Diretor de filme quer ouvir biografada após acusação de diploma falso
O diretor Alê Braga, responsável pelo filme sobre a história de vida de Joana D'Arc Félix de Sousa, 55, disse que ele e a atriz Taís Araujo, produtora associada do longa, querem ouvir a versão da cientista.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta terça (14), mostra que a biografada não possui formação na Universidade Harvard e teria usado um diploma falso na tentativa de confirmar a informação.
"Ainda é muito prematuro falar. Não tivemos gastos oficiais com o filme, tirando a nossa dedicação pessoal. Com isso, não saímos contratando pesquisadores, não fizemos essa pesquisa mais fina. Se ela é ou não formada em Harvard, estávamos confiando até o momento no Currículo Lattes dela, que é público, assim como nas informações de prêmios que ela ganhou. Mas estamos esperando ouvir a versão dela para a partir daí a gente poder pensar o que acontece de agora em diante", disse Braga em entrevista à reportagem.
O diretor contou que conhece Joana D'Arc desde 2016 e a ideia do filme era contar a história de superação dela. Filha de mãe empregada doméstica e pai curtumeiro, Joana teria feito pós-doutorado em Harvard nos anos 1990. Antes de chegar lá, porém, sofreu discriminação social (as salas no ensino médio eram divididas por renda; na A, ficavam os mais ricos -ela ficou na F), racial (era chamada de "a negrinha do curtume") e passou fome para conseguir se formar em química na Unicamp. De volta à Franca, sua cidade natal, transformou a Etec Professor Carmelino Corrêa Jr. em centro de inovação.
A reportagem do Estado, no entanto, afirma que pediu a Joana documentos que comprovassem a sua formação na universidade. A professora encaminhou ao jornal um diploma, datado de 1999, com o brasão de Harvard, o nome dela e a titulação de "Postdoctoral in Organic Chemistry". Ao encaminhar o documento para análise em Harvard, a universidade informou ao veículo de comunicação que não emite diploma para pós-doutorado e alertou também sobre um erro de grafia -estava escrito "oof", em vez de "of".
O Estado também procurou o professor emérito de química em Harvard Richard Hadley Holm, que teria assinado o diploma, mas ele respondeu por email que o certificado é falso. "Essa não é a minha assinatura, eu não era o chefe de departamento naquela época. Eu nunca ouvi falar da professora Sousa".
Questionada pelo jornal Estado sobre o diploma, Joana disse que o documento foi feito para uma "encenação de teatro". "Mas eu não concluí (o pós-doutorado), eu não tenho certificado", afirmou. "As meninas mandaram junto quando o jornalista me pediu documentos. Eu pensei: tenho que contar isso para o jornalista, mas não falei mais com ele."
Ela também falou que não trabalhou no laboratório da universidade e que a sua pesquisa foi desenvolvida no Brasil.
Segundo o diretor Alê Braga, o filme sobre a vida de Joana ainda está em fase muito inicial e, por isso, as pesquisas nas universidades ainda não tinham começado. "A pesquisadora que ia fazer agora os contratos formais com as universidades para poder fazer a pesquisa fina de onde a gente poderia contar cada história e tudo mais, ela estava começando a trabalhar (...) Acho que isso que apareceu [a denúncia do Estado] a gente ia descobrir ao longo da pesquisa, mas eu realmente acho que preciso ouvir a Joana antes de qualquer coisa."
"Conheci a Joana, os prêmios que ela recebeu, prêmios de enorme porte como, por exemplo, o "Faz Diferença", do jornal O Globo, e vários outros. Ela sempre falou com a gente, com todos os detalhes muito interessantes. Eu fui a dez palestras dela. O ponto para mim agora é: eu quero entender o que está acontecendo", complementou.
Braga contou que conversou com Tais Araújo e que ela se encontra na mesma situação. "A gente ficou muito próximo dela e desenvolveu todo um argumento do filme baseado nos fatos que a gente conhecida. O mais importante é que a gente não vai apontar dedos, nem para ela nem para quem fez a matéria, estamos em um momento de entender melhor".
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da atriz disse que ainda não tinha uma posição dela sobre o assunto.
Na semana passada, o filme foi alvo de outra polêmica, quando Taís anunciou que tinha desistido de interpretar Joana D'Arc no longa após reclamações nas redes sociais de que o tom de pele da atriz era mais claro do que o da cientista, o que a inviabilizaria para o trabalho.
"Quando eu li [as queixas], só falei que eles estavam cobertos de razão. Quando me dei conta do que acontecia eu nem desconfiei, eles estavam certos. Eu não seria a melhor pessoa."
Fonte: Bahia Notícias