A pousada Sobrado da Vila, em Praia do Forte, distrito de Mata de São João, teve todos os 27 apartamentos ocupados durante o feriadão da Independência. “Estamos voltando ao normal e, finalmente, conseguindo pagar as dívidas de quando a ocupação estava baixa”, diz Firmo de Azevedo, 75 anos, dono do espaço. Esse é o reflexo do momento vivido pelo turismo baiano. Depois de ser um dos mais impactados pela pandemia, o setor retoma as atividades com toda força, impulsionada pela queda dos casos de covid-19 e aceleração da vacinação.

“As pessoas estão se sentindo mais seguras, pois foram vacinadas. Tem agora uma terceira dose que começou a ser aplicada e tudo isso é esperança para os clientes, que querem sair, e para mim, que já espera um bom verão, se Deus quiser”, projeta, esperançoso, o empresário. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Regional Bahia (ABIH-BA), esse foi o melhor desempenho do turismo desde o Réveillon de 2021, quando o país estava nas vésperas da chegada da segunda onda de contaminações e a rede hoteleira baiana teve ocupação média de 82,5%.

“A gente teve no final do ano passado uma ocupação elevada, pois Réveillon é uma data que muita gente viaja e os índices de contaminação estavam reduzidos. Alguns projetavam até o fim da pandemia naquele momento”, diz Luciano Lopes, presidente da entidade. Segundo o mesmo, a média de ocupação nos hotéis baianos foi de 79,5% neste feriadão, chegando a atingir o pico de 90% no sábado (4).

"Temos percebido uma movimentação muito grande por ser um feriado prolongado e as pessoas, aos poucos, estão retomando a prática do turismo na medida em que a covid-19 tem sido mais controlada", conta Lopes, ressaltando que, antes de pandemia, um feriado como esse representaria uma taxa de ocupação entre 95% e 100%. Por outro lado, no ano passado, apenas 36,5% dos leitos disponíveis estavam ocupados no Sete de Setembro.

Já Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (Fetur-BA), disse que a ocupação média do feriadão foi de 70%, com pico de 77% no sábado. “Antes da crise, a gente atingia 85% e ano passado não chegamos a 50%”, lamenta. Para o representante da categoria, essa foi uma das melhores ocupações de toda a pandemia.

“Em janeiro, auge do verão, não atingimos 50% de ocupação. Só agora os números tão começando a crescer, mas de forma lenta. Nós só recebemos turistas locais e nacionais. Os internacionais não estão vindo e, infelizmente, vão demorar para chegar”, relata. O lamento de Silvio é por causa de alguns países, como o Reino Unido, por exemplo, considerarem o Brasil como local de alto contágio da covid-19, o que desestimula o turismo internacional na Bahia.

Empresários comemoram ocupação

Localizada em Lençóis, na Chapada Diamantina, a pousada Vila Almm vive o melhor momento na pandemia. Dos 16 leitos do espaço, todos já estavam reservados para serem ocupados no Sete de Setembro desde o início de agosto. “Teve muita gente que ligou querendo reservar, mas não tinha mais espaço e tivemos que recusar”, lembra Liliane da Silva Sodré, proprietária do espaço.

“Eu estou muito feliz com essa nossa realidade, pois está voltando tudo ao normal, estamos conseguindo pagar as contas e está dando até para contratar alguém para ajudar no serviço, ou seja, ganha todo mundo com essa retomada”, aponta.

Já Andilma Cardoso, gerente do hotel Costa dos Coqueiros, localizado em Imbassaí, distrito de Mata de São João, teve as expectativas superadas nesse feriadão e também viveu o melhor momento desde o início da pandemia. A previsão era que, no domingo (5), a ocupação chegasse em 92%, mas acabou atingindo os 100%.

“Imbassaí lotou de um jeito que não tinha visto nessa pandemia. Na segunda, nossa ocupação caiu para 90% e só hoje que o povo começou a ir embora, mas de manhã ainda estavam nas praias”, relata.

Embora ainda estejamos no inverno, ela já considera que a Bahia está no Verão por causa do desempenho observado no turismo. “Eu acho que o verão começou nesse Sete de Setembro. A sensação é essa, pois o sol está forte, a cidade está cheia e, a cada final de semana, a tendência é observarmos isso”, justifica.

Rodrigo Lima, dono da pousada Charme do Dido, em Boipeba, distrito de Cairu, também atingiu os 100% de ocupação desde domingo. No entanto, lá ele afirma que isso não tem sido incomum na pandemia. “O movimento no último verão foi bom e a gente já estava sentindo que ia ser assim. Recebemos muita gente de fora da Bahia. Só agora tem pessoas de Goiás, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro”, afirma.

Hotéis em Salvador também ficaram lotados

De casa cheia e com o maior número de quartos ocupados desde o início da pandemia. É assim que esteve o Casa Di Vina Boutique Hotel durante o feriadão da independência. Localizado em Salvador, no bairro de Itapuã, o espaço teve 100% de ocupação no sábado e domingo.

"Isso é resultado da mistura da vacinação com o sol forte. As pessoas estão se sentindo mais seguras e têm procurado mais os hotéis, sobretudo para lazer”, acredita Renata Proserpio, sócia gerente do local.

Só o Dia dos Namorados, comemorado em 12 de junho, teve ocupação também de 100% no local. No entanto, o desempenho desse feriadão foi melhor por gerar mais de um dia seguido de casa cheia. “E a maioria do nosso público é de pessoas da Bahia. Só 40% é gente de estados próximos, mas nossas garagens estão cheias. Tem gente vindo de carro para fazer turismo, o que antes não era tão comum”, aponta.

No Deville Prime Salvador, também localizado em Itapuã, a ocupação atingiu os 100% nos dias mais disputados do feriadão. “Dentro da pandemia, essa é o maior índice porque temos dois dias com 100%, o que é um recorde desde a reabertura. O cenário de busca dos hotéis tem melhorado por causa dos indicadores da pandemia", informa Álvaro Garcia, gerente geral.

Expectativa alta

Não é só da Independência que viverá o trade turístico baiano em 2021. Em outubro, no dia 12, também uma terça-feira, é feriado nacional por causa das comemorações dos 304 anos da aparição de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a padroeira do país. Em novembro, no dia 2, outra terça-feira, é Dia de Finados, e no dia 15, uma segunda-feira, comemora-se a Proclamação da República, outros dois feriados nacionais que chegam antes do Natal e Réveillon.

Tudo isso deixa animado até quem não atingiu os 100% nesse feriadão. Marcos Gallani é gerente operacional do Porto Seguro Praia Resort, que teve 80% de ocupação neste feriado. A expectativa para os próximos são os 100%. “Nós já estamos nos preparando para isso, pois a quantidade de turistas aumenta gradativamente. Nosso setor tem percebido que os indicadores em queda da pandemia e o avanço da vacinação são informações que refletem positivamente na busca por reservas em nossos hotéis”, diz.

Karina Militão é gerente operacional do Hit Hotel, localizado no Porto da Barra. Ela afirma que o local teve 80% de ocupação nesse feriadão, o mesmo atingido no Dia dos Namorados.

“A expectativa está em alta, pois o verão está vindo aí. A localização do nosso espaço ajuda muito e o atendimento é maravilhoso. Já vínhamos de um agosto em que houve uma melhora e apostamos tudo para essa reta final de 2021", relata.

Para o Wish Hotel, a ocupação também foi animadora. Alejandro Vilá Geis, gerente geral do hotel, afirma que o número é resultado de um aumento progressivo das reservas no setor. "A taxa foi de 60%. Essa é, dentro da pandemia, a nossa segunda maior performance, atrás apenas do Dias dos Namorados, quando chegamos a 70%. A busca por hospedagens fica bem melhor a cada fim de semana e feriado", explica.

Outros hotéis, de um perfil diferente, não registraram tanta ocupação. O Pisa Plaza, por exemplo, que é mais voltado para eventos e negócios segundo o gerente de operações Fernando Araújo, ficou em 57% de 4 a 7 de setembro. O Grande Hotel da Barra recebeu 65% dos hóspedes que poderia. Já o Fera Palace, localizado na Rua Chile, ficou com 50% dos quartos reservados, de acordo com Tereza Pires, gerente de reservas e receitas do local.

De acordo com Luciano Lopes, da ABIH, são justamente os feriados como o de Sete de Setembro que têm dado a chance para os empresários e hotéis tentarem uma recuperação econômica depois de um período difícil. "Não é só Salvador. O litoral e interior também apresentam uma alta procura. Isso tanto no Baixo Sul, como no Litoral Norte e na região de Morro de São Paulo. Nesses locais, a média também está entre 85% e 90%. A situação tem demonstrado o aumento do interesse turístico", ressalta.

Marcos Gallani, do Porto Seguro Praia Resort, concorda com o colega e específica o impacto dessas datas para o seu hotel.

"Os feriados prolongados têm um impacto significativo na ocupação, principalmente, por causa de hóspedes que estão num raio de 700 quilômetros e aproveitam esses dias para descansar. Então, com um feriado na semana, essa rentabilidade aumenta em torno de 25% a 30%", calcula.

Para Rodrigo Lima, dono da pousada Charme do Dido, isso está acontecendo em plena pandemia devido a tendência do turismo ser realizado em locais próximos da natureza, ao ar livre e sem aglomerações, como é o caso do litoral baiano e da Chapada Diamantina. “As pessoas têm essa necessidade de viajar, de conhecer novos lugares. E, se é para fazer isso, que seja num local tranquilo e seguro”, diz.

 

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