Especialistas explicam o que pode ter causado a morte de Paulinha Abelha

Especialistas explicam o que pode ter causado a morte de Paulinha Abelha

A morte precoce da cantora Paulinha Abelha (1978-2022), integrante do grupo Calcinha Preta, acendeu um alerta para consequências de intoxicação no organismo causada pelo uso de medicamentos. A equipe médica que a acompanhava afirmou que o uso de remédios pode ter sido a causa da insuficiência renal que acabou evoluindo para o coma. O CORREIO ouviu especialistas para entender uma questão que muitas pessoas não costumam levar em conta: quando medicamentos podem ser tóxicos?

Somente em Salvador, entre 2020 e 2022, 1.194 pessoas foram internadas devido a intoxicações por substâncias diversas. Dessas, 230 vieram a óbito, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Entre os internados na capital, 83% eram homens e o restante mulheres. A condição também acometeu menores de idade: 84 deles, entre 0 e 17 anos, foram internados nesses dois anos.

No ano passado, 288 pessoas chegaram a ser internadas devido a autointoxicação de medicamentos e outras substâncias na Bahia, segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). O número é maior do que o de 2020 (242), mas menor do que o de 2019 (344). Em 2021, 20% dos internados eram jovens de 20 a 29 anos. O principal motivo das internações (35,8%) foi a exposição intencional a drogas, medicamentos e substâncias biológicas e não específicadas.

A nefrologista Ana Paula Moura, diretora científica da Sociedade Brasileira de Nefrologia na Bahia, explica que o efeito tóxico de substâncias no sangue ou em órgãos costuma ser silencioso e, às vezes, irreversível. “Normalmente a pessoa fica um período já com alterações no rim ou no fígado sem ter nenhum sintoma”, diz. Apesar disso, a redução do volume da urina e coloração diferente podem ser indicativos de problemas renais. Em casos graves, os pacientes podem precisar do transplante.

O hepatologista Raymundo Pereira, professor titular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, alerta que todo remédio pode ser danoso à saúde. Ele explica que existem tipos de mecanismos de toxidade diferentes, que podem ser caracterizados como previsíveis ou não. No caso dos analgésicos, remédios indicados para dor, o risco de intoxicação é previsível se decorrente do uso exagerado da dose.

“Um exemplo clássico é o paracetamol. Se você tomar até 3g por dia, não tem nada. Se passar disso pode ter, se passar de 8g sempre vai ter risco. Já se você tomar um chá verde não tem nada, mas se tomar em cápsula tem risco, porque concentra de 500 a 5 mil vezes a quantidade de catequina”, explica o médico.

Justamente pelo fato de a intoxicação ser uma condição silenciosa, o perigo aumenta quando o paciente toma medicamentos sem prescrição. É o caso de Fernanda**, 22, que tem o costume de comprar antibióticos e indutores de sono em farmácias de Salvador que, erroneamente, não exigem receitas médicas. “Eles chegaram a ser indicados por um médico, então, como foram prescritos antes, eu já tinha o costume de usar”, afirma a jovem que não tem medo dos efeitos adversos. Ela também faz o uso de analgésicos para dores de cabeça.

Em pessoas com pré-disposições genéticas, o antibiótico amoxicilina associado ao clavulanato, que costuma ser muito utilizado em crianças, pode causar problemas na excreção da bile. “Mas isso é imprevisível, porque não dá para fazer teste genético, que é muito caro, para saber quem pode tomar ou não”, diz o hepatologista. No caso de Paulinha Abelha, os médicos dizem que a cantora utilizava medicamentos, todos supervisionados.

A toxidade imprevisível, explica o médico Raymundo Paraná, pode ser causada pela hipersensibilidade do paciente ou pela metabolização. “No nosso processo de metabolização, podemos gerar um metabólico intermediário e ele ser tóxico, podendo gerar dano no fígado. Isso explica porque tanta gente toma e só algumas desenvolvem a toxidade”.

Anti-inflamatórios

Sobre os efeitos imprevisíveis dos anti-inflamatórios, o hepatologista alerta que eles são responsáveis pelas maiores causas de intoxicação no Brasil causada por automedicação. “As pessoas usam como analgésico e confundem. O anti-inflamatório é analgésico, mas atua bloqueando uma substância chamada prostaglandina, o que causa problemas”, diz Raymundo Paraná.

Os especialistas alertam que o uso indiscriminado desse tipo de remédio pode causar gastrite, úlceras, insuficiência renal, evento cardíaco grave e hepatite. Ana, 21, conta que desde o final do ensino médio começou a desenvolver enxaquecas. Na época, consultou um neurologista e começou a tomar um antidepressivo, já que as crises de dor seriam causadas pela ansiedade. “Juntamente com esse remédio, o médico passou o Sumaxpro para quando eu tivesse crises de enxaqueca”, diz.

O quadro da jovem melhorou por um tempo. Mas no ano passado as crises voltaram e Ana começou a ingerir o composto que contém anti-inflamatório em doses maiores: “Estava sendo muito difícil ter as aulas online e ficar dentro de casa, então comecei a usar mais frequentemente esse remédio. Chegou um momento que os analgésicos não funcionavam mais”. O remédio não precisa de receita médica, diferentemente dos antibióticos.

Raymundo Paraná alerta que o Sumaxpro tomado em excesso pode trazer efeitos renais e hepáticos: “São situações que não são muito frequentes, mas, quando ocorrem, pode estar associada ao tempo de uso e quantidade”. Por estar tomando muito a medicação, cerca de uma caixa por semana, Ana conta que decidiu marcar o neurologista mais uma vez para evitar problemas de intoxicação.

Ervas para emagrecer são grandes vilãs

Apesar de serem facilmente encontradas para venda na internet por valores entre R$ 30 até R$ 200, especialistas alertam que os compostos de ervas vendidos com a promessa de emagrecimento podem ser fatais. A interação entre diferentes ervas, a falta de conhecimento sobre a composição da fórmula e grande doses de substâncias, formam uma bomba perigosa para a saúde.

“Quando várias ervas são misturadas, elas podem interagir entre elas aumentando o potencial de efeitos adversos, inclusive de efeitos tóxicos. É por isso que as situações mais graves de intoxicação acontecem com quem faz o uso desse tipo de medicamento”, explica Ana Flávia Moura.

O médico Raymundo Paraná vai além e afirma que quem prescreve as substâncias não segue evidências da ciência: “Usar medicamento que não têm informações científicas é um risco na veia, porque você não conhece o benefício. Santificar ervas e demonizar os alopáticos é uma jogada de marketing produzida recentemente por alguma falta de especialidade em saúde, que utiliza esse marketing para vender muito”.

No início deste mês, a enfermeira Mara Abreu morreu após complicações de um transplante de fígado no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Ela teve uma hepatite fulminante e os médicos suspeitam que tenha sido por conta do uso contínuo de um chá em cápsulas que misturava 50 ervas diferentes. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que produtos com a marca “50 Ervas Emagrecedor” estão proibidos no país desde 2020.

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    "Este é um assunto particular, mas, como diariamente me relacionam a notícias, suposições e piadas, informo que não estou em um relacionamento", escreveu a influenciadora nos stories do Instagram.

    "Somos pais da Mavie, e essa é a razão do nosso vínculo. Espero que assim parem de me relacionar com as frequentes notícias. Obrigada", completou.

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    O ex-casal reatou em janeiro de 2023. Quatro meses depois, a anunciaram que Bruna estava grávida do jogador. "Sonhamos com a sua vida, planejamos a sua chegada e saber que você está aqui para completar o nosso amor deixa os nossos dias muito mais felizes. Você vai chegar em uma família linda, com irmão, avós, titios e titias que já te amam muito! Vem logo filho(a), estamos ansiosos por você!", escreveram na ocasião.

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