O Jornal da Cidade

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Toda vez que sai de casa, no bairro da Liberdade, para trabalhar na Vasco da Gama, o segurança Márcio Sousa, 39 anos, faz o percurso de carro. Há dois meses, ele gastava R$ 450 de combustível para cumprir suas obrigações com o automóvel no mês. Agora, em agosto, prevê um gasto de R$ 300. Uma redução de 33% no orçamento que acompanha a queda no preço da gasolina na Bahia.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em dois meses, o valor do combustível caiu 30%. No fim de junho, o litro saía da bomba por uma média de R$ 8,04. Na última semana computada pela agência, de 14 a 20 de agosto, o valor médio cobrado pelo item era de R$ 5,62.

Nesta semana, o preço voltou a diminuir e, agora, a gasolina já sai por R$ 5,34. Em 10 postos de combustíveis onde a reportagem passou na capital baiana, os preços mais altos chegaram a R$ 5,39 em três dos pesquisados. Todos outros cobravam a média.

Os valores têm agradado consumidores, mas estão atrás de boa parte das capitais do país, se comparados ao último levantamento de preços divulgado pela ANP, que cobria os preços até 20 de agosto. Isso porque Salvador (R$ 5,58) só tinha a gasolina mais barata que Rio Branco (R$ 5,76), Manaus (R$ 5,59) e Boa Vista (R$ 5,85). No cenário estadual, não é diferente. A Bahia (R$ 5,62) só cobrava menos que Acre (R$ 5,89), Amazonas (R$ 5,63), Roraima (R$ 5,85) e Tocantins (R$ 5,73).

Procurada para falar sobre a política de preços do estado, a Acelen, que gerencia a Refinaria de Mataripe, informou que os valores praticados para as distribuidoras seguem critérios de mercado, levando em consideração variáveis como custo do petróleo, adquirido a preços internacionais, dólar e frete.

Alívio para o bolso

Se a tendência seguir no último levantamento de agosto, mesmo cobrando R$ 5,34 pelo litro, Bahia e Salvador continuam figurando entre os preços mais altos entre estados e capitais. Para Márcio, no entanto, isso não impede que o valor já represente um alívio no bolso. “Tenho dois filhos e esses R$ 150 a menos no preço fazem muita diferença. Isso já paga uma conta de água e de luz. [...] Agora, com mais folga, dá até para pensar em voltar a utilizar o carro para coisas além das obrigações. Ir na praia, passear ou até viajar para um lugar como o Projeto Tamar com as crianças fica mais possível”, afirma o segurança.

César Pestana, 43, é farmacêutico e também tem a Vasco da Gama como destino diário para trabalhar. Morador do bairro da Federação, ele também arca com R$ 300 mensais de combustível. A redução do valor do combustível significa uma folga para pagar o que está mais caro. “Gastava R$ 500 e agora pago R$ 300 por mês, uma diferença que tem muito impacto nas contas. Emprego esse dinheiro, principalmente, na comida, que está mais cara. A gente tira de um para colocar no outro que está exigindo mais dinheiro”, brinca César.

Para o moto-taxista Juracir Bispo, 57, os dois últimos meses também são de alívio. Em junho, ele conta que gastava R$ 120 para encher um tanque que durava uma semana. Agora, paga R$ 70. “Como eu não rodo muito e uso as corridas de moto para completar minha renda, só encho o tanque uma vez por semana. Porém, já é uma folga boa porque economizar R$ 50 na semana em relação a tão pouco tempo é o que eu não esperava quando o assunto é gasolina. Vem em boa hora”, diz o moto-taxista.

Imposto, petróleo e câmbio

A queda nos valores em âmbito estadual e nacional não acontece do nada. Economista da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA), Guilherme Dietze explica que a redução está atrelada a três fatores: redução do imposto sobre o combustível aprovada em congresso nacional, o valor do barril de petróleo e o câmbio.

“O preço do petróleo no mercado internacional e o câmbio são dois fatores que influenciam demais e ambos têm baixado. O barril de petróleo, que chegou na casa dos U$ 120, está abaixo de U$ 90. A partir disso, é possível reduzir, gradativamente, o preço na refinaria. E o câmbio, que estava em U$ 5,40, agora oscila na casa dos U$ 5,10, sem pressionar tanto”, pontua o economista.

Também economista, Raimundo Sousa esclarece o papel da redução do teto do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - que saiu de 24% para 17% - nessa conta que termina com o preço mais baixo na bomba.

“Houve uma redução da alíquota do ICMS, cobrado pelos estados sobre mercadorias e serviços, o que impactou bastante. [...] Há uma relação direta entre a redução e os impostos, mas não são os únicos itens que vão impactar. A cotação do mercado internacional e a margem de lucro na formação de preços são outros fatores”.

A influência de múltiplos fatores é evidenciada na diferença da curva de preço entre a gasolina e o diesel, que têm o barril de petróleo como origem. Mesmo tendo uma matéria-prima comum, um tem descido de valor enquanto outro não, como analisa Marcelo Travassos, secretário executivo do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia).

“Os países da Europa têm no gás natural o seu insumo mais importante para a formação de energia. Como a Rússia é o maior fornecedor de gás para a Europa, os países buscam a alternativa na termoelétrica, que funciona a gás ou diesel. [...] Se está faltando gás, todo mundo vai atrás do diesel, que ascende”, elucida Travassos.

Redução vai continuar?

Quando o assunto é gasolina, apesar de comemorar o preço mais baixo, o consumidor também se pergunta se a tendência é isso continuar. O Sindicombustíveis Bahia não faz previsões, mas ressalta que a expectativa do setor é que o preço siga caindo. Para os revendedores, só preços baixos impactam no volume de vendas, de onde se tira o lucro no setor. O sindicato, porém, não tem números referentes ao aumento nas vendas nos últimos meses.

Já o economista Guilherme Dietze aponta para prováveis reduções na gasolina, mesmo que elas não aconteçam na mesma proporção dos últimos dois meses.

“A gasolina tem uma tendência de redução. No entanto, o grande impacto já aconteceu por conta da medida do ICMS. O barril de petróleo e o câmbio, claro, estão ajudando. Porém, para pensar em R$ 4 ou R$ 3 por litro, precisaria haver uma redução de dólar para baixo de R$ 4 e o barril por U$ 40. É outro cenário que a gente não vê num curto ou médio prazo”, afirma.

Raimundo Sousa adiciona outro fator na equação ao responder se os preços na bomba podem seguir em uma tendência de redução. “A continuidade da queda de preço vai depender desses fatores já citados. No entanto, depende também da oferta do produto se houver uma redução de demanda. Para além disso, a margem de lucro praticadas por quem vende a gasolina”, finaliza.

Às 7h de hoje (26), as rádios brasileiras iniciam a transmissão do primeiro bloco do horário eleitoral obrigatório para o primeiro turno das eleições de outubro. As transmissões, que permanecem no ar até o dia 29 de setembro, acontecem em dois blocos de 25 minutos cada, pela manhã e pela tarde – sempre das 7h às 7h25 e das 12h às 12h25. Na TV, as inserções acontecem das 13h às 13h25 e das 20h30 às 20h55.

Às segundas, quartas e sextas serão exibidas as propagandas dos candidatos aos governos dos estados e do Distrito Federal, ao Senado e às Assembleias Legislativas. E às terças, quintas e sábados vão ao ar os programas dos candidatos à Presidência e à Câmara dos Deputados. Ao longo do dia também haverá inserções de 30 e 60 segundos, totalizando 14 minutos na grade das emissoras. Aos domingos não há exibição.

Na Bahia, o primeiro a aparecer para os eleitores é o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), que lidera a coligação “Pra Mudar a Bahia”. O grupo tem 6 minutos e 31 segundos, o maior entre as coligações em disputa no estado. Depois é a vez de Jerônimo Rodrigues (PT), da coligação “Pela Bahia, Pelo Brasil”, que tem 5 minutos e 7 segundos a cada bloco.

Na sequência estão João Roma (PL), da coligação “Bahia de Mãos Dadas com o Brasil”, que dispõe de 1 minuto e 41 segundos, e Kleber Rosa, que tem 38 segundos para mostrar as propostas da coligação “Agora é a Vez do Povo”.

A ordem de aparição e o tempo dos candidatos foram definidos em audiência pública na sede do Tribunal Regional Eleitora (TER-BA). A ordem do sorteio vale ainda para as inserções dos candidatos ao Senado e da campanha proporcional – deputados estaduais/distritais e federais.

Informações úteis:

Período
Começa sexta-feira (26) e segue até o dia 29 de setembro. Em caso de segundo turno, recomeça em 7 de outubro e segue até o dia 28 do mesmo mês, dois dias antes do pleito.

Horários
No rádio das 7h às 7h25 e das 12h às 12h25; na TV das 13h às 13h25 e das 20h30 às 20h55.

Distribuição
Nas terças, quintas e sábados vão ao ar os programas dos candidatos à Presidência e à Câmara dos Deputados. Nas segundas, quartas e sextas serão exibidas as propagandas dos candidatos aos governos dos estados e do Distrito Federal, ao Senado e às Assembleias Legislativas.

Ordem de inserção na Bahia:
1º - Pra Mudar a Bahia – ACM Neto (União Brasil)
2º - Pela Bahia, Pelo Brasil – Jerônimo Rodrigues (PT)
3º - Bahia de Mãos Dadas com o Brasil – João Roma (PL)
4º - Agora é a Vez do Povo – Kleber Rosa (PSOL)

Ordem e tempo de inserção dos presidenciáveis:
1º - Roberto Jefferson (PTB) - 25 segundos
2º - Soraya Thronicke (União Brasil) - 2 minutos e 10 segundos
3º - Felipe d'Ávila (Novo) - 22 segundos
4º - Coligação Brasil da Esperança – Lula (PT) - 3 minutos e 39 segundos
5º - Coligação Brasil Para Todos - Simone Tebet (MDB) - 2 minutos e 20 segundos
6º - Coligação Pelo Bem do Brasil - Jair Bolsonaro (PL) - 2 minutos e 38 segundos
7º - Ciro Gomes (PDT) - 52 segundos

Data das eleições:
1ª turno: 2 de outubro
2º turno (se houver): 30 de outubro

A CBF irá propor aos clubes das quatro divisões nacionais que casos de racismo sejam punidos com a perda de pontos a partir do próximo ano. A proposta será apresentada nesta quarta-feira (24), durante o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, que acontecerá na sede da entidade, no Rio de Janeiro.

A proposta será apresentada pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, em um de seus discursos no evento - ele irá falar na abertura e no encerramento do seminário. Para a medida passar a valer, contudo, será necessária a aprovação dos clubes nos congressos técnicos que antecedem as competições.

Os congressos técnicos são realizados semanas antes do início do Brasileirão com representantes de todos os clubes que integram cada uma das divisões. São através deles, por exemplo, que os clubes aprovam ou não o uso do VAR ou a permissão para mandar jogos em outras praças que não sejam seus próprios estádios. Se houver a aprovação da maioria, a determinação é incluída no Regulamento Específico da competição.

"Eu defendo que as punições têm de ser desportivas. As multas, muitas vezes, são derrubadas ou diminuídas", disse Ednaldo Rodrigues em entrevista à TV Globo. "Administrativamente, no dia seguinte que qualquer ação dessas acontecesse, a CBF ou qualquer outra entidade que administra o futebol poderia tirar os pontos do clube".

O Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol contará com a presença do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, de representantes da Fifa, do Observatório da Discriminação Racial do Futebol e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs, entre outros. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), também confirmou presença. O cantor Gilberto Gil é convidado de honra.

Em audiência pública realizada nesta terça-feira (22) na Câmara Municipal de Salvador, foliões, associações carnavalescas e moradores da Barra se reuniram para pedir que a decisão do Prefeito Bruno Reis em manter o Carnaval de Salvador no circuito tradicional seja vitalícia. Categoria alega que recursos que seriam utilizados para transformar a Boca do Rio em um novo circuito sejam utilizados para melhorias no circuito Osmar, no Campo Grande; Dodô, na Barra-Ondina; e Batatinha, no centro histórico-Pelourinho.

O vereador Silvio Humberto foi o responsável pela audiência. Segundo ele, as pautas serão levadas para sessão na Câmara e posteriormente para o Conselho do Carnaval (Comcar) e para a Empresa Salvador de Turismo (Saltur), que foram chamados para a reunião, mas não compareceram.

"Queremos que o carnaval seja feito com trios elétricos de forma vitalícia nos circuitos tradicionais e que seja feita uma revitalização nesses espaços. Ao invés de fazer algum circuito na Boca do Rio, queremos que seja feito um projeto de reestruturação do carnaval no nosso Centro", disse Camila Barbosa, integrante do movimento SOS Carnaval Salvador.

Ao anunciar o carnaval no circuito tradicional em 2023, Bruno Reis lembrou que no próximo ano haverá uma nova configuração do Comcar e que essa pauta pode voltar a discussão. “Esse novo circuito vai surgir a partir da nova orla que vamos construir na Boca do Rio, obra que homologamos hoje. A partir daí o segmento que realiza o carnaval pode fazer essa discussão ao longo de 2023”, afirmou.

Questionado se o posicionamento de artistas contrários a mudança influenciou na decisão, Bruno disse que “a opinião de todos contribuiu, mas a principal motivação é a falta de tempo tendo em vista que já está em curso a comercialização dos produtos, como blocos e camarotes”. O gestor prometeu mais investimentos para fortalecer os circuitos Osmar (Campo Grande), Batatinha (Centro Histórico) e o carnaval nos bairros.

Desde 2017 a funcionária pública Jucimeire Santana, 51, não vai à praia, pisa na areia ou chega perto de uma lancha. Moradora do município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, ela é uma das sobreviventes do acidente com a lancha Cavalo Marinho I, que adernou quando fazia a travessia Salvador - Mar Grande com 116 passageiros e quatro tripulantes a bordo. Ao todo, 19 pessoas morreram na tragédia e 54 sofreram lesões e ferimentos. Após cinco anos, familiares dos mortos e quem escapou da tragédia ainda buscam justiça.

Representante, entre 2017 e 2018, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no caso, Mateus Nogueira explica que três tipos de representações judiciais se desenrolaram desde então, sendo que em apenas uma houve encerramento do caso. Um dos processos abertos é no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), a partir do qual a vítima ou familiares constituíram advogados particulares ou via Defensoria Pública contra a empresa, solicitando indenização.

“Nem o luto a gente teve tempo de passar naquele momento, porque precisava resolver todas essas questões de sepultamento, pagamento. Em momento algum a empresa se disponibilizou e nem custeou nada”, afirma Aline Souza, que perdeu o pai no naufrágio.

Do mesmo modo, não houve sentença na esfera criminal, repartição do Ministério Público da Bahia (MP-BA) que envolve prisão, prestação de serviço e pagamento de cesta básica, por exemplo. O MP-BA salientou que ofereceu denúncia, ainda em 2017, contra o marinheiro Osvaldo Coelho Barreto, comandante da embarcação na época, e o empresário Lívio Garcia Galvão Júnior, dono da CL Empreendimentos, empresa responsável pela lancha. As alegações finais já foram dadas e a Justiça aguarda apenas a sentença do juiz.

“Eles foram denunciados por homicídio culposo e lesão culposa. Com base nos laudos periciais, a denúncia aponta que os dois agiram com imperícia e imprudência na condução da lancha Cavalo Marinho I, no dia 24 de agosto de 2017. O processo criminal se encontra concluso para decisão da Justiça”, ressalta o MP-BA.

“Tomo nove medicações, tomo medicação até para dormir. Não entro no mar, não atravesso lancha, não piso na areia. Mudou completamente a minha vida. Desenvolvi síndrome do pânico”, diz Jucimeire, a sobrevivente que abre essa reportagem.

Das três ações, segundo familiares, houve encerramento apenas na esfera marítima. Em nota, o Comando do 2° Distrito Naval da Marinha do Brasil confirmou que a ação envolvendo o acidente foi encerrada em junho de 2021. O Tribunal Marítimo, cuja função é apurar responsabilidades referentes ao acidente, cancelou o Certificado de Registro de Armador da CL Empreendimentos.

A corte ainda considerou que Lívio Garcia Galvão Júnior, dono da CL, e Henrique José Caribé Ribeiro, engenheiro da embarcação, tinham conhecimento dos riscos. Já Osvaldo Coelho Barreto, comandante da embarcação, foi absolvido.

A entidade destaca ações de prevenção em 2022. “No período entre os meses de maio e junho, antevendo as condições de mar características do inverno, foram intensificadas as vistorias das embarcações quanto à confiabilidade das estruturas e das instalações de máquinas. Também houve modificações nas especificações técnicas dos sistemas de ancoragem, de modo a tornar o conjunto mais resistente às condições de mar, durante o fundeio das embarcações”.

A reportagem entrou em contato com o TJ-BA solicitando informações sobre a tramitação dos processos, porém, não recebeu retorno.

Ondas maiores que o normal
Sobreviventes do caso apontam que a causa do acidente foi falta de manutenção na infraestrutura da lancha. Segundo eles, caso houvesse constante fiscalização da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) e correção dos responsáveis pela embarcação, as mortes poderiam ser evitadas.

Mas, para o advogado Leite Matos, representante de Osvaldo Coelho Barreto, a causa do acidente foi o clima atípico no dia. Ele assegura que surgiram ondas maiores que o normal em decorrência das condições climáticas e não houve falha humana. “Tem situações no mar que não se pode prever o dia que vai acontecer”, declara.

Enquanto isso, vítimas como Jucimeire aguardam indenização e punição aos acusados. Ela recorda que ficou internada durante sete dias por ter tido uma pneumonia após o episódio. “Foi um susto muito grande, eu estava na parte de cima quando de repente vi a lancha virar de 'bico'. Não podia fazer nada, as pessoas gritando, os botes estavam presos, foi um desespero. O dinheiro não vai pagar o que a gente passou, mas eles [acusados] têm que ser punidos”, diz.

A comerciante Alexandra Bonfim, 39, perdeu a irmã, Alessandra, 34, e teve que lidar, além do luto, com o auxílio na criação dos três sobrinhos. Na época, os filhos de Alessandra tinham 13 anos, 7 anos e, o mais novo, 1 ano e 3 meses. “A gente sente [a dor] até hoje. O caçula não lembra muito porque era muito pequeno, mas [para] os dois mais velhos foi um choque. O mais velho entrou em depressão imensa”.

A Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) tem 36 ações ajuizadas para garantir indenizações às vítimas da tragédia. A reportagem entrou em contato com a entidade, que falou da decisão do Tribunal Marítimo. “Na nossa avaliação, aquilo poderia ter sido evitado se a embarcação não tivesse saído por conta da condição climática. Afinal, se a condição não é favorável, não deveria ter saído naquele momento”, afirmou o defensor Gil Braga.

Segundo ele, são 36 ações acompanhadas pela Defensoria Pública, sendo uma em Salvador e as outras em Itaparica. A expectativa é que a sentença seja favorável às vítimas. “Em relação ao tempo, não conseguimos afirmar porque isso depende da produção de provas e o tempo do próprio Judiciário, que temos de respeitar. Não dá para afirmar que vai demorar um tempo xis, o que podemos dizer é que o que cabe à Defensoria Pública está sendo executado, como o cumprimento dos prazos e acompanhamentos dos familiares e atendimento das pessoas que procuram informações”, acrescenta Gil Braga.

A Agerba foi questionada sobre falta de fiscalização no caso da Cavalo Marinho I, mas não se posicionou e comunicou que “a restrição de navegação não compete à agência”. Já o advogado de Lívio Garcia Galvão Júnior, Manoel Pinto, informou que “acordos foram propostos em audiência, nos mesmos termos dos acordos precedentes que foram aceitos, homologados e pagos, mas alguns não foram aceitos, daí as ações passaram a correr normalmente”.

Familiares e sobreviventes fazem caminhada
Um ano após a tragédia da lancha Cavalo Marinho, parentes dos mortos no acidente e sobreviventes se reuniram em missa pelas 19 vidas perdidas em 2017. A partir de 2018, amigos e familiares ligados pela perda começaram a realizar uma caminhada anual pelo munícipio de Vera Cruz. Nesta quarta-feira (24), a partir das 8h, cerca de 50 pessoas devem sair com carro de som, balões e rosas brancas, relembrando entes queridos.

A biomédica Aline Souza, 38, perdeu o pai, Antônio Souza, 68, e se prepara para viajar até a cidade e participar da manifestação anual. “Estou saindo do meu trabalho, porque moro em Salvador, e voltando para a ilha para me juntar ao pessoal. Cinco anos e a gente não tem respostas, nem indenizações”, protesta.

Ela conta que estava trabalhando quando recebeu a notícia do acidente na travessia Mar Grande-Salvador, através de uma reportagem ao vivo na TV. No dia, o pai de Aline havia embarcado na lancha para buscar a esposa, com quem era casado há mais de 40 anos. Preocupada, Aline diz que recebeu orientação de ir ao Instituto Médico Legal. Ao chegar no local, reconheceu o corpo do pai.

“Foi tudo muito difícil. Ele residia em Vera Cruz há 5 anos, era aposentado, quando minha mãe se aposentou, resolveram comprar casa para poder veranear”, relembra. “Foi o pior dia da minha vida. Ainda fico muito chocada quando falo sobre isso, vem tudo na memória, tudo que vivi naquele dia”.

Parentes e sobreviventes criaram um grupo nas redes sociais para se atualizar sobre as decisões judiciais e não deixar no esquecimento o que aconteceu em 2017. Contudo, familiares ouvidos pela reportagem afirmam que têm visto o movimento esfriar. Após cinco anos sem resultado judicial, o caso já é visto com desesperança. Mas ainda existe a persistência:

“Vou continuar nessa busca incansavelmente até ter retorno do juiz, que [ele] possa concluir e nos dar paz”, pede Aline.

Relembre o caso
O caso da lancha Cavalo Marinho I foi a maior tragédia recente na Baía de Todos-os-Santos. O acidente aconteceu cerca de dez minutos depois de a embarcação, com 116 passageiros e quatro tripulantes, ter deixado o Terminal de Mar Grande, na Ilha de Itaparica. O acidente ocorreu por volta de 06h44, a cerca de 200 metros do Terminal Marítimo do município de Vera Cruz.

A embarcação foi atingida por três ondas. A primeira desviou o barco do rumo original, assim como a segunda. Já a terceira provocou inclinação em 90º [o barco adernou] e a consequente queda dos passageiros e tripulantes na água, com exceção dos que estavam no convés inferior, onde a água entrou pelas janelas e escadas de acesso, impossibilitando os passageiros de abandonarem o compartimento. Os sobreviventes que estavam no convés inferior conseguiram sair passando pelas janelas. A tripulação conta que aguardou socorro por 2 horas, à deriva.

A Marinha do Brasil (MB), Corpo de Bombeiros Militar, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Grupamento Aéreo da Polícia Militar da Bahia (Graer) foram acionados para resgatar os feridos.

O Ministério da Saúde pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) análise para liberar o uso da vacina Jynneos, que já tem sido usada em outros países contra a varíola dos macacos (monkeypox). O imunizante é fabricado pela empresa Bavarian Nordic, com sede na Dinamarca.

A solicitação da pasta para a liberação da vacina foi feita quatro dias depois de a agência decidir pela dispensa da obrigação de registro para importação de medicamentos e vacinas que previnem e tratam doença, em reunião extraordinária realizada na última sexta, 19. A decisão tem caráter temporário e foi tomada para tornar o processo de imunização da população no País mais ágil.

O processo de avaliação passará pela Comissão Técnica da Emergência Monkeypox criada pela Anvisa, e a decisão final caberá a Diretoria Colegiada da agência. Os diretores da entidade vão analisar se as características da vacina Jynneos são as mesmas aprovadas pelas autoridades sanitárias estrangeiras, que deram o aval para a aplicação do imunizante em outros países.

Até o momento, o Brasil contabiliza 3.896 casos confirmados de varíola dos macacos e uma morte. De acordo com o levantamento do Ministério da Saúde, o Estado que registrou mais diagnósticos para a doença foi São Paulo, com 2.528 casos, seguido de Rio de Janeiro (445), Minas Gerais (206) - onde foi notificado o único óbito -, Goiás (260) e Distrito Federal (156).

Os números colocam o Brasil como 3º país do mundo com mais casos registrados. Em 20 de julho, o Ministério da Saúde somava 449 pessoas infectadas. O balanço atual de 3.896 pacientes representa um aumento de 767,7% em um mês. Além disso, nas últimas semanas, o País teve a confirmação dos primeiros dois casos da monkeypox em bebês com menos de um ano. Sinal de que, além do crescimento de casos, há também a abrangência da faixa etária dos contaminados.

No mundo, o número de casos da monkeypox já ultrapassa os 41,5 mil diagnosticados, identificados em 96 países. O alto número de infectados tem levado ao aumento de demanda e, por consequência, da concorrência entre as nações para a aquisição da vacina e dos medicamentos que auxiliam no tratamento à doença, conforme declarou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, na última quarta-feira, 17.

Um levantamento realizado pela Empregos.com.br e a Senior Index revelou que a região Nordeste concentra 6,73% das ofertas de trabalho do país, com 10,3 mil oportunidades de trabalho. As carreiras com maior número de vagas são as de telemarketing (1 mil) e logística (591), seguidas por telecomunicação (527), comércio (524) e serviços (488).

Doutora em Economia e professora de Economia na Unijorge, Juliana Guedes defende que a retomada da oferta de emprego na região ocorre em função da mitigação da pandemia, o retorno das empresas na modalidade presencial ou híbrida de trabalho, a PEC dos benefícios, com estímulos fiscais e transferência de renda para alguns segmentos da população.

A professora Juliana Guedes destaca a posição da capital baiana na oferta de empregos no Nordeste e pontua como a retomada da economia foi fundamental (Foto: Divulgação)
Ela cita ainda o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que mostra que a capital baiana segue líder na geração de emprego no Nordeste, criando 3.821 postos com carteira assinada em junho. “No acumulado do ano, o saldo é positivo, com 22.752 empregos formais. No mesmo período do ano passado o saldo foi de 15.227 empregos formais. No ranking nacional, Salvador está em 7º lugar na criação de postos de trabalho”, complementa.

O diretor-geral do Empregos.com.br. Leonardo Casartelli salienta que, hoje, a taxa de desemprego encontra-se no menor patamar dos últimos seis anos (9,3%). “Um dos fatores primordiais para esse resultado tão positivo é a reabertura econômica. Muitas vezes, os empresários tiveram que alterar suas estratégias para enfrentar a pandemia e, em muitos casos, reduzir o quadro de funcionários para fechar as contas do mês. Com o reaquecimento e o aumento das vendas, houve a contratação do nível pré-pandemia”, analisa.

Postos de trabalho

Para reforçar sua afirmativa, Casartelli salienta que, no momento, a Bahia está com 5,8 mil vagas de emprego disponíveis no portal Empregos.com.br. Metade da oferta na região nordeste. “Os setores mais aquecidos são telemarketing (1 mil), logística (591), telecomunicação (527), comércio (524) e serviços (488)”, afirma o representante da plataforma.

A professora Juliana Guedes destaca que, no âmbito nacional, os cinco grandes grupamentos de atividades econômicas avaliados registraram saldos positivos em termos de criação de empregos formais, com destaque para o setor de serviços de 120.294 postos formais. “Já em Salvador, a construção civil foi o setor que mais contribuiu para o resultado positivo do primeiro semestre, com 7.411 vagas formais”, esclarece.

A Diretora Regional da LHH Nordeste Carla Verônica lembra que o segmento de produção, responsável por um grande volume de vagas de carteira assinada vem se recuperando gradativamente, visto que foi um dos que sofreu grande prejuízo no ápice da pandemia.

Oportunidades

Leonardo Casartelli acredita que os profissionais que procuram colocação ou recolocação encontrarão grandes oportunidades nesse momento, mas o candidato deve estar constantemente atualizado para garantir vagas disputadas. “É importante entender o que se está buscando e se está buscando um mercado adequado”, afirma, ressaltando que, hoje, as empresas não buscam trabalhadores apenas para realizar tarefas.

“Além das habilidades emocionais, como todos os colaboradores, profissionais da postura ativa e inteligência da comunicação, trabalham com eficiência em equipe e podem ajudar nos resultados da empresa”, diz o diretor.

Carla Verônica alerta para a importância do profissional fazer bom uso das redes sociais, a exemplo do Likendin, e se prepare para as entrevistas (Foto: Divulgação)
Carla Verônica ressalta a importância do profissional estar nas redes sociais, como por exemplo, o Linkedin, além de manter o perfil e currículo atualizados nos sites de recrutamento e seleção das empresas. “As empresas seguem esperando dos profissionais as competências técnicas para desempenho de sua função, mas desejam realmente que os mesmos demonstrem habilidades comportamentais compatíveis com o novo ambiente de trabalho”, diz. Para ela, o perfil que saiba conviver com o diferente, tenha capacidade de colaboração e protagonismo, comprometimento com o trabalho em equipe, mantendo sempre a curiosidade para novos aprendizados será sempre bem-vindo.

Para Juliana, também é importante se preparar para as entrevistas, utilizar networking, desenvolver novas habilidades, capacitação contínua e confiar no seu potencial, que são formas efetivas de potencializar as oportunidades na hora de buscar uma vaga no mercado de trabalho. “De uma forma geral, o perfil mais desejado é aquele que possui uma boa formação, capacidade de liderança, compatibilidade com os valores da companhia, visão estratégica de mercado, habilidade de relacionamento interpessoal, aberto a mudanças, criativo e proativo”, finaliza.

Números do crescimento

• Nordeste comporta 6,73% das vagas do país

• Salvador está em 7º lugar na criação de postos de trabalho

• A construção civil foi o setor que mais contribuiu para o resultado positivo do primeiro semestre, com 7.411 vagas formais

A Travessia Salvador-Mar Grande continua sem operar ainda nesta segunda-feira (22), por conta do mau tempo. Os fortes ventos e o mar agitado predominam na Baía de Todos-os-Santos, deixando as condições de navegação desfavoráveis para o tráfego seguro das embarcações. A Associação dos Transportadores Marítimos da Bahia (Astramab) informa que não existe, até o momento, previsão sobre a retomada das operações. A Travessia Salvador-Mar Grande está com o atendimento suspenso desde o último sábado (20). Ainda por conta do mau tempo, as escunas de turismo que fazem o Passeio às Ilhas da Baía de Todos-os-Santos também não operaram hoje.

Para aqueles que pretendem viajar para o Morro de São Paulo, a Astramab informa que, como já acontece desde sábado, as viagens continuam sendo feitas entre a capital e o Morro, nesta segunda-feira, com conexão na cidade de Itaparica, na Ilha de Itaparica, ou em Bom Despacho, neste caso através do Sistema Ferry-boat.

Com conexão em Itaparica, os catamarãs partem normalmente do Terminal Náutico, atracam no terminal marítimo de Itaparica, onde os passageiros seguem de ônibus dos operadores até a Ponta do Curral, em Valença, e fazem a pequena travessia em lanchas rápidas até o Morro.

Já com a conexão ocorrendo em Bom Despacho, os passageiros são transportados pelo Ferry-boat e fazem o mesmo roteiro em ônibus até a Ponta do Curral e daí até o Morro. O percurso da viagem, quando feita com conexão, dura 3h20 (uma hora a mais em relação à viagem direta). Os horários são, saindo de Salvador: 9h, 10h30, 13h e 15h. Do Morro de São Paulo, 9h, 11h30, 14h e 15h.

A Caixa Econômica Federal conclui o pagamento da parcela de agosto do Auxílio Brasil. Recebem nesta segunda-feira (22) os beneficiários com Número de Inscrição Social (NIS) de final 0.

Essa é a primeira parcela com o valor mínimo de R$ 600. Conforme emenda constitucional promulgada em julho pelo Congresso Nacional, o novo valor valor vigorará até dezembro.

A emenda constitucional também liberou a inclusão de 2,2 milhões de famílias no Auxílio Brasil. Com isso, o total de beneficiários atendidos pelo programa subiu para 20,2 milhões neste mês.

O beneficiário poderá consultar informações sobre datas de pagamento, valor do benefício e composição das parcelas em dois aplicativos: Auxílio Brasil, desenvolvido para o programa social, e Caixa Tem, usado para acompanhar as contas poupança digitais do banco.

Em janeiro, o valor mínimo do Auxílio Brasil voltará a R$ 400, a menos que nova proposta de emenda à Constituição seja aprovada. Tradicionalmente, as datas do Auxílio Brasil seguem o modelo do Bolsa Família, que pagava nos dez últimos dias úteis do mês. No entanto, portaria editada no início de agosto antecipou o pagamento da parcela deste mês para o período de 9 a 22.

Auxílio Gás
O Auxílio Gás também é pago hoje às famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com NIS final 0. Com valor de R$ 110 neste mês, o benefício segue o calendário do Auxílio Brasil.

Com duração prevista de cinco anos, o programa beneficiará 5,5 milhões de famílias até o fim de 2026. O benefício, que equivalia a 50% do preço médio do botijão de 13 quilos nos últimos seis meses, foi retomado em agosto com o valor de 100% do preço médio, o que equivale a R$ 110. Esse aumento vigorará até dezembro, conforme emenda constitucional promulgada pelo Congresso.

Pago a cada dois meses, o Auxílio Gás originalmente tinha orçamento de R$ 1,9 bilhão para este ano, mas a verba subiu para R$ 2,95 bilhões após a promulgação da emenda.

Só pode fazer parte do programa quem está incluído no CadÚnico e tenha pelo menos um membro da família que receba o Benefício de Prestação Continuada (BPC). A lei que criou o programa definiu que a mulher responsável pela família terá preferência, assim como mulheres vítimas de violência doméstica.

Benefícios básicos
O Auxílio Brasil tem três benefícios básicos e seis suplementares, que podem ser adicionados caso o beneficiário consiga emprego ou tenha filho que se destaque em competições esportivas, científicas ou acadêmicas.

Podem receber os benefícios extras as famílias com renda per capita de até R$ 100, consideradas em situação de extrema pobreza, e até R$ 200, em condição de pobreza.

A Agência Brasil elaborou guia de perguntas e respostas sobre o Auxílio Brasil. Entre as dúvidas que o beneficiário pode tirar estão os critérios para integrar o programa social, os nove tipos diferentes de benefícios e o que aconteceu com o Bolsa Família e o auxílio emergencial, que vigoraram até outubro do ano passado.

O Censo Demográfico do IBGE de 2022 mal começou e os recenseadores, responsáveis por obter os dados dos cidadãos em entrevistas por toda a Bahia, já relatam problemas. Desde o dia 1º agosto, quando a pesquisa começou, os trabalhadores afirmam lidar com situações inesperadas como o não pagamento referente ao setor de coletas, a ausência do auxílio-transporte para locomoção e até o pagamento valores abaixo do que era esperado. Além disso, há questionamentos sobre a segurança do trabalho.

O resultado do acúmulo de problemas é uma debandada dos profissionais que, mesmo concursados, preferem abrir mão do trabalho que conquistaram. Isso porque, dos 12.485 recenseadores recrutados pelo IBGE, 571 já foram desligados do serviço em menos de um mês, o que representa 4,6% do efetivo nas ruas. Dos desistentes, apenas sete saíram por decisão do órgão até a manhã de sexta-feira (19).

Na capital, um grupo organizado de recenseadores se articula para reivindicar melhorias. Nesse domingo (21), a União dos Recenseadores de Salvador promoveu uma assembleia online para tratar dos problemas que serão apresentados formalmente para o instituto. Caso não obtenha uma solução, a entidade cogita até uma greve dos profissionais, o que poderia parar o Censo. Pelo menos, é o que garante Lucas Ferreira, representante do grupo.

“Fizemos uma primeira reunião de acolhimento [das reclamações]. Essa semana vamos comunicar o IBGE e dar tempo para que se pronuncie. Caso não haja uma resposta, a ideia é parar e não só Salvador, mas o Brasil como um todo. Porém, como o movimento começa aqui, as primeiras ações serão tomadas na cidade”, diz ele, relatando que colegas de todo o país relatam problemas similares.

Várias queixas
A atitude de pensar até em uma greve para os profissionais vem da impossibilidade de continuar o trabalho com os problemas relatados. Um recenseador, que prefere não se identificar, explica por que acredita que o IBGE está em atraso com ele e como isso afeta seu orçamento.

“Nós somos pagos por setores. Quando completamos o número de residências estipuladas para aquele setor, precisamos receber. Eu já finalizei o primeiro, não recebi o referente e já estou no segundo. Sem o pagamento, não tenho como continuar porque contava com esse dinheiro para quitar contas”, explica ele.

Superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia diz que a possibilidade do instituto estar em atraso é baixa. De acordo com ele, a partir do momento que o recenseador completa a coleta em um setor, o pagamento não é automático e há um período para análise do trabalho. “Existe uma supervisão que pode demorar até 15 dias para o efetivo pagamento. O trabalho feito é observado por um supervisor com base em uma sistemática, e isso leva tempo. Estamos no dia 20 e [o IBGE] só poderia estar atrasado caso o trabalho fosse entregue no dia 5", explica Urpia.

Outra reclamação dos recenseadores é quanto ao auxílio-transporte. Segundo Luana, 31 anos, profissional que opta por não revelar o sobrenome, o IBGE deveria pagar R$ 9,80 por dia para locomoção, o que resultaria em R$ 49 por semana. Porém, além do auxílio estar atrasado, ela afirma ter recebido apenas por uma semana, e de maneira retroativa.

“Recebi apenas no final da primeira semana, o que não deveria porque auxílio a gente recebe antes, não tira do próprio bolso. O valor das últimas duas não veio e não tenho como pagar. Se não chegar, essa semana não vou conseguir ir para a rua”, conta ela.

Sobre isso, Urpia afirma que a demora para o depósito do auxílio é comum em um primeiro momento. "O IBGE tem um tempo para efetivar o pagamento entre o momento em que o recenseador assume o setor ou devolve a produção feita. Para essa primeira leva, estamos fazendo um pagamento dividido, sem pagar o valor inteiro por conta das desistências e trocas, que demandam uma devolução dos valores e geram uma série de trabalhos extras", sustenta o superintendente, garantindo que os percentuais vão aumentar e chegar ao recenseador de maneira integral.

Há também demandas por uma ajuda de custo relacionada à alimentação dos recenseadores. No entanto, o instituto afirma que isso não está previsto em contrato. Já Lucas Ferreira, da União dos Recenseadores de Salvador, aponta que foi prometido algo diferente aos profissionais.

“O que foi passado para nós foi uma ajuda de custo que não está descrita como transporte, alimentação ou qualquer outra coisa. Durante o treinamento, questionamos se teria uma ajuda de custo para água e alimentação. Prometeram uma ajuda, mas não disseram qual seria esse valor e até agora estamos esperando”, relata o representante.

Treinamento
Antes de irem para a rua e começarem o trabalho de pesquisa, os recenseadores de todo o país tiveram que passar por um treinamento. Para realizá-lo, receberam uma ajuda de custo de R$ 200. Ou pelo menos deveriam receber. Cerca de 600 recenseadores ainda não foram pagos com esse valor no estado devido a problemas no sistema do IBGE.

Mariana Viveiros, coordenadora de divulgação do Censo 2022 na Bahia, explica que os atrasos não ocorrem por conta de falta de verba e, sim, por questões operacionais que impediram o pagamento desses recenseadores.

“Quando eles saem do treinamento, recebem uma ajuda de custo, mas tivemos um problema no sistema do IBGE que atrasou esses pagamentos. Os mais afetados foram aqueles que fizeram o treinamento no mês de julho”, afirma.

Outro problema que teria favorecido o não pagamento da ajuda de custo é o cadastramento de alguns recenseadores, de acordo com a coordenadora.

“Os erros de cadastro também não foram irrelevantes. As pessoas deram, às vezes, a conta errada ou insistiram em fornecer uma conta poupança, que não recebe”. O pagamento pelos serviços prestados no Censo só é feito através de conta corrente.

Mariana Viveiros ressalta que o instituto está realizando um esforço para que os valores sejam pagos o mais rápido possível, o que deve acontecer ainda este mês.

Insegurança
Para além das questões relatadas, os profissionais também enfrentam a insegurança, que está mais presente no dia a dia de Jadsom Gonzaga, 59, desde o dia 1º de agosto, quando ele começou a rodar nas ruas da cidade no papel de recenseador. Ele realiza a pesquisa deste ano no bairro de Brotas e afirma que está “vulnerável ao acaso” todas as vezes que sai de casa para cumprir a função temporária.

“Nós precisamos de um suporte maior em relação à integridade física, à segurança. Tem moradores que só estão em casa à noite, e isso exige, muitas das vezes, que a pessoa se desloque fora do horário comercial para fazer o Censo. Salvador é muito grande, então há lugares mais perigosos que outros. Sendo assim, estamos vulneráveis ao acaso”, diz ele.

Somado à insegurança e exaustão que o dia a dia como recenseador gera por causa do deslocamento contínuo a residências, Jadsom diz que os baixos salários e falta de suporte à alimentação são grandes influenciadores da desistência do cargo. Os trabalhadores receberam antes de começarem a pesquisa um treinamento e a ajuda de custo de R$ 200, e o resto da remuneração é feita depois que os recenseadores finalizam um perímetro urbano delimitado pelo IBGE.

“Eu acho que deveria ter mais apoio ao recenseador, tanto em relação à segurança quanto à alimentação. Temos que bancar a alimentação do nosso bolso, infelizmente. A gente enfrenta o ‘sobe e desce ladeira’, encontra pessoas que se recusam a falar e recebe porta na cara. Depois desse trabalho todo, tem colegas meus que recebem R$ 400. Por isso, muitos desistem”, pondera.

Logística
Para o recenseador Edilson Santos, 22, outro problema é a logística. Tendo que sair de Pernambués para Brotas, ele conta que a ajuda de custo para o transporte é baixa. Fora isso, outra dor de cabeça, segundo ele, é a dificuldade de acesso a alguns locais.

“Eu tenho que me virar, sem suporte, para conseguir fazer as entrevistas em lugares mais restritos”, relata.

Recenseador no município baiano de Capela do Alto Alegre, no nordeste do estado, Paulo Matos, 22, também lamenta as dificuldades. Ele conta que um dos seus maiores desafios é explicar a importância do Censo e, em meio à sua rotina, já enfrentou a hostilidade de uma pessoa que se recusou a participar da entrevista.

“Um senhor bateu o portão na minha cara e disse que de estelionatário já bastava os da televisão. Além disso, afirmou que não iria responder porque eu aparentava não ser uma pessoa honesta”, conta Matos.

Em meio a casos de hostilidades como esse, o superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia, diz que o órgão tem procurado informar, através de canais de comunicação, a importância de atender bem o profissional, além de buscar parceiros para ajudar na conscientização da importância do Censo.

“A gente tenta sempre destacar que os dados coletados são sigilosos. Sendo assim, a população pode ficar tranquila para responder os questionários. Outra medida é a busca de parceria com as prefeituras em prol de ampliar a comunicação sobre o Censo. Além disso, buscamos antecipadamente ter contato com síndicos para intensificar a importância do trabalho dos recenseadores e tranquilizar os moradores", esclarece Urpia.

Boas experiências
Na contramão dos recenseadores que enfrentam diversas dificuldades em relação à recepção da população, há aqueles que são acolhidos pelos moradores. É o caso de Fábio Ribeiro, que exerce a função em Feira de Santana. “Já aconteceu de em uma visita a um domicílio, eu tomar café com o pessoal que conversei. Foi bem legal”, lembra Ribeiro.

Buscando evitar estresse, ele diz que usou como estratégia a escolha de um setor perto do bairro em que reside. Então, a maioria dos questionários fez com amigos, vizinhos e familiares. Mas nem sempre apostar na proximidade local é necessário para se conseguir uma boa recepção dos pesquisados.

É o que conta Joana Alves, 26, ao afirmar que sua rotina tem sido tranquila. “Estou sendo bem recebida em todos os prédios que entro. O único entrave é o acesso ao condomínio. Você tem que falar com síndico e pedir acesso, mas isso é algo que consigo resolver”, diz Joana.