e paralise a praia”, opina Sônia.

Como criador do circuito Habeas Copos e representante da Associação Carnavalesca das Entidades sobre Percussão (ACESP), Sérgio Bezerra afirma que a mudança visa manter, na Barra, um Carnaval que seja suportado pelo espaço, ao mesmo tempo que poderá descentralizar a festa.

“Eu acho que é a oportunidade de descentralizar o Carnaval e contemplar a cidade toda. Para que não se crie mais um circuito como o que temos hoje, desconfortável para o carnavalesco, moradores e para o policiamento, que hoje já não consegue ter a mesma atuação que tinha antigamente”, destaca Bezerra.

Contra a mudança

Quando souberam que a Barra poderia deixar de ser o circuito principal do Carnaval, os empresários da região formaram o grupo SOS Carnaval Barra-Ondina, para tentar impedir a mudança. Criado há quase um mês, tem 177 membros. Um deles é Mauricio Mordechai, 47, dono de uma agência de turismo e morador do local. Para ele, além da perda de capital para os comerciantes, a mudança gerará uma perda de identidade para a festa.

“Se falou na reunião que não tem como resolver o problema porque tem muita gente aglomerada na Barra. É uma mentira, porque não foi feito tudo. O que existe hoje é uma aglomeração de trios elétricos, que saem colados um no outro. É preciso fazer o espaçamento desses trios. O Carnaval no exterior é muito vinculado ao Farol. Se você tira isso, o estrangeiro simplesmente não vem para essa parte da cidade”, afirma o empresário.

Ao seu lado está a proprietária de duas pousadas na região, Ajulimar Marchionne, 31. A empresária questiona os benefícios de uma mudança durante a pandemia da Covid-19, em que muitos comerciantes perderam suas rendas ou esperam pelo Carnaval para tentar recuperá-las.

“A mudança vai ser uma tragédia para as empresas. Uma pousada como a minha consegue sobreviver o ano inteiro só com o Carnaval. Na Boca do Rio não tem estrutura para receber a festa. Vai ser uma incógnita muito grande. Depois de uma pandemia, esse é o momento? Está todo mundo se recuperando desses tempos catastróficos", lamenta Ajulimar.

Mudança
Diante da divisão de opiniões entre as comunidades que moram e trabalham na Barra, o presidente do Comcar, Joaquim Nery, afirma que a decisão deverá ser anunciada oficialmente até o mês de agosto. O veredito depende da realização de estudos com a participação dos órgãos que atuam nos dias de folia, como Secretária Municipal de Saúde (SMS), a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador).

“Já houve reuniões com essa turma. Eles estão preocupados com o tempo. Mas o que eu acho que a gente tira disso tudo é a necessidade de uma mudança no Carnaval da Bahia. Se essa inovação não vier para 2023, que seja planejada com antecedência para 2024, porque isso vai ter que acontecer. Até agosto estaremos discutindo junto com a Prefeitura”, explica o presidente do Comcar.

Ao comentar sobre a possível mudança, o prefeito Bruno Reis, confirmou a previsão do Comcar e destacou a parceria com o órgão para a execução do projeto, que ainda está em fase de elaboração pelos empresários que trabalham na festa. "A previsão é de que seja encaminhado em agosto. O projeto está sendo elaborado a partir de uma grande intervenção que vamos fazer em Pituaçu. À medida que for aprovado pelo Comcar, a prefeitura vai analisar e emitir uma opinião", explicou.

Ainda segundo Nery, a mudança não pretende prejudicar o Carnaval do Centro Histórico, já que o planejamento do novo circuito tem sido pensado junto com a revitalização dessa região.

Como um dos órgãos e secretarias envolvidas na definição, a Transalvador informou que ainda não há informações para um projeto que está no início das discussões. Em nota, a PM-BA, ressaltou que seguirá atuando em eventos de grande porte, a exemplo do Carnaval de Salvador, mas não comentou sobre a mudança. Já a SMS esclareceu que no momento não está envolvida na discussão sobre a troca do circuito do Carnaval.

Dois homens foram mortos e outras três pessoas ficaram feridas em um ataque a tiros na Boca do Rio na noite do domingo (11). O crime aconteceu na Rua João Carlos Sacramento. Vivaldo José dos Santos Neto, 23 anos, morreu no local. Já Marcelo Nascimento, 45 anos, chegou a ser socorrido com vida, mas morreu na manhã desta segunda.

Segundo relatos de testemunhas, o grupo de amigos e vizinhos estava na porta da casa de um deles, bebendo e conversando. Como vivem todos na mesma rua, eles tinham o costume de colocar uma mesa com cadeiras na calçada para bater papo todo domingo. Por volta das 20h30, uma moto e um carro Sandero, de cor escura, se aproximaram do local. Os bandidos desceram e assaltaram os moradores. Sete celulares foram levados.

Depois do roubo, eles começaram a fazer disparos aleatórios, voltaram para os veículos e fugiram. Cinco pessoas foram baleadas. Além de Vivaldo e Marcelo, foram feridos Maurício Jesus Dias dos Santos, 18 anos, Cleilane dos Reis Sousa, 23 anos e Edilson Vitorio, 22 anos. Cleilane, que levou um tiro pé, já recebeu alta. O grupo foi socorrido primeiro para emergência do Marback e depois para o Hospital Geral do Estado (HGE), com exceção de Edilson, que está no Hospital da Bahia.

Vizinhos contam que o grupo era trabalhador e aproveitava o domingo para relaxar. Vivaldo era casado e deixa filhas de 5 e 2 anos. Marcelo era casado com uma tia de Vivaldo e deixa também um filho de 2 anos.

Moradores da região fizeram um protesto na manhã desta segunda, usando objetos queimados para fechar a rua. O Corpo de Bombeiros foi acionado e conteve as chamas. Com apoio da Polícia Militar, o tráfego foi novamente liberado.

Uma equipe da 39ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) foi acionada ontem à noite, segundo a PM, com a informação do crime. A equipe foi até a unidade do Marback para averiguar a situação e depois fez buscas na região para tentar localizar os suspeitos, sem sucesso.

O caso será investigado pelo 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Guias foram emitidas para perícia no local do crime, segundo a Polícia Civil. Autoria e motivação são apuradas.

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