Autoridades realizam uma inspeção no centro de treinamento do Flamengo, o Ninho do Urubu, na manhã desta terça-feira (12), para definir se há necessidade de interdição. O Corpo de Bombeiros e a Prefeitura do Rio chegaram ao local antes das 10h. A Polícia Civil e o Ministério do Trabalho também participam. O objetivo é apurar possíveis irregularidades no local, onde dez garotos morreram e outros três ficaram feridos em um incêndio na última sexta-feira (8).

O caso está sendo investigado pela 42ªDP (Recreio dos Bandeirantes). Os investigadores devem ouvir os depoimentos de funcionários do Flamengo que estavam no local na hora do incêndio. O gerente de patrimônio do clube e outros três profissionais devem falar aos policiais. A expectativa é que eles esclareçam quais eram as equipes que prestavam serviços ao Ninho do Urubu e sobre as condições das instalações.

Representantes da empresa responsável pela construção dos módulos onde as vítimas dormiam também devem prestar depoimento.

O incêndio atingiu o alojamento dos atletas da divisão de base do futebol do clube, que ficava em uma área de estacionamento do centro de treinamento.

O meio-campo Diego Ribas, uma das estrelas do time principal, falou em entrevista coletiva pouco antes da vistoria que chegou a usar a estrutura provisória do clube. Ele chegou a se emocionar durante a declaração.

“Em relação às estruturas do Flamengo é nítido e claro que é um clube que tem procurado evoluir diariamente e tem demonstrado isso. Não só para os profissionais, mas pra base. Cheguei em 2016, era tudo de container: usei toda essa estrutura. Acompanhei a evolução do clube. Não estou aqui para falar das questões técnicas e burocráticas. Se alcançou o ideal ou não, não cabe a mim dizer. É uma tragédia. A maior do clube. Quem está aqui vai carregar isso,” destacou o atleta, que visitou os sobreviventes na segunda.

Entre os três atletas feridos, Jhonata Ventura permanece internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do centro de queimados do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. Ele não está mais sedado.

Francisco Dyogo segue internado no Hospital Vitória e continua no CTI, pois precisa da ajuda de aparelhos para respirar. Ele teve uma melhora no quadro de saúde. Cauan Emanuel teve alta e está com a família em um hotel. Quando estiver bem, ele deve ir para Fortaleza com a família.

Em uma reunião no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) na tarde de segunda, o Flamengo comunicou a decisão de suspender o pernoite de qualquer pessoa, inclusive de atletas, no Ninho do Urubu.

O clube também prometeu trabalhar para a liberação de indenizações aos familiares das vítimas "o mais rápido possível" e afirmou que não está "poupando esforços" para atender os parentes.

Dois projetos enviados pelo Clube de Regatas do Flamengo à Prefeitura do Rio – um em 2010 e o outro em 2018 – não previam o módulo de contêineres que pegou fogo. A TV Globo obteve as plantas com exclusividade.

No papel, a área do alojamento receberia outros usos: no Bloco 7, ficariam depósitos e uma lavanderia; no Bloco 8, um escritório da administração; espaços em branco foram assinalados como estacionamento.

Na atualização da planta em 2018, os contêineres onde dormiam atletas das categorias de base também não apareciam. Mas houve algumas novidades no projeto. As mudanças previstas pelo Flamengo aumentariam o estacionamento, que ocuparia as áreas onde ficariam a lavanderia e a administração.

Em nota, a prefeitura explicou que a licença obtida em abril pelo Flamengo com esse novo projeto permitia apenas a construção de prédios, e não a utilização.

Para a prefeitura, o CT ainda estava em construção; por isso, não tinha o habite-se - a certidão atestando que o local está pronto pra ser habitado e que foi construído conforme as exigências estabelecidas pelo município.

O Ninho do Urubu também não tinha alvará de funcionamento e chegou a ser interditado em outubro de 2017 e, desde então, foi multado 31 vezes. O Flamengo pagou 21 dessas multas.

Fonte:G1

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