As primeiras doses da vacina russa Sputnik V devem chegar ao Brasil em julho. A informação foi dada à CNN pelo governador do Maranhão, Flávio Dino. Já de acordo com o secretário de saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, ainda não é possível afirmar uma data. No sábado (5), gestores-chefes do Executivo das regiões Norte e Nordeste se reuniram para definir os próximos passos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a importação, sob condições controladas, de 928 mil doses da Sputnik V. Também foi aprovada a importação, nas mesmas medidas, de 4 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, que ainda não têm previsão de chegada ao Brasil.

A aprovação da Anvisa, na última sexta-feira (4), faz com que a Sputnik V e a Covaxin se juntem à Coronavac, Astrazeneca/Oxford e Pfizer, todas já em uso no Brasil. Os dois novos imunizantes a entrarem na lista foram lançados antes mesmo da conclusão dos estudos, se tornando alvo de incertezas. Agora que chegam ao Brasil, serão aplicados com diversas restrições e exigências de acompanhamento. Entenda o porquê e o que se sabe sobre as duas vacinas:

Sputnik V
Com a decisão da Anvisa, o Brasil se tornou o 67º país do mundo a autorizar a Sputnik V. Mas a marca poderia ter sido alcançada bem mais cedo. É que, ainda em março deste ano, o governo da Bahia anunciou um contrato para a compra de 9,7 milhões de doses da Sputnik V, como parte de negociação do Consórcio Nordeste com o Fundo de Investimentos Diretos da Rússia, que fornecerá 37 milhões de doses ao Brasil. A primeira remessa, que tinha previsão de chegar em abril, seria de 2 milhões de doses. Sem autorização da Anvisa, contudo, não houve remessas.

Agora, a Anvisa autorizou a importação por seis estados, no quantitativo equivalente a 1% da população de cada um. O estado da Bahia foi autorizado a importar 300 mil doses; o Maranhão, 141 mil doses; Sergipe, 46 mil doses; o Ceará, 183 mil doses; Pernambuco, 192 mil doses, e o Piauí, 66 mil doses. A agência informou que “vai analisar os dados de monitoramento do uso da vacina para poder avaliar os próximos quantitativos a serem importados”.

O secretário Vilas-Boas, em entrevista no sábado (5) à TV Bahia, informou que ações já estão sendo feitas para agilizar a chegada das doses da Sputnik à Bahia. “Estamos analisando de que forma podemos agilizar todas as condicionantes [impostas pela Anvisa]. Já dividimos elas. Uma pequena parte deverá ser providenciada pelo fundo russo e outra parte caberá a nós secretários estaduais de saúde, mas tudo dentro do previsto e do que já imaginávamos que seriam nossas responsabilidades de fazer todo o processo de acompanhamento de farmacovigilância da introdução dessa vacina no país”, afirmou o secretário.

Vilas-Boas, contudo, explicou que ainda não é possível dizer quando a vacina chegará em solo baiano. “Depende agora de uma conversa com os russos. Temos que fazer um ajuste legal no nosso contrato. O contrato que temos prevê uma quantidade de 37 milhões [de doses para o Nordeste] e nós vamos ter que fazer um aditivo informando que será de 1% inicialmente e, posteriormente, com a autorização definitiva da Anvisa, a gente poderá executar o resto do contrato”, destacou.

A Sputnik V foi o primeiro imunizante registrado contra a covid-19 no mundo. A vacina foi lançada pela Rússia em agosto de 2020, com testes ainda em andamento. A principal preocupação em torno do imunizante diz respeito ao tipo de tecnologia utilizada: vetor viral não replicante.

Isso significa dizer que os cientistas utilizaram adenovírus para simular no organismo a presença de uma ameaça mais perigosa e que se deseja combater para gerar uma resposta imune. Eles foram modificados para não serem capazes de se replicar depois que entram nas células humanas.

Ao contrário de outros imunizantes que também usam adenovírus, como o da AstraZeneca/Oxford e o da Janssen, a Sputnik V é a única a usar dois vetores: o Ad26 e o Ad5, um em cada dose. Esse é justamente o trunfo da vacina russa, em comparação com as outras.

"A ideia de modificar dois adenovírus diferentes é para reduzir uma possível resposta imune contra o próprio vetor. Por isso, ela tem uma eficácia maior do que as outras vacinas com vetor viral. A eficácia dela no estudo publicado foi acima de 90, enquanto as outras ficam em torno de 70% a 75%", diz a infectologista e imunologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz e integrante da Rede Covida.

Usar um adenovírus geneticamente modificado para que não se repliquem é algo relativamente comum - acontece em vacinas como a do ebola, por exemplo. Esse tipo de imunizante costuma ser considerado seguro pela comunidade científica.

O problema, segundo a Anvisa, é que os adenovírus usados nessa vacina poderiam, sim, se replicar e isso pode fazer mal à saúde de quem for imunizado com ela. O fato está ainda em discussão e documentos estão sendo solicitados para análise e conclusão.

“A Sputnik está sendo usada em mais de 60 países e não temos ouvido falar de efeitos ou reações graves. As reações que estão sendo observadas são normais de algumas vacinas. Quem recebe vacina pode ter febre, dor no local da aplicação, moleza, sintomas já esperados”, acrescenta Fernanda.

Covaxin
Já a indiana Covaxin faz parte de um contrato do Ministério da Saúde com a Precisa Medicamentos/Bharat Biotec para compra de 20 milhões de doses. A previsão era da chegada de 8 milhões de doses ainda em março, mas a importação não foi autorizada. A decisão de sábado da agência regulatória brasileira permitiu, por enquanto, o uso de 4 milhões de unidades do imunizante.

A Anvisa ponderou o fato de não ter recebido relatórios da agência indiana, o curto prazo de acompanhamento dos participantes dos estudos e a inconclusão dos estudos da fase 3, etapa que atesta a eficácia da vacina.

A Covaxin usa versões inativadas do Sars-CoV-2. Essa é uma tecnologia tradicional e semelhante à utilizada pela Coronavac, do Instituto Butantan. “A partir do vírus inteiro, as substâncias químicas são inativadas e são adicionadas então substâncias que fazem aumentar a resposta imune”, explica a imunologista. A vacina, portanto, contém vírus mortos, incapazes de infectar pessoas, mas ainda capazes de instruir o sistema imunológico a montar uma reação defensiva contra uma infecção.

Vacinas com vírus inativados, como a Covaxin, têm tecnologia semelhante a de vacinas da gripe, poliomielite, entre outras. É uma plataforma bem estabelecida e considerada segura na produção de vacinas. “São as vacinas, digamos, mais fáceis de serem feitas. A vantagem é a facilidade e o fato de já conhecermos. Mas elas dão uma imunidade um pouco menor do que outras vacinas com outras tecnologias. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens”, pontuou Fernanda.

Outra possível vantagem das vacinas com vírus inativados é o melhor funcionamento contra mutações. Parte dos imunizantes disponíveis hoje (como o da Pfizer e o da Astrazeneca) focam na proteína S, a spike, do agente infeccioso. Se esse trecho do vírus sofre mutações, é possível que as doses percam parte da eficácia, embora isso precise ser estudado. O produto da Barat Biotech, por outro lado, apresenta o vírus todo (inativado) ao sistema imune. Com isso, a chance de reconhecer o Sars-CoV-2 mesmo se ele sofrer alterações relevantes seria maior.

Aprovação com restrição
A Anvisa considera que ainda faltam informações sobre os dois imunizantes - motivo pelo qual o pedido inicial foi negado em março, no caso da indiana Covaxin, e em abril, para a russa Sputnik V. Entretanto, por votação de 4 a 1, a diretoria colegiada decidiu que o atual momento da pandemia no Brasil justificaria aprovar a importação "com condicionantes". Isso significa que a Anvisa não se responsabiliza pela eficácia e segurança, mas permite a importação e aplicação restrita, entregando a responsabilidade aos fabricantes e compradores.

Caso o uso emergencial, que está, separadamente, em análise, seja reprovado pelo órgão brasileiro ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os estados devem suspender a importação, distribuição e uso dos imunizantes imediatamente. A autorização do uso emergencial é dada pela Anvisa após a análise e constatação de eficácia e segurança de uma vacina.

Como ressaltou o gerente geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, nenhuma das duas vacinas deve ser usada por quem tem hipersensibilidade a qualquer dos componentes da fórmula, como grávidas, lactantes, menores de 18 anos, maiores de 60 anos, mulheres em idade fértil que desejam engravidar nos próximos 12 meses, pessoas que tenham enfermidades graves ou não controladas (cardiovascular, respiratória, gastrointestinal, neurológica, insuficiência hepática, insuficiência renal, patologias endócrinas) e antecedentes de anafilaxia.

Não poderão usá-las pessoas que tenham recebido outra vacina contra a covid-19, apresentem febre, tenham HIV e hepatite B ou C, tenham se vacinado nas quatro semanas anteriores, tenham recebido imunoglobulinas ou hemoderivados três meses antes, tenham recebido tratamentos com imunossupressores, citotóxicos, quimioterapia ou radiação nos últimos 36 meses e que tenham recebido terapias com biológicos incluindo anticorpos anticitocinas e outros anticorpos.

As 5 vacinas aprovadas no Brasil

*No Brasil, nenhuma vacina está sendo aplicada em pessoas com menos de 18 anos.

Sputnik V

Fabricante: Instituto Gamaleya de Pesquisa (Rússia).
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de 2021.
Tipo de aprovação: Importação de lotes com restrições
Quantidade de doses: Duas. A aplicação precisará ter atenção redobrada, pois o conteúdo da primeira e da segunda dose da Sputnik são diferentes.
Intervalo entre as doses: 21 dias (com possibilidade de ser ampliado para três meses)
Taxa de eficácia: 91%.
Efeitos colaterais: Comum - doença semelhante à gripe, dor de cabeça, fadiga, reações no local da injeção. Foi confirmado pelo Comitê Independente de Monitoramento de Dados que nenhum evento adverso sério relacionado à vacina foi observado.

Covaxin

Fabricante: Bharat BioTech (Índia).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de 2021
Tipo de aprovação: Importação de lotes com restrições.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 4 semanas.
Taxa de eficácia: 78% (100% em casos graves)
Efeitos colaterais: Estudos publicados sobre as fases 1 e 2 não mostram efeitos colaterais graves.

Coronavac

Fabricantes: Sinovac (China) e Instituto Butantan (Brasil).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado. O coronavírus é inativado por ação do calor ou de algum produto químico. Quando o corpo recebe a vacina, o vírus inativado faz com que o corpo gere anticorpos contra a covid-19. Isso porque as células de resposta imune “capturam” o vírus inativado e ativam a ação dos chamados linfócitos, células que são especializadas em combater microrganismos. São elas que produzem os anticorpos, que impedem que o vírus infeste outras células e fiquemos doentes.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de 2021.
Tipo de aprovação: Emergencial.
Quantidade de doses necessárias: Duas.
Intervalo entre as doses:2 a 4 semanas.
Taxa de eficácia: 50% (Pode chegar a 62%)
Efeitos adversos: Muito comum - dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço. Comum - cansaço, febre, dor no corpo, diarreia, náusea, dor de cabeça, enjoo, dor muscular, calafrios, tosse, perda de apetite, coceira, coriza. Incomum - vômitos, dor abdominal inferior, distensão abdominal, tonturas, tosse, perda de apetite, reação alérgica, pressão arterial elevada, hipersensibilidade alérgica ou imediata, inchaço, coceira, vermelhidão, diminuição da sensibilidade, endurecimento, hematoma, vertigem

Astrazeneca/Oxford

Fabricantes: AstraZeneca (Inglaterra/Suécia), Universidade de Oxford (Inglaterra) e Fundação Oswaldo Cruz (Brasil).
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante. A vacina produzida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) usa um "vírus vivo", como um adenovírus que provoca um resfriado comum, modificado para conter instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus. No entanto, na proporção aplicada, ele não tem capacidade de se replicar e prejudicar a saúde humana. Quando rompe as células, esse adenovírus estimula a produção dessa proteína, que é detectada pelo sistema imune. A partir daí, o corpo cria uma resposta contra o coronavírus.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de 2021. (Uso emergencial)
Tipo de aprovação: Definitiva. (12 de março de 2021)
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 12 semanas.
Taxa de eficácia (global possível): 81%.
Observação: No Brasil, não está sendo aplicada em gestantes.
Efeitos adversos: Muito comum - sensibilidade, dor, sensação de calor, coceira ou hematoma, indisposição, cansaço, calafrio, febre, dor de cabeça, enjoo, dor muscular ou nas articulações. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas. Comum - inchaço, vermelhidão ou um caroço no local da injeção, febre, enjoos, diarreia, sintomas semelhantes a resfriado, dor de garganta, coriza, tosse. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas. Incomum - sonolência, tontura, diminuição do apetite, dor abdominal, ínguas, suor, coceira ou erupção na pele. Ocorrem em 1 em cada 100 pessoas. Muito raro - coágulos sanguíneos graves em pessoas com níveis baixos de plaquetas. Foram observados com uma frequência inferior a 1 em 100.000 indivíduos vacinados. Desconhecido - reação alérgica grave, inchaços graves nos lábios, face, boca e garganta. Não pode ser calculada a partir dos dados disponíveis

Pfizer

Fabricantes: Pfizer (Estados Unidos) e BioNTech (Alemanha).
Tipo de tecnologia: mRNA. A vacina é criada a partir da replicação de sequências de RNA que mimetizam a proteína spike, específica do vírus Sars-CoV-2. Essa versão consegue desencadear uma reação do sistema imunológico, que cria uma defesa, sem causar danos à saúde.
Data de aprovação pela Anvisa: 23 de fevereiro de 2021.
Tipo de aprovação: Definitiva.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 12 semanas.
Taxa de eficácia (global possível): 95%.
Efeitos adversos: Muito comuns - dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre. Ocorrem em 10% dos pacientes. Comuns - vermelhidão no local de injeção, náusea e vômito. Ocorre entre 1% a 10% dos pacientes. Incomuns - aumento dos gânglios linfáticos, reações de hipersensibilidade [lesão na pele ou coceira, inchaço da pele ou mucosa, sensação de mal estar, dor no braço, insônia e prurido no local de injeção. Ocorrem entre 0,1% e 1%.. Rara - paralisa facial aguda. Ocorrem entre 0,01% e 0,1%. Desconhecido - reação alérgica grave (anafilaxia).

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Os nove estados do Nordeste, liderados pela Bahia, acertaram os termos de compra de 25 milhões de doses da vacina russa Sputnik V. Resta apenas assinar o contrato com o Fundo Soberano Russo, que desenvolveu e distribui o produto. As informações são da Folha de S.Paulo.

As doses seriam importadas da Rússia, mas é importante lembrar que a vacina ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governador Rui Costa tem atacado a postura do órgão, o qual acusa de "insensibilidade" diante do agravamento da crise sanitária.

“Fico indignado com a falta de sensibilidade da Anvisa e do Governo Federal. Hoje tenho 300 pessoas aguardando regulação para leitos de UTI. Nos últimos 15 dias abrimos 300 leitos e estes foram ocupados em sua integralidade. Estou com pessoas pedindo desesperadamente um leito de UTI, enquanto isso, temos que lidar com a absoluta insensibilidade de um presidente da República fazendo gracinha e enviando mensagens para sua tropa de choque atacar governadores e prefeitos”, desabafou nessa terça o governador baiano, durante reunião virtual com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e outros governadores. Rui pediu ajuda dos parlamentares para agilizar o trâmite da liberação de compras das vacinas pelos estados.

Nesta quarta, em entrevista a canais de TV locais, o governador voltou a criticar a Anvisa e o governo federal pela postura diante da falta de celeridade na aprovação.

Abril a julho
Em tese, as primeiras doses chegariam em abril e seriam todas entregues até julho - o laboratório brasileiro União Química também vai produzir o imunizante, o que será objeto de outro contrato com os governadores.

À Folha, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), informou que as doses da Sputnik serão entregues para o Programa Nacional de Imunização. Dias é o coordenador da seção de vacinação do Fórum de governadores.

Alguns governadores de fora da região, porém, pensam em usar as doses em seus próprios estados caso o governo federal não consiga cumprir seus prazos de vacinação, conforme a Folha apurou junto a três governos das regiões Sul e Centro-Oeste. O Ceará estuda como proceder.

Dias conta também que, nessa terça-feira (2), a União Química prometeu aos governadores tomar providências para obter aprovação da Sputnik na Anvisa. Até segunda-feira, o laboratório apresentaria aos governadores o cronograma de produção e entrega do produto.

Vacina do Butantan
Segundo Dias, os governadores também pediram uma “proposta firme de entrega” de vacinas produzidas pelo Instituto Butantan, da chinesa Sinovac.

A intenção é comprar do instituto paulista mais 30 milhões de doses. Outras vacinas em vista estão “em espera”: não é possível negociar enquanto o governo federal não chega a um acordo com Pfizer, Janssen e Moderna.

Nesta semana, o Congresso aprovou a lei que também autoriza estados, Distrito Federal e municípios a “assumir os riscos referentes à responsabilidade civil” pelos efeitos adversos das vacinas” e a compra dos produtos, sob certas condições.

A responsabilidade pelos riscos pós-vacinação vem sendo um empecilho na compra de vacinas como a produzida pela Pfizer. Na prática, trata-se mesmo de uma autorização para a compra de vacinas por outros governos que não o federal - e também por empresas.

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O governador Rui Costa disse que se reuniu nesta sexta-feira (26) com o Fundo Soberano Russo para negociar a compra de doses da vacina Sputnik V para a Bahia. Ele disse que apresentou a demanda do estado e teve uma recepção "absolutamente positiva".

Agora, a Procuradoria Geral do Estado vai seguir em diálogo com a assessoria jurídica do laboratório russo para negociar os termos do contrato. "Eles podem nos fornecer, nós queremos vacinar e entendemos que a decisão do STF nos permite fazer a compra direta e aplicar a Sputnik V", escreveu.

Rui citou ainda conversas com a fabricante Pfizer. "A Pfizer também já nos garantiu que poderá nos atender se a negociação com o Governo Federal for frustrada. Continuaremos batalhando pelas vacinas", finalizou.

Ontem, ele disse que a Pfizer informou que abrirá negociações com os estados se não entrar em acordo com o governo federal em março. "A situação é muito grave pelo ritmo de crescimento da doença. Não há horizonte de curto prazo por crescimento por parte do governo federal de envio (de vacinas). Há critério de distribuir proporcionalmente aos estados e município. Hoje tive reunião com a Pfizer e a Procuradoria do Estado. Eles sinalizaram que definiram com o governo federal um prazo pro início de março. Até lá vão tentar fechar a negociação se vende ou não pra eles. Só após dessa data, não fechando venda pro governo federal, abririam venda pros estados. Evidentemente, colocaram a Bahia como prioridade, porque fizeram testes da fase 3, com todo apoio", garantiu.

Ele também já havia falado do interesse na Sputnik V. "Uma vez que foram disponibilizadas no início de janeiro e nem o governo federal fechou e nem nós podíamos fechar naquela época, porque não tinha decisão do STF e Anvisa não tinha regulamentado, como até agora não regulamentou. Mas agora temos a decisão do STF, que nos permite fazer essa compra", disse Rui. A Bahia fez um acordo que dava direito a comprar 50 milhões de doses da vacina, mas cedeu o direito ao governo federal.

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As dificuldades de encontrar vacinas disponíveis para uso imediato e os entraves impostos pela China e Índia em liberar para o Brasil os insumos usados na fabricação dos imunizantes, levaram o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), a defender o uso da vacina russa Sputnik V, posição também tomada pelo governo do estado. Usada tambén na Argentina, a Sputnik aguarda a liberação de uso emergencial no Brasil por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

As dificuldades na importação de doses e de insumos para produzir vacinas são uma grande ameaça à campanha de imunização brasileira, iniciada no último domingo, em São Paulo. Para especialistas, há risco real de a vacinação contra a covid-19 ser interrompida em pouco tempo, por falta total de imunizantes.

O plano de imunização começou com apenas seis milhões de doses da Coronavac, importadas da China. Outros dois milhões de doses do imunizante de Oxford, produzidas na Índia, já deveriam ter chegado. Mas, depois de dois adiamentos, o governo desistiu de fixar nova data para receber o produto. O volume disponível não é suficiente nem mesmo para vacinar os profissionais de saúde, que somam cinco milhões de pessoas no Brasil.

Daí a necessidade de contar com outros imunizantes, como é o caso da Sputnik V. "A aquisição de vacinas é hoje um problema mundial. Por isso, a prefeitura se associa ao Estado nessa luta e também está disposta a utilizar recursos próprios para a aquisição da Sputnik. Somente com a imunização das pessoas vamos conseguir retomar a normalidade. Graças à pandemia, Salvador, que estaria vivendo agora o seu melhor verão, teve que se reinventar", declarou Bruno Reis, ontem pela manhã, durante a solenidade que marcou o início da campanha de vacinação contra o novo coronavírus na capital baiana.

A indústria farmacêutica União Química solicitou à Anvisa a autorização do uso emergencial da vacina russa Sputnik V. Mas a agência não atendeu ao pedido. “A Anvisa restituiu os documentos para a empresa. Não chegamos a analisar o pedido de uso emergencial por entender que os critérios essenciais não estavam atendidos”, respondeu a Anvisa ao CORREIO.

No comunicado divulgado no último sábado (16), a Anvisa citou a falta de estudos clínicos da fase três da vacina. Na semana passada, a agência determinou como um dos critérios para pedido e uso emergencial que o laboratório realize a fase três dos estudos no Brasil. Até o momento, o imunizante da Sputnik não iniciou esta etapa do processo em território brasileiro.

No dia 31 de dezembro, a União Química solicitou à Anvisa a autorização para a condução dos ensaios clínicos da fase três no Brasil. O processo foi analisado pela Anvisa, mas foi identificada a falta de documentos. A agência pediu, no dia 4 de janeiro, que o laboratório apresentasse as informações faltantes e complementares e afirmou ao CORREIO que ainda não recebeu os documentos. Em nota divulgada no domingo a empresa afirmou que as informações adicionais “serão fornecidas em breve”.

A União Química afirmou que, se o uso for autorizado, ela terá condições de fornecer 10 milhões de doses ainda no primeiro trimestre de 2021. A empresa tem acordo de exclusividade com o Fundo Russo de Investimento Direto para a produção e distribuição da vacina contra Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Gamaleya para o Brasil e países da América Latina. Contudo, sem a aprovação do uso emergencial do imunizante, o estoque pode ser exportado do Brasil para países vizinhos como a Argentina e a Bolívia.

Segundo o governo do estado, a Bahia tem um acordo de acesso prioritário a 50 milhões de doses do imunizante russo, mas esbarra na falta de liberação da Anvisa para utilizá-las. Para tentar resolver este impasse, o executivo baiano entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), que tem como relator o ministro Ricardo Lewandowski, para garantir a liberação do imunizante.

A ação, ajuizada no último sábado, solicita que seja permitido aos estados comprar e distribuir vacinas contra covid que não tenham registro da Anvisa, mas que tenham autorização de alguma agência reguladora de referência de outro país certificada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Com isso, caso alguma vacina contra covid tenha sido registrada por agência sanitária certificada pela Opas, como é o caso da Sputnik V, utilizada na Rússia e na Argentina, torna-se dispensável o registro da Anvisa, que deverá autorizar a importação e distribuição. "Temos pressa, isso é urgente. A burocracia, as ideologias e o ódio precisam ser colocados de lado para salvar vidas humanas”, declarou o governador Rui Costa.

De acordo com ele, a quantidade de doses da vacina Coronavac recebidas até agora pelos estados é pequena. No caso da Bahia, vai possibilitar a vacinação de apenas cerca de 180 mil pessoas. “Sou contra qualquer tipo de politicagem envolvendo a vacinação, portanto nossa ação no STF para liberação da compra da Sputnik V não tem como objetivo gerar qualquer tipo de ganho político para quem quer que seja. Nosso objetivo é que a compra seja liberada para que mais brasileiros e brasileiras possam ser vacinados”, aponta Rui Costa.

Rui Costa ainda acrescenta: “O governo federal não se mostrou célere como precisava diante da crise gravíssima que vivemos, então não podíamos continuar assistindo tantas mortes pela covid-19 no Brasil de braços cruzados”.

Cenário

O secretário da Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, resume o cenário atual: “Estamos 100% dependentes da Coronavac, cuja produção integral é na China. A outra vacina aprovada, a de Oxford, não há sinais de que o governo federal vá conseguir adquirir no curto prazo", afirmou o secretário. No Brasil, além da Bahia, o governo do Paraná assinou um memorando de cooperação para ter acesso à Sputnik V.

Enquanto o Brasil espera, já chegou à Argentina, sábado passado, o segundo lote da vacina russa. O desembarque de cerca de 300 mil doses do imunizante aconteceu no Aeroporto Internacional de Buenos Aires. O país foi o terceiro a aprovar o uso da medicação, depois de Rússia e Belarus. Segundo a União Química, a Sputnik V já está registrada na Sérvia, Belarus, Argentina, Bolívia, Argélia, Palestina, Venezuela e Paraguai e o registro em mais dois países é aguardado para a próxima semana.

Financiada pelo Fundo para Investimentos Diretos da Rússia (RDIF, na sigla em inglês), a Sputnik V é a primeira vacina registrada do mundo. Sua eficácia confirmada, segundo o governo russo, é de 91,4% com base na análise de dados do ponto de controle final dos ensaios clínicos. Já a eficácia contra casos graves de coronavírus é de 100%, segundo a farmecêutica. A vacina leva o nome do primeiro satélite espacial soviético.

Outras vacinas

No domingo (17) a Anvisa aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina da Universidade de Oxford. O pedido sobre a CoronaVac foi apresentado em 8 de janeiro pelo Instituto Butantan e é referente a 6 milhões de doses importadas da China. O Butantan também desenvolve a vacina no Brasil. Essas doses foram distribuídas por todo o Brasil nesta segunda-feira (18) e a vacinação já começou em todos os estados do país.

O pedido sobre a vacina de Oxford foi apresentado em 8 de janeiro pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e é referente a 2 milhões de doses importadas do laboratório Serum, da Índia, que produz a vacina desenvolvida pela universidade do Reino Unido e pelo laboratório AstraZeneca. A Fiocruz também desenvolve a vacina no Brasil.

Mas a vacina de Oxford, mesmo já tendo a aprovação, não pode já ser aplicada porque não há doses disponíveis em solo brasileiro, elas devem chegar da Índia. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, declarou em entrevista coletiva ontem (18) no Palácio do Planalto que a conclusão da viagem para trazer o carregamento de vacinas importadas deve ter uma resolução ainda nesta semana.

Além disso, o Instituto Butantan pediu nesta segunda-feira (18) à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nova autorização para uso emergencial de mais de 4 milhões de doses da CoronaVac. Este segundo lote foi envasado em São Paulo, a partir do princípio ativo enviado da China e já está pronto para utilização. Procurada pelo CORREIO, a Anvisa informou que a análise deve ser concluída até 10 dias após o pedido.

 

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