A central telefônica do SAMU 192 informou que já teve os atendimentos restabelecidos no início da tarde desta quarta-feira (28). O serviço estava fora do ar após o rompimento dos cabos de fibra ótica da empresa de telefonia que presta serviços ao município.

Por conta da suspensão, quem precisou acionar o Samu fez chamado pelo número 190, da Polícia Militar. O número do Fala Salvador, 156, também pôde ser utilizado para atendimento das ocorrências enquanto o número central do Samu não havia sido reativado.

Publicado em Bahia

O atendimento telefônico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pelo 192 está temporariamente suspenso na manhã desta quarta-feira (28). Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o serviço está fora do ar por conta da danificação de cabos de fibra ótica da operadora de telefonia.

Por conta da suspensão, quem precisar acionar o Samu deve fazer o chamado pelo número 190, da Polícia Militar. A SMS está trabalhando para incluir o Fala Salvador 156 também para atendimento das ocorrências enquanto o número central do Samu não é reativado.


A expectativa, segundo a empresa de telefonia, é que o serviço seja normalizado até o final do dia.

Publicado em Bahia

Um casal foi morto a tiros dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na noite dessa segunda-feira (29). O crime aconteceu na rotatória do Hospital do Subúrbio, na BA-528.

Segundo informações da Polícia Militar, os socorristas contaram que estavam fazendo a regulação do homem para o Hospital do Subúrbio quando a ambulância foi interceptad apor um ônix branco. Quatro homens armados atiraram contra o casal e fugiram.

Os socorristas não ficaram feridos. Equipes da 31ª CIPM e do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) foram até o local e isolaram a área. Ninguém foi preso até o momento.

O motorista da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), interceptada por homens armados que mataram um casal dentro do veículo de emergência, relatou a ação dos criminosos e disse que depois de atirar nas vítimas, os homens ainda pediram desculpas aos socorristas pelo ataque.

O motorista e uma técnica de enfermagem que estavam na ambulância não tiveram ferimentos.

"Na hora que terminaram de executar eles correram para entrar no carro e ainda pediram desculpa para gente: 'Samu, vá desculpando aí'", relata o motorista que prefere não se identificar.

O ataque ocorreu na noite de segunda-feira (29), em um trecho da Estrada do Derba, no bairro de Fazenda Coutos, perto do Hospital do Subúrbio. O homem alvo do ataque tinha saído da UPA de Santo Inácio e estava sendo transferido para o Hospital do Subúrbio, devido a um ferimento também por arma de fogo. Os criminosos mataram ele e a companheira dele, que o acompanhava no momento da transferência de unidade.

“Nossa equipe se encontrava na base e fomos solicitados para fazer a remoção de um baleado para o Hospital do Subúrbio. A gente colocou ele na unidade [ambulância] e começamos a fazer o processo. Fomos andando normal, mas quando chegou na Estrada do Derba, fui obstruído. Um carro me cortou pela lateral esquerda, com os vidros pretos, onde percebi a situação e informei a colega pra ela se tranquilizar, que era um carro suspeito”, relembra o motorista.

Segundo o motorista, logo depois de fazer a ultrapassagem na ambulância, os homens armados e encapuzados andaram mais alguns metros e, em seguida, interceptaram o veículo.

“Dei espaço para esse carro seguir em frente, só que eu senti que eles estavam ‘segurando’, freando o tempo todo. Quando chegou em frente no cruzamento do Subúrbio que fui fazer o retorno, fui obstruído. Desceram três homens armados, encapuzados fazendo pressão psicológica, pedindo para abrir a porta da unidade”, relata o motorista.

O motorista da ambulância disse também que um dos criminosos era agressivo em comparação com os outros dois e que pediu para os suspeitos que não fizessem nada com ele e com a colega.

“O que estava perto de mim era mais ríspido, os dois eram até mais maleáveis. Eu só gritava para ele segurar a onda: ‘'segura, segura, que somos Samu, não tem nada a ver com a gente, a gente não entra em nada. Só estamos transportando'. Os que estavam do lado direito eram os mais tranquilos, pediu a colega para sair. O que estava do outro lado era mais ríspido, tentei acalmar ele de todas as formas”, conta.
Ainda de acordo com o motorista, um dos criminosos tomou a chave da ambulância, mandou ele desligar o veículo e foi nesse momento que ele conseguiu se afastar da situação.

"Do lado de fora, só ouvimos os disparos”, relata.

Apesar de tentar manter a colega tranquila, o motorista revela que por causa do susto, ele passou mal e precisou de atendimento médico.

“Nesse momento, nos encontramos um pouco abalados pela situação, eu e a colega. Foi uma situação muito delicada, mas como sempre, saindo do trabalho, todos os dias agradecendo a Deus, pedindo proteção e graças a Deus, estamos aqui em vida para contar essa história”, disse o motorista.
Segundo o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Salvador, médico Ivan Paiva, o Samu conta com apoio da Polícia Militar para atender situações que envolvam ferimentos a tiros ou por arma branca. Porém, de acordo com a PM, não houve acionamento prévio para atender a ocorrência e que a PM foi chamada após o caso.

Ainda segundo o coordenador do Samu, uma investigação será aberta para saber o motivo da ambulância não estar com escolta policial. Ainda não há informações sobre autoria e motivação do crime.

Publicado em Polícia

As ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão levando até cinco horas para encontrar um hospital para pacientes que têm plano de saúde, em Salvador. Com unidades da rede privada lotadas, algumas com 100% de ocupação nos leitos de UTI Covid-19, muitos pacientes recorrem ao serviço público. Segundo o secretário municipal de Saúde, Leo Prates, a situação do setor público, que já estava pressionado, piorou com a demanda de pacientes da rede privada. Ontem, a taxa de ocupação dos leitos públicos estava em 85%.

Em entrevista à TV Bahia, Leo Prates afirmou que, pela primeira vez na história de Salvador, a prefeitura tem que dar apoio ao setor privado. “A gente esticou o sistema de saúde e, mesmo assim, continua pressionado. Nunca vivemos a rede privada em pré-colapso, sem receber pacientes, o que agrava a situação das nossas Upas”, afirmou o titular da SMS.

Embora não concorde com afirmação de que a rede particular esteja em pré-colapso, Mauro Adan, presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia (Ahseb), confirmou que há lotação. “Os hospitais privados da Bahia estão com taxa de ocupação muito elevada. Os casos têm aumentado muito, além das urgências e traumas que precisam ser atendidas. Mas estamos conseguindo honrar nossos compromissos”, afirmou.

Mauro também afirmou que não há recomendações na rede privada para que as pessoas com plano de saúde procurem o setor público. “As pessoas que têm planto não estão excluídas do SUS, ou seja, elas também têm direito ao serviço público. O nosso sistema é suplementar. Mas quem tem planto tem sido atendido”, acrescentou.

Pacientes
A aposentada Zoraide Mendes, 81 anos, mesmo com o pagamento do plano de saúde em dia, passou por um sufoco. Com sintomas e teste positivo realizado numa clínica privada, ela foi direto ao Hospital da Bahia para conseguir atendimento médico. “O rapaz do guichê disse que não atendia mais covid-19, pois estava tudo lotado. Nem da emergência eu passei. Se tivesse que morrer, morreria lá”, lembra a idosa, que teve ânsia de vômito, falta de apetite, garganta inflamada e febre.

Com a recusa no atendimento, ela voltou para casa e decidiu com a família ser acompanhada à distância por profissionais da saúde que já a conheciam. “Minha filha tem uma amiga que é médica, eu tenho uma sobrinha que é casada com um urologista e o meu cardiologista ficou muito preocupado comigo. Todos eles me ajudaram e, graças a Deus, eu fui mais forte que esse vírus”, acrescentou a idosa, que acredita que a situação não foi mais séria porque ela tomou a primeira dose da vacina no mês passado e aguarda se recuperar para tomar a segunda.

Mesmo com problemas renais e com a idade que lhe coloca no grupo de risco, dona Zoraide não procurou a rede pública. Mas o coordenador do Samu, Ivan Paiva, conta que o número de pacientes que têm plano mas precisou procurar uma unidade pública na hora do aperto cresceu na capital nos últimos 30 dias.

“A gente já tem, mais ou menos, um mês com essa demanda, e isso tem sido progressivo. O Samu sempre atendeu pacientes com planos de saúde, como por exemplo, em situações de infarto ou AVC, sempre foi rotina fazer esse atendimento, mas regulando o paciente para hospitais da rede privada. Agora, devido à indisponibilidade, estamos tendo que alocar esses pacientes no SUS”, afirma Paiva.

Quando a pessoa tem plano de saúde, a prioridade do Samu é encontrar uma vaga na rede particular, para que não seja preciso ocupar um leito público. “Às vezes, isso leva 4 ou 5 horas. A gente mantém esse atendimento na tentativa de buscar esse leito antes de alocar no público, mas não conseguindo e essa ambulância sendo necessária para outro atendimento, deixamos no leito SUS, para liberar a ambulância”, diz.

Paiva afirma que a rede privada tem feito esforços para criar novos leitos, mas que a demanda está acima da capacidade. Anteontem, as ambulâncias do Samu fizeram 80 transferências. Foi um recorde para um único dia. Ele voltou a dizer que a situação está crítica, e a pediu para que a população se protegesse.

Hospitais particulares
O presidente da Ahseb diz que os casos de pacientes que tiveram dificuldade para achar vaga na rede privada são pontuais e pediu que a população colabore não espalhando o vírus. “A taxa de ocupação está elevada. Os hospitais estão cheios. Não estou dizendo que tenha hospital vazio e que esteja fácil. A população precisa entender as recomendações das autoridades de saúde para evitar a transmissão do vírus”.

O Hospital da Bahia, onde dona Zoraide buscou atendimento, disse que a unidade não está “recusando pacientes” que precisam de internação. “A internação é constatada no atendimento médico. Se por ventura o paciente foi lá, não conseguiu atendimento (em algum momento pontual) e foi recomendado que procurasse outro hospital, é justamente visando o bem do paciente, que terá atendimento imediato em uma unidade que tenha vaga”, disse o hospital, em nota.

O Hospital da Bahia também disse que abriu mais 30 leitos de UTI há uma semana e, mesmo assim, se encontra com 100% de ocupação de leitos Covid. “Quando a demanda aumenta muito, temos pontualmente que restringir atendimentos em determinados momentos”, acrescenta a nota.

Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindmed-BA), a cirurgiã plástica Ana Rita de Luna confirma que tem chegado relatos na associação da lotação nas unidades privadas. “Infelizmente, os nossos colegas relatam que vários hospitais da rede privada estão quase com uma exaustão no número de leitos de covid-19. Eles estão transformando enfermarias e leitos cirúrgicos em UTIs”, disse.

Mesmo com o cenário caótico, ela explica que os profissionais preferem trabalhar na rede privada do que na pública pela estabilidade no salário. “No SUS há o fenômeno do atraso e calote, o que desestimula o médico a arriscar sua própria vida. Na rede privada, isso não está acontecendo. O que chega é a notícia de exaustão de leitos e recursos de materiais hospitalares, por a demanda estar alta”, conclui.

Rede Pública
O gripário que fica ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris amanheceu ontem com os 20 leitos de enfermaria e as quatro salas vermelhas (similares a leitos de UTI) lotadas. No decorrer da manhã, oito pacientes foram transferidos, mas ao menos outros 20 aguardavam atendimento do lado de fora.

Um dos funcionários contou que tem sido recorrente a presença de pessoas com plano de saúde na unidade. “É porque alguns planos só estão fazendo o teste para covid-19 depois de oito dias do aparecimento dos sintomas. Então, o paciente tem a consulta, recebe as orientações, mas não faz o teste. Por isso, eles acabam procurando a gente, porque sabe que aqui o teste será feito logo”, disse o homem, que não quis ser identificado.

Ele contou também que, na semana passada, se surpreendeu com um paciente que estava internado no gripário. “Ele tinha plano de saúde da Petrobras, ou seja, aceita em vários lugares. Mas quando ele precisou, os hospitais estavam todos lotados”, disse.

Além do gripário, a prefeitura construiu uma tenda com mais dez leitos de UTI ao lado da UPA, mas todos eles também estão ocupados. O coordenador médico da UPA e do Gripário dos Barris, Abevailton Silva, disse que a unidade está atendendo cerca de 200 pacientes por dia. Ele agradeceu ao esforço das equipes de saúde para agilizar os atendimentos e transferências, e contou que a demanda está alta.

“Em razão de nossa estrutura ficar no centro da cidade, a procura é muito grande. Naturalmente, nesse maior contingente de pacientes teremos uma parcela mais expressiva que precisará de atendimento mais intensivo. Nos quatro leitos para pacientes críticos [sala vermelha] chegamos a transferir 12 pessoas em 36 horas. Isso significa que, em cada 36h, conseguimos atender pelo menos 3 pessoas em cada leito”, afirmou.

O auxiliar de produção Luís Henrique Damião Santos, 30, foi um dos pacientes atendidos na unidade. Na quinta-feira (4), deu entrada com falta de ar, cansaço, dor de cabeça e febre. O resultado saiu ontem: negativo para covid-19. Ele disse que, mesmo assim, foi orientado a fazer um novo teste.
“Eu tomei os cuidados recomendados, mas precisava sair para trabalhar. Como uso o transporte público, acredito que devo ter pegado no caminho para o trabalho. As pessoas precisam levar isso a sério. A pior sensação da vida é você procurar ar para respirar e não encontrar. Eu não desejo isso a ninguém”, disse.

O pai dele, o auxiliar administrativo Eduardo Damião Santos, 62, contou que na quinta, quando estiveram pela primeira vez na unidade, a demanda estava alta. “O pátio estava cheio de pacientes. A gente chegou 8h e saímos daqui às 17h”, disse.

Taxa de ocupação dos hospitais particulares de Salvador
Hospital da Bahia: 100%
Hospital Santa Izabel: 100%
Hospital Aeropoto: 100%
Hospital Jorge Valente:
Leitos de UTI Adulto - 100%
Leitos clínicos Adulto - 90%
Leitos de UTI pediátricos - 0% (estão vagos)
Leitos clínicos pediátricos - 0% (estão vagos)
Os hospitais Teresa de Lisieux, Português, Aliança, Cardiopulmonar e São Rafael não divulgaram a taxa de ocupação.

Hospitais públicos de Salvador com 100% de ocupação às 19h de terça (9)*
Hospital Português (leitos SUS)
Maternidade Professor Jose Maria De Magalhaes Neto
Hospital Municipal De Salvador (HMS)

*De acordo com a Sesab

Tira Dúvidas dos Planos de Saúde na pandemia
Tenho direito a fazer os testes?
Tem direito ao teste os convênios com segmentações ambulatorial, hospitalar e referência. Desde março de 2020, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou a cobertura obrigatória dos planos de saúde nos testes, mas apenas após solicitação do médico. Em agosto do mesmo ano, deixou de ter a obrigatoriedade da solicitação do médico para casos específicos, como pacientes cuja prescrição tem finalidade de retorno ao trabalho, pré-operatório, controle de cura ou contato próximo/domiciliar com casos confirmados, além de testes rápidos e verificação de imunidade pós-vacinal. Caso o plano não indique um lugar, pode ser feito o teste e depois solicitar o reembolso.

Como marcar exame clínico?
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou que todos os planos de saúde priorizem os atendimentos relacionados ao coronavírus. Durante a pandemia e com a necessidade do isolamento social, pacientes menos graves podem fazer consulta por meio de telessaúde, ou telemedicina, com a utilização da rede assistencial, da mesma forma que seriam realizadas no sistema presencial em consultórios e clínicas. Contudo, a operadora do plano não é obrigada a escolher o médico da preferência do cliente. Além do primeiro atendimento, o paciente terá um acompanhamento até o fim da quarentena. Os exames solicitados pelo médico também terão a cobertura do plano, incluindo os testes de covid-19. Caso o paciente precise de atendimento presencial, é preciso marcar a consulta com seu plano, que vai direciona-lo para o médico, dependendo da demanda do profissional. Não se aplica aos casos que exijam atendimento emergencial.

Há garantia que serei internado no hospital particular?
Enquanto tiver vaga no hospital que o plano cobre, sim. Contudo, não é garantido, principalmente se houver um colapso na rede particular de saúde. Caso necessite de atendimento imediato por conta da covid-19 e o hospital não tenha mais leitos de UTI disponíveis, procure seu plano para orienta-lo. A ANS recomenda que o beneficiário sempre busque orientações junto à operadora do seu plano de saúde. Na hipótese de não haver disponibilidade de prestador (ou leito) integrante da rede assistencial que ofereça o serviço, a operadora deverá garantir o atendimento em prestador não integrante da rede assistencial no mesmo município. Caso o beneficiário seja obrigado a pagar os custos do atendimento, o reembolso será efetuado nos limites estabelecidos no contrato.

Meu plano pode reajustar valores?
a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) congelou os preços em 2020, por conta da pandemia. Porém, os planos puderam fazer reajustes este ano e pesou no bolso, pois a cobrança foi retroativa e parcelada durante 12 meses, acrescendo cerca de 5% a mais no boleto. No total, o aumento pode chegar a 35%, em meio à crise financeira e pandemia. A Defensoria Pública da União (DPU) recomendou à ANS a suspensão dos reajustes dos planos de saúde em 2021, além das cobranças retroativas.

Em caso de inadimplência durante atendimento, o plano pode interromper o tratamento?
A lei que regula os planos de saúde proíbe qualquer interrupção de tratamento por inadimplência durante uma internação hospitalar, ou "o não-pagamento da mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência", diz a lei.

Publicado em Saúde

Em média, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador recebe mil chamadas diárias. São 16 atendentes divididos em dois turnos de 12 horas para fazer a triagem das ligações, transferir para um médico e, se necessário, enviar uma equipe de atendimento. Toda essa correria funcionaria melhor se não fosse os cerca de 100 trotes recebidos por dia.

Apenas uma mulher foi responsável por 20 mil trotes feitos em três meses, em 2019. A informação é do médico e coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, Ivan Paiva. Na época, ele participou de uma reunião com essa mulher, identificada apenas como Darci, e sua advogada. “Ela se comprometeu a não ligar mas voltou a fazer, principalmente, agora, na pandemia”, disse Ivan, que pretende encaminhar um documento relatando a situação para o Ministério Público da Bahia para averiguar se há a possibilidade de bloquear o número.

“O problema é que a gente tem que atender, não tem jeito. Nunca sabemos o que pode ser, até porque houve uma situação real em que ela precisou mesmo ser atendida. Então, a saída é registrar. Nosso sistema não tem uma forma automática de notificação”, relata Paiva. Ele calcula que Darci já tenha feito cerca de 40 mil ligações nesses três anos que passa trote para o Samu. “Ela utiliza o pseudônimo de ‘Yéssica’ e, às vezes, mais de um número telefônico. Nós suspeitamos que seja um problema mental dela, mas que acaba afetando a saúde mental dos nossos profissionais”, diz.

Insuportável
“É insuportável, faz a gente perder a paciência com as pessoas”, relata a atendente Luciana Magarão, que diz preferir atender um dia todo de ocorrências do que receber um trote. “Isso estressa muito”, completa. Enquanto Luciana conversava por telefone, a equipe do Samu recebeu mais uma ligação de Darci. A reportagem tentou contato com ela, mas não obteve retorno.

Segundo Ivan Paiva, Darci aparenta ter por volta de 40 anos, é cuidadora de idosa e vive na região de Sete de Abril. “A gente descobriu, pois ela já ligou do telefone fixo da casa da idosa onde trabalhava. A advogada que a representa é filha dessa idosa”, disse.

De acordo com os atendentes, por conta da pandemia, houve aumento na quantidade de chamadas recebidas pelo Samu, o que aumentou o trabalho do grupo. Entre março e setembro desse ano, 200 mil chamadas foram realizadas. Mesmo com essa alta demanda, Darci continua fazendo ligações para a equipe. “Ela diz que somos os amigos dela. Não é um trote dizendo que está morrendo, algo convencional. É como se fizéssemos parte da vida dela. Ela liga pra nos dizer que vai tomar café, por exemplo. Se desligarmos, logo aparece outra chamada”, disse a atendente Elenice Ramos.

A equipe desenvolveu algumas estratégias para lidar com essa pessoa. “Quando a gente tem uma mesa livre, às vezes, a gente prende com a chamada dela. Ela passa horas no telefone e fica ouvindo nosso trabalho, quieta. Então, ela dorme e a gente escuta o ronco. Só nessa hora que a gente desliga e libera a mesa”, relata Luciana.

Das 200 mil chamadas recebidas pelo Samu durante a pandemia, 20 mil foram trotes. O número é alto, mas inferior ao que se obteve no mesmo período do ano passado, com 40 mil trotes - número que foi influenciado pelo período em que Darci ligou mais intensamente para a equipe. “Outros números também surgiram, como o 155 do Tele Coronavírus, que pode ter absorvido alguns trotes. O nosso volume de atendimentos também aumentou e isso dificultou os que queriam passar trotes, pois tinham que esperar mais na linha. Vamos esperar a pandemia passar para ver se essa tendência de queda permanece”, disse Paiva.

Trotes
Os atendentes do Samu classificam os trotes que recebem em três tipos: o de crianças que desejam brincar, de pessoas com prováveis problemas mentais e de adultos que inventam uma história que poderia ser verdadeira. Esse terceiro tipo é o pior, pois quando não identificado como trote, resulta no deslocamento de uma equipe de atendimento móvel para o local informado. “É muito frustrante quando chegamos no local e não achamos nada. Se vira rotina, começa a atrapalhar o andamento psicológico”, avalia o médico Rafael Marcelino, 30.

A atendente Elenice Ramos destaca ainda um outro tipo de trote que tem recebido, principalmente, durante a madrugada: de assédio sexual. “São tarados que ligam e começam a falar coisas inapropriadas”, lamenta. Marilene Cavalcante, 47, percebe que na pandemia aumentou a quantidade de pessoas que alegaram estar com falta de ar: “Só quando a equipe chega no local que percebe outro quadro de saúde e não o apontado”. No entanto, o médico Rafael Marcelino destaca que esse procedimento não é considerado trote: “Pode ser que ele esteja num estado de estresse psicológico que dê essa sensação de falta de ar.

Na linha de frente do combate à covid-19, os profissionais do Samu são responsáveis por realizar atendimentos de pessoas que estão em casa e precisam de suporte médico. Com mais gente em casa e hospitais sobrecarregados, a equipe viu aumentar o número de óbitos que ocorreram em residências. Segundo Ivan Paiva, de maio a julho de 2019, o Samu registrou 192 óbitos em casa ou na ambulância. Nesse mesmo período de 2020, houve um salto para 779, um aumento de mais de 300%.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador recebeu durante a pandemia cerca de 20 mil trotes por telefone - 10% de um total de 200 mil chamadas. Os dados foram contabilizaods desde março. Considerado crime, o trote teve número menor que no mesmo período de 2019, quando foram registradas 40 mil ligações indevidas. Mesmo com essa queda pela metade, ainda é considerado algo preocupante pelas autoridades.

A ligação com falso pretexto prejudica o serviço, podendo retardar o atendimento a quem realmente está precisando, o que aumenta chances de mortes e sequelas que poderiam ser evitadas com socorro rápido. Também gera desperdício de dinheiro público por conta do deslocamento de ambulâncias.

O médico e coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, Ivan Paiva, considera que existem duas categorias de trotes. A primeira é de crianças que fazem as ligações para se divertir - e são mais rapidamente identificadas pelos atendentes. A outra é de adultos que simulam histórias que levam à perda de tempo e dinheiro com atendimentos a situações inexistentes. Eles podem ser presos se identificados.

"Esses casos (de adultos mal intencionados) são mais danosos, mais elaborados. A pessoa liga e diz que acabou de presenciar um acidente, uma pessoa passando mal, e vai respondendo às perguntas e criando uma situação que, pelo telefone, o atendente não consegue identificar se é trote ou não. Esse chamado ocupa linha telefônica e é encaminhado para o médico, ocupando também o tempo desse profissional. Encaminhamos a ambulância e, quando chegamos ao local, percebemos que a situação não existia. Não consigo entender porque alguém tenta brincar com a vida alheia”, diz Paiva.

Ligações de crianças recebem a mesma atenção das atendentes que a de adultos, já que estas podem estar tentando pedir ajuda para uma emergência real com algum familiar. No trote, é fácil identificar. A maioria das ocorrências é justamente de crianças e, por isso, o médico pede atenção aos pais.

“Pedimos aos pais para sempre estarem de olho na lista de ligações do celular dos filhos e, se a criança estiver ligando para os números 192, 193 ou 190, fazer a orientação deles de forma adequada. Muitas vezes, a criança não tem noção e acha que é uma simples brincadeira".