Bahia deve registrar mais de 8 mil casos de câncer de pele; veja como se proteger
Depois de quase dois anos de restrições para a realização de atividades ao ar livre, tem muita gente esperando o Verão para retomar o bronzeado e curtir as férias, ainda mais em Salvador, cidade famosa pelo sol e luminosidade na alta estação. Apesar do lado bom, aproveitar o sol requer atenção e alguns cuidados durante a exposição para evitar problemas de saúde. Projeções do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que a Bahia deverá registrar cerca de 8,1 mil novos casos de câncer de pele neste ano, sendo 10% das ocorrências na capital.
Este mês, durante o Dezembro Laranja, acontece a campanha nacional de alerta sobre a necessidade das pessoas reforçarem os cuidados durante a exposição solar (veja dicas abaixo) e para reforçar a importância do diagnóstico precoce e tratamento correto. Salvador, em breve, também vai sediar a 15ª Conferência Brasileira sobre Melanoma (veja mais detalhes abaixo).
A baiana Stela Maris Gonçalves, 57 anos, descobriu um câncer de pele do tipo melanoma por acaso, em 2015. Durante um almoço no local onde trabalhava, uma mancha amarronzada atrás da orelha chamou a atenção de sua irmã, que indicou que Stela fosse checar com um dermatologista. Ela marcou uma consulta e retirou o material para a biópsia.
“Eu não fui buscar o resultado porque nesse mesmo ano tinha perdido a minha mãe e ficava muito em casa, até que o laboratório me ligou dizendo que precisavam me enviar o resultado. Quando abri o e-mail, descobri que era um melanoma e que eu poderia morrer em questão de meses”, relembra.
Após a retirada do tumor, Stela chegou a fazer pelo menos outras sete retiradas de materiais para investigação. Felizmente, nenhum deles foi câncer. No caso dela, o melanoma não era invasivo, ou seja, as células cancerosas ainda não tinham se espalhado para outras camadas do órgão de origem e não houve necessidade de quimioterapia.
Câncer raro
O melanoma é o tipo mais raro de câncer de pele, caracterizado por ser mais grave e com mais chances de metástase. De acordo com o Inca, a estimativa para a Bahia é de cerca de 3 casos de melanoma para cada 100 mil habitantes. Para o tipo não-melanoma, a estimativa são de 102 novos casos a cada 100 mil habitantes.
No cenário nacional, são previstos cerca de 85 casos do câncer mais raro e 166 do tipo não-melanoma, também para cada 100 mil habitantes. A projeção do Inca é a mesma do ano passado e para 2022 e não é válida para efeitos de comparação, pois leva em conta o total da população e outros fatores que favorecem a incidência de determinados tipos de câncer em cada região do país.
O câncer do tipo não-melanoma, por exemplo, tem ocorrência maior nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste do país, enquanto nas regiões Nordeste e Norte, ocupa a segunda posição em incidência. Já o do tipo melanoma tem maior incidência no Sul em comparação com as outras regiões do Brasil.
O melanoma tem origem nos melanócitos (as células que produzem a melanina, substância que determina a pigmentação da pele) e é mais frequente em adultos brancos. O melanoma pode aparecer em qualquer parte do corpo, na pele ou mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais. Nos indivíduos de pele negra, ele é mais comum nas áreas claras, como palmas das mãos e plantas dos pés.
Já câncer de pele não-melanoma é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado e tratado precocemente.
Tratamento
Os tratamentos para o câncer de pele podem variar desde a realização da cirurgia para a retirada das lesões, até o uso de medicamentos, imunoterapia, radioterapia e quimioterapia.
A médica Ana Lísia Giudice, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia na Bahia, explica que o câncer pode surgir de um sinal já existente que se modifica ou em um novo local. Ainda segundo a médica, as lesões malignas normalmente evoluem com crescimento, modificação de formato e cor, que inflamam e ferem com facilidade.
“A forma mais eficaz de prevenção é o uso de proteção solar em creme, via oral e em roupas e chapéus”, afirma.
Apesar do câncer ser passível de cura na maioria dos casos em que é descoberto precocemente, as consequências da doença podem ser cicatrizes, mutilações e até a morte, a depender da gravidade dos casos e do histórico geral do paciente acometido.
A paciente Stela Maris lembra que quando era mais nova não existia muita preocupação com os cuidados ao tomar sol e conta que passava vários produtos pouco aconselháveis atualmente para se bronzear, motivo que provavelmente contribuiu para o aparecimento do câncer.
Grupos de risco
O grupo de risco para o câncer de pele é formado por pessoas com a pele mais clara, com fototipo baixo, como albinos, pacientes com vitiligo extenso, loiros e ruivos de olhos claros. Porém, a médica Marilu Tiúba, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia, alerta que pessoas de pele negra também estão sujeitas ao câncer de pele.
“Pessoas de pele escura têm mais melanina e, por isso, são naturalmente mais protegidas. São pacientes que bronzeiam no sol e não queimam, mas não existe bronzeamento saudável, ele é um mecanismo de defesa”, pontua Marilu Tiúba.
A especialista destaca ainda que existe o melanoma acral, grave e raro, que é mais comum em pessoas negras. Esse tipo de câncer de pele aparece nas extremidades das mãos e nos pés.
“Há a necessidade de toda a população passar pela triagem, porque os loiros de olhos claros não são os únicos a serem acometidos pelo melanoma”, alerta a médica.
Dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) apontam que entre janeiro e setembro de 2019 foram registradas 800 internações decorrentes de câncer de pele em mulheres no estado. No caso de pacientes homens, foram 783 internações. A Sesab ficou de encaminhar os dados sobre 2020 e 2021, mas não passou as informações solicitadas até a conclusão dessa reportagem.
Conferência brasileira sobre câncer de pele será realizada em Salvador
A 15ª Conferência Brasileira sobre Melanoma já está com data marcada. O evento será realizado entre os dias 3 e 5 de agosto de 2023, no hotel Deville, em Itapuã. A conferência reúne nomes importantes da oncologia nacional para discutir a prevenção, diagnóstico e tratamento do melanoma. As inscrições para participar do evento ainda não foram abertas e serão divulgadas posteriormente.
Dicas para se proteger:
*Evite - a exposição prolongada ao sol entre 10h e 16h;
*Na praia - Prefira permanecer mais tempo à sombra e use proteção adequada como roupas, bonés ou chapéus de abas largas, óculos escuros com proteção UV, sombreiro e/ou barracas;
*Aplique - protetor solar antes de se expor ao sol, com fator de proteção 30, no mínimo. É necessário reaplicar o filtro solar a cada duas horas durante a exposição, bem como após mergulhar ou transpirar. Mesmo filtros à prova d’água devem ser reaplicados;
*Use - filtro solar próprio para a proteção dos lábios;
*Filtro - solar deve ser usado mesmo nos dias nublados;
*Planeje - as atividades ao ar livre para horários com menor incidência de raios solares;
*Examine - as tatuagens com frequência, elas podem esconder lesões e use filtro nelas;