Ingresso para visitar zoológico de Salvador custará até R$ 60 após concessão
As famílias de Salvador e outras cidades que visitam o Parque Zoobotânico Getúlio Vargas, o zoológico da capital baiana, vão precisar pagar, em breve, uma taxa de até R$ 60 para entrar no local. O preço máximo foi estabelecido pelo Governo da Bahia na última semana, no edital da concessão do espaço, que vai valer por um período de 30 anos.
Em meio aos micos que seguem visitantes e pavões que se exibem para turistas, o Parque Zoobotânico está sendo reformado para atrair ofertas no leilão, previsto para acontecer no dia 16 de setembro, na B3, em São Paulo.
Servidores do zoológico informam que esse é o motivo da visitação à área dos macacos estar suspensa para reparos, assim como outros espaços estarem sendo pintados e preparados para receber novos animais. Eles não sabem se seus empregos serão mantidos com a concessão e repetem o que conseguiram ouvir sobre os planos futuros.
Enquanto as mudanças ainda não aconteceram, a família de Irenilda Santana, 45 anos, aproveitou o passeio gratuito pelos três mil metros de pista do espaço, na manhã de terça-feira (19). Ela empurrava a cadeira de rodas do filho Samuel, 14, para que ele pudesse ver os animais. Junto à irmã Isabele, 22, Samuel e Irenilda fizeram a terceira visita ao zoológico.
Mas, a família de Antônio Cardoso, cidade a cerca de 170 km de Salvador, não garante o retorno caso seja cobrada uma tarifa de entrada. “Se for R$ 60 por pessoa eu não viria, porque fica muito caro. Três pessoas, às vezes tem mais duas, porque minha família é de cinco. E ainda tem lanche, almoço. Ele [Samuel] gosta muito de vir, mas eu sozinha com ele não dá não. E para cobrar tem que melhorar muito, o acesso de cadeirante principalmente. A última vez que vim, uns 5 anos atrás, tava pior, agora está até melhorzinho, mas tem que melhorar muito”, disse.
A aposentada Débora Almeida costumava levar os filhos ao zoológico quando pequenos, e agora leva as novas crianças da família, como o sobrinho que mora em Itapetinga. Para ela, um valor aceitável para entrar no parque seria de no máximo R$ 10, um valor simbólico. “Porque muito caro é elitizar”, afirmou.
Na licitação, o Governo da Bahia estabeleceu que a concessionária deverá prever a cobrança de ingresso social para integrantes de famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) para programas sociais do Governo Federal, no valor máximo de R$ 1, sujeito apenas à atualização monetária. Também devem ser isentos do pagamento crianças com até 6 anos de idade.
Plano de Concessão
A concessão do zoológico, fundado há mais de 60 anos, integra o plano de concessão de parques públicos do estado anunciado no último ano. Inclui também o Parque Estadual Sete Passagens, localizado no município de Miguel Calmon, e a Serra do Conduru, entre as cidades de Ilhéus, Itacaré e Uruçuca, no sul da Bahia. A concessão do Sete Passagens, no entanto, está suspensa por liminar.
Sobre o zoológico, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) informou em nota que a concessão busca investimentos destinados à requalificação, modernização, operação e manutenção do local. O valor estimado do contrato entre Executivo e instituição privada é de R$ 121.978.050,59.
Poderão participar da licitação empresas brasileiras ou estrangeiras, instituições financeiras, entidades de previdência complementar e fundos de investimento, isoladamente ou em consórcio, que por um prazo mínimo de 12 meses tenham gerido atrativos turísticos, ambientais, esportivos ou de lazer.
A prática de parceria público-privada para parques e cobrança de taxa para acesso tem se tornado cada vez mais comum entre os estados. Em São Paulo, o Zoo Safári e o Jardim Botânico foram concedidos por R$ 111 milhões. Para visitar o Zoo Safári com os dois filhos, a paulista Adriana da Silva, 42 anos, paga ao menos R$ 20 em cada entrada.
“Quando vi que o zoológico era de graça, fiquei abismada, porque lá o valor é essa fortuna toda por conta dos cuidados que os animais têm, com a área e tudo. E aqui o zoológico tá super bem cuidado e a entrada é gratuita”, avaliou.
Professora, Adriana contou que tem alunos em São Paulo que nunca conseguiram visitar o Zoo devido ao valor. “Eu fiz um tour virtual com meus pequenininhos”, disse. Porém, afirmou que lá o zoológico é muito maior e com uma variedade bem melhor de animais.
Hoje, o Parque Zoobotânico, administrado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), cuida de cerca de 1,4 mil animais, divididos em 134 espécies (56 de aves, 45 de mamíferos e 31 de répteis), das quais 88% são brasileiras. Dentre as 134 espécies, 40 delas estão ameaçadas de extinção em seu ambiente natural. Procurado, o Inema não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
Desde 2007, o zoológico prioriza a conservação e promove pesquisas científicas com espécies silvestres da fauna e da flora nacional, com ações em cativeiro, além de programas de educação ambiental associados ao lazer e ao entretenimento.