Ações e operações policiais, como a que culminou na morte do policial federal Lucas Caribé, 42 anos, na última sexta-feira (15), não são novidade para quem vive em Valéria. De acordo com dados do Fogo Cruzado, ao longo de 2023, o bairro já registrou 24 tiroteios, 22 mortes e cinco feridos em episódios de violência armada. Ainda segundo informações do instituto, que monitora casos com disparos em Salvador e Região Metropolitana (RMS), 15 trocas destas 24 ocorrências foram durante ações das polícias, sejam elas Militar, Civil ou Federal. Ou seja, 62,5% dos tiroteios no bairro ocorreram durante ações em que a polícia se confrontou com homens ou grupos armados.

Ao longo dos últimos meses, inclusive, há um aumento na letalidade dos casos de violência armada de maneira geral no bairro. Isso porque, até 30 de junho, Valéria tinha registrado 15 tiroteios e 9 mortos. De 1° de julho até domingo (17), houve nove tiroteios que, juntos, somaram 13 pessoas mortas ou 59% dos registros letais no local.

O alvo da operação deflagrada na sexta-feira era a facção Katiara, que tem o domínio da região de Boca da Mata, localidade de Valéria próxima à Estrada do Derba, onde ocorreu o confronto. No entanto, o grupo que trocou tiros com os policiais é da facção Bonde do Maluco (BDM), que havia sido expulsa do local uma semana antes pelos rivais.

Uma fonte da polícia, que não se identifica, diz que Valéria é centro de uma disputa intensa entre facções, já que a proximidade com a BR-324 e a facilidade logística para escoamento de drogas e armas interessam qualquer facção criminosa. "Ali há uma ação contínua desses grupos. Entra ano, sai ano e tem guerra. Então, é claro que a polícia age quando recebe denúncias e também de maneira planejada, porque tirar das facções uma área tão estratégica como essa seria um golpe para o crime", explica Antônio Jorge de Melo, especialista em segurança pública.

Valéria é um dos últimos bairros de Salvador às margens da BR-324. De lá, é possível pegar a via em direção a Feira de Santana, que é um entrocamento rodoviário que liga a Bahia com vias que dão acesso e estados do Norte e Nordeste do país.

Com aulas suspensas, postos de saúde sem funcionar e ônibus com circulação restriata, o prefeito Bruno Reis comentou ontem a situação. Ele disse que, se fosse ele o governador, solicitaria o apoio do Exército para lidar com o caso.

"Se eu fosse governante, pediria o apoio do Exército sob a minha liderança para acabar com as guerras de facções. Deixaria o Exército lá [em Valéria] atuando para garantir a tranquilidade e iria avançando em outros locais. Porém, cada governo tem sua estratégia e sua forma de proceder", falou Reis.

O prefeito lembrou ainda o caso recente do Calabar/ Alto das Pombas como argumento para essa solicitação de apoio das forças armadas. "No meu Calabar, onde houve confrontos, o Exército está atuando e garantindo a segurança e eu não vejo nada demais nisso. Buscar apoio e pedir reforço não é um ato de fraqueza", argumentou.

Em coletiva dada sobre os confrontos armados no Calabar/Alto das Pombas, o titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Marcelo Werner, já havia negado a possibilidade de pedir reforço em escala federal. "Negativamente, de forma alguma. A gente mostra pelas ações de inteligência e investimentos que há um avanço na melhora da segurança pública do estado", afirmou na época.

Em evento ontem, o vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, representando o governador Jerônimo Rodrigues (PT), informou que o policiamento foi intensificado, que o governo está investindo nas polícias Militar, Civil e no Departamento de Polícia Técnica e que a intervenção do Exército não é a solução.

Blindados

Mais três blindados da Polícia Federal chegarão à Bahia nesta semana para reforçar o combate ao crime organizado. Os veículos, utilizados por outras Superintendências Regionais, já estavam na programação da instituição.

As viaturas foram embarcadas em um navio da Marinha, no porto do Rio de Janeiro. Os blindados serão utilizados por equipes do Comando de Operações Táticas (COT) e do Grupo de Pronta Intervenção (GPI).

"As viaturas já estavam definidas para reforçar o nosso trabalho. Não se trata de uma medida nova. Outros estados têm os seus blindados e agora a Bahia está sendo contemplada", explicou o superintendente regional da PF na Bahia, Flávio Albergaria.

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Após o bairro de Valéria registrar uma quarta-feira de violenta, com quatro mortos, a região registou mais um homicídio nesta quinta-feira (4). A vítima foi Evandro Costa dos Santos, 36 anos, baleado na Rua da Boca da Mata, nas imediações da Unidade de Pronto-Atendimento do bairro. A 3ª Delegacia de Homicídios (Bahia de Todos os Santos) investiga a morte.

Procurada, a Polícia Civil disse que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) determinou que o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco) "atuem em conjunto e com celeridade nas cinco últimas ocorrências de homicídios em Valéria que, segundo apuração inicial, têm relação com o tráfico de drogas".

De acordo com os moradores, todas as cinco vítimas foram mortas a tiros em regiões do bairro onde atualmente está acirrada a disputa pelo controle total do tráfico de drogas entre as facções Katiara e Bonde do Maluco (BDM).

Ainda segundo eles, o bairro está em guerra desde novembro do ano passado, quando o traficante Jho, integrante da Katiara, foi sequestrado e morto por homens armados ligados ao BDM. Jho estava no Penacho Verde, área de atuação da Katiara, quando foi sequestrado por integrantes do BDM da Palestina, que também atua em algumas localidades de Valéria. O corpo dele foi encontrado na estrada. Desde então, o bairro vive em guerra.

Boca da Mata
O corpo de Evandro foi localizado por volta das 21h desta quinta. De acordo com a Polícia Militar, policiais da 31ª Companhia Independente da PM (Valéria) foram acionados após receberem uma denúncia com a localização do corpo de um homem vítima de disparos de arma de fogo, na via principal da rua Boca da Mata, no bairro de Valéria, na noite de quinta.

No local, a guarnição constatou o fato, isolou a área e acionou o Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc), que procedeu realizando a perícia e remoção. Autoria e motivação que são desconhecidas serão investigadas pela Polícia Civil.

A Polícia Militar disse ainda que já intensificou o policiamento através do emprego de guarnições da 31ª CIPM e o apoio de equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), do Grupamento Aéreo (Gaer), da Rondesp BTS e de unidades ordinárias componentes do orgânico da Baía de Todos os Santos (BTS), que ocuparam o local e estão realizando rondas e abordagens na região.

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Mesmo segurando uma bíblia, testemunha de sua fé, o pedreiro não conseguiu domar a dor que lhe consumia no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). "Na minha terra, as pessoas costumam morrer de velhice. Os filhos enterram os pais. Mas hoje estou sentindo a pior dor da minha vida", declarou, emocionado, Eronilson da Silva, 55 anos, natural da cidade de Teodoro Sampaio, pouco depois de reconhecer o corpo do filho, Edilson Ferreira da Silva, 28, na manhã desta quinta-feira (4). Edilson tinha saído da prisão há dois anos. Ele e outros três foram vítimas de uma quarta-feira (3) violenta no bairro de Valéria, em Salvador.

Todos quatro foram mortos a tiros em regiões do bairro onde atualmente está acirrada a disputa entre as facções Katiara e Bonde do Maluco (BDM) pelo controle total do tráfico de drogas. Em nota, a Polícia Civil informou que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) determinou que os Departamentos de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) atuem em conjunto e com celeridade nessas quatro ocorrências, que, segundo apuração inicial, têm relação com o tráfico de drogas. "Informa ainda que a PM reforçará o patrulhamento no bairro de Valéria", diz a nota.

Apesar de a polícia afirmar que todos os mortos estão relacionados diretamente com a guerra do tráfico, moradores de Valéria disseram ao CORREIO que pelo menos uma das vítimas foi baleada pela Polícia Militar, acionada para atender uma das ocorrências anteriores. Leandro Queiroz da Silva, 20, voltava para casa quando uma guarnição teria chegado atirando na Rua Leão Diniz.

Ainda segundo os moradores, o bairro está em guerra desde novembro do ano passado, quando o traficante Jho, integrante da Katiara, foi sequestrado e morto por homens armados ligados ao BDM.

Dor
O desejo do pedreiro Eronilson era de que o filho, Edilson, seguisse seu ofício. "Estava preparando para tirá-lo daqui, levá-lo para São Paulo, junto comigo, para trabalhar como meu ajudante. Mas ele não queria, infelizmente. Fui criado na roça e nunca me envolvi com drogas. Dei tanto conselho, falei tanto, mas preferiu o outro lado, fazia parte de grupo que mexe com drogas", contou o pai, que mora em Narandiba. Ele disse que o filho estava numa padaria quando dois homens desceram atirando na Rua Nova Brasília, por volta das 19h desta quarta - segundo moradores, o local é território da Katiara.

Edilson morava com a mulher a poucos metros do local onde foi morto. A mãe dele, a dona de casa Ana Lúcia Gonçalves da Paixão Ferreira, 45, reside no mesmo bairro, mas não soube dar detalhes sobre o crime. "Eu não estava lá, por isso, não sei de nada", respondeu. Ela não soube dizer por qual crime o filho cumpriu pena na prisão por dois anos. "Nem me lembro", disse ela. Questionada sobre o comportamento do filho, a mãe disse que deu conselhos. "A gente fala, mas filho não ouve. Cansava de dizer pra ele não andar com gente envolvida, mas era a mesma coisa que nada", declarou.

Eronilson disse que é pai de outros três filhos com Ana Lúcia. Eles também têm envolvimento com o tráfico. "Cada um carrega a sua cruz e eu ainda tenho mais três", desabafou.

Além de Edilson, as outras vítimas foram Jadson Alan Souza Damascena, 20, morto na Rua Penacho Verde, por volta do meio-dia. O tráfico de drogas no local é controlado pela Katiara. Não há informações sobre as circunstâncias do crime. Pouco depois das 22h, foi encontrado o corpo de um homem ainda não identificado no Caminho 15, após o Atacadão, região dominada pelo BDM. Também não há detalhes de como foi a morte.

Já no caso da morte de Leandro Queiroz da Silva, ocorrida pouco depois das 21h30, na Rua Leão Diniz, onde o comando é do BDM, moradores relataram que o rapaz trabalhava fazendo pães numa padaria da região e que, ao voltar para a casa, deu de cara com uma guarnição da PM. "A polícia chegou atirando e ele ficou parado, porque não devia nada, era trabalhador. Mas aí os policiais atiraram nele. Mesmo ferido, ele correu, mas caiu morto. Ele era uma pessoa de bem. Ninguém tinha o que falar dele", contou uma mulher que conhecia a vítima, que morava na Rua Boca da Mata.

A reportagem foi até a padaria apontada como o local de trabalho de Leandro. Funcionários disseram que ele não era padeiro, que vez ou outra fazia uns serviços de entrega de pães. Relataram ainda que o rapaz já não aparecia há quase um mês. Outros moradores sinalizaram que há um mês Leandro passou a andar com um grupo de rapazes ligados ao tráfico.

Posicionamento
Segundo a PM, de acordo com informações da 31ª CIPM (Valéria), por volta das 21h45, guarnições da unidade foram acionadas para atender a ocorrência de homicídio na Rua Leão Diniz. No local, os policiais militares acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou o óbito de um homem por disparos de arma de fogo. "A área foi isolada, e o Silc, acionado para realizar a perícia e remoção do corpo. As circunstâncias serão investigadas pela Polícia Civil", diz a nota.

A PM também se posicionou sobre os outros casos. Sobre a morte de Edilson, filho do pedreiro Eronilson, a nota diz que "por volta das 19h12, guarnições da unidade foram acionadas para atender a ocorrência de homicídio na Rua das Palmeiras, Nova Brasília de Valéria". No local, a guarnição constatou que havia um homem de 28 anos morto a tiros. Já o crime que resultou na morte de Jadson, os PMs foram acionados pelo Cicom para atender a uma ocorrência de homicídio na Rua Penacho Verde e, no local, constataram o fato. A mesma situação se aplica ao corpo encontrado no Caminho 15. A única diferença é que a vítima também apresentava ferimentos com arma branca.

Reforço
A guerra entre a Katiara e o BDM foi acirrada com a morte do traficante Jho. "Ele tinha acabado de sair do mercado e ia levar as compras para mulher, mas resolveu parar num bar e tomar umas. Foi quando dois homens pegaram ele e o botaram no carro", contou uma jovem. Jho estava no Penacho Verde, área de atuação da Katiara, quando foi sequestrado por integrantes do BDM da Palestina, que também atua em algumas localidades de Valéria.

"O corpo dele foi encontrado na BR. Desde então, o bairro vive em guerra. É tiro toda hora. A gente não consegue ficar em paz. Eles passam atirando a qualquer hora do dia ou da noite e a gente vê a hora de ser encontrada por uma dessas balas. Tem gente que já abandonou a casa. Se a situação não melhorar, vou largar tudo e ir para o interior", disse a moradora.

Ainda na manhã desta quinta, o CORREIO circulou em Valéria e constatou algumas viaturas do Batalhão de Choque posicionadas na via principal, no trecho da prefeitura-bairro, por volta das 9h30. Neste local, a sensação de segurança era maior. "A polícia aqui é a garantia de que as coisas devem ficar bem melhores', disse o dono de uma loja de calçados. "A situação ontem [anteontem] foi difícil. Um Gol prata circulou atirando pra cima à noite. Ninguém sabe o motivo. Algumas mortes já tinham acontecido. Vamos ver agora com a polícia se a coisa melhora", comentou o funcionário de uma lanchonete.

Já nas regiões afastadas da via principal, como a Rua do Penacho Verde e Nova Brasília, não havia viaturas posicionadas. "Não ficam. Quando surgem, passam direto. Isso é segurança? Não! Botam as viaturas paradas na principal. Mas onde realmente precisa, de uma ação da PM com mais força, não tem", comentou um agente da prefeitura que mora na Penacho Verde.

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O incêndio de grandes proporções que atingiu a fábrica da Ortobom no bairro de Valéria, em Salvador, foi controlado cerca de cinco horas após as chamas tomarem conta da unidade. Vale ressaltar que o incêndio não foi totalmente debelado.

O incêndio começou pouco antes das 6h. Conforme disse Major Ramon Diego, do Corpo de Bombeiros, um galpão da fábrica não foi atingido pelo fogo. No local, além de documentos, estavam dois cachorros que foram retirados com vida.

"Nesse momento estamos com o fogo controlado. Confinamos o fogo na faixa principal. Preservamos 40% área edificada. Retiramos 14 caminhões, dois animais e material de escritório. Isolamos o local e estamos dando assistência a localidade. Ainda está tendo rescaldo. O material queima rápido. A influência do material, da temperatura, faz com que o calor retome", explicou o major.

Ninguém ficou ferido no incêndio, mas cerca de 20 casas precisaram ser desocupadas, segundo informou a Defesa Civil de Salvador (Codesal). Além disso, dos 20 imóveis, cinco foram atingidos pelo fogo, mas não há detalhes do que foi destruído.

As famílias que não conseguiram abrigo na casa de familiares, recebem acolhimento em um centro comunitário do bairro de Valéria, onde fica a fábrica.

Por meio de nota, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) informou que, após solicitação de apoio do Corpo de Bombeiros, precisou desligar a rede elétrica do local por questões de segurança. Foram desligadas 36 unidades da área do entorno do incêndio. A Coelba aguarda a liberação do Corpo de Bombeiros para ligar novamente a energia desses consumidores.

Para realizar o combate às chamas, 50 bombeiros atuaram no local, com cinco carros de combate do Corpo de Bombeiros, além de um veículo leve. Foram utilizados 100 mil litros de água.

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Incêndio
A fumaça que se formou na fábrica por conta da queima do material foi densa e se espalhou rapidamente pela rua Eurico Temporal, no bairro de Valéria.

Os moradores que estavam nas proximidades da fábrica relataram ter escutado barulhos de dentro do espaço, como se algumas estruturas estivessem desabando na parte interna do imóvel.

"Foram várias explosões fortes. Eu mandei meu marido pegar logo a carreta, que costuma ficar colada no muro da fábrica. Eu fiquei desesperada", disse Regina Machado, mulher que mora atrás da fábrica.

As causas do incêndio ainda serão investigadas, mas conforme relatos de funcionários da fábrica, as chamas começaram em uma área onde são produzidos blocos de espuma. Os funcionários relataram, ainda, que a área onde o fogo começou possui muitas máquinas.

"Quem trabalha de madrugada, trabalha bordando os materiais. O incêndio começou na área de resfriamento de bloco [de espuma], que fica no meio da fábrica. O expediente de madrugada acaba 6h. O pessoal estava saindo quando começou o fogo", explicou Paulo César, funcionário da empresa.

O Corpo de Bombeiros informou que os brigadistas da fábrica iniciaram o combate ao fogo mas, por conter muito material inflamável, as chamas se propagaram muito rápido.

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