Surto de gripe faz atendimentos crescerem 566% e força abertura de novos gripários
A epidemia de gripe agora se interioriza para outros municípios da Bahia. Até dezembro, Salvador era o foco da doença. Só no último final de semana, houve um aumento de 28,6% no número de casos de influenza na capital baiana, totalizando 993, até esta segunda-feira (3). Porém, após as festas de fim de ano, os números começaram a crescer em outras cidades. Ao todo, são 1.458 casos de H3N2 na Bahia, segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Destes, 259 precisaram de internamento e 35 pessoas morreram.
Em Barreiras, no Extremo Oeste baiano, já há mais casos de síndrome respiratória do que covid-19. Desde de março de 2020, 20 mil casos do novo coronavírus e outros 34 mil de síndromes gripais foram confirmados no município. Em Cruz das Almas, no Recôncavo, os atendimentos de pessoas com síndrome gripal passaram de 15 para uma média de 80 a 100 por dia, no último mês - um aumento de 566%. Por isso, a prefeitura agora mantém a unidade de covid-19 como gripário. Já em Itacaré, no Sul, há entre 200 e 250 casos suspeitos diários.
Em Itabuna, também no Sul, a prefeitura abrirá dois novos gripários nesta semana, um pediátrico e outro adulto, para dar conta da demanda. Segundo a secretária de saúde, Lívia Mendes, o aumento foi de 200%, comparado ao final de novembro. Com a reabertura das duas estruturas, a cidade passa a ter o mesmo número de gripários da época do pico da covid-19. “Estamos abrindo um [gripário] específico de pediatria, porque o Hospital Manoel Novaes estava muito sobrecarregado. Está tendo gripe em todo mundo, desde criança a idoso”, afirma Lívia.
Ela acredita que as intensas chuvas pioraram o cenário no município. Na última semana, uma das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) atendeu 400 pessoas com sintomas e internou 21. “Estamos vivendo um surto em toda a Bahia com a nova variante da H3N2 e os locais que tiveram enchente acabaram ficando em um cenário pior pelas aglomerações dos salvamentos. As pessoas não estavam de máscara e tiveram contato mais próximo com os desabrigados, por isso, acabou ganhando uma proporção maior", opina a secretária.
Lívia Mendes ainda diz ter dificuldade em comprar testes que confirmem a gripe. Por isso, não há dados oficiais de casos confirmados. “A gente testa para covid, porque não conseguimos adquirir teste de influenza. O fornecedor diz que não tem, desde antes do Natal que tento comprar com ele. Então, estamos fazendo diagnóstico de exclusão e colocando pontos de testagem fixos pela cidade”, conta a secretária de saúde de Itabuna. Um serviço de telemedicina ainda foi criado para atender pacientes de forma online, evitando superlotação das unidades.
Casos quadruplicam em Itacaré
Os casos de síndrome gripal mais que quadruplicaram em Itacaré, segundo o secretário de saúde, Ricardo Lins. Ele ainda relata que os hospitais estão cheios. Porém, pela baixa quantidade de testes de influenza aplicados e demora na entrega dos resultados pelo Lacen, não é possível precisar quantos casos realmente existem, agora, na cidade. Até o momento, foram confirmados 332.
“Não temos o quantitativo exato, mas, dos 200 a 250 testes que a gente aplica, apenas 6 a 10% dão positivo para covid. E o teste de influenza, como temos poucos, só testamos quem está hospitalizado, em torno de dois a três por dia. É difícil a separação das duas viroses e, quando temos casos suspeitos, fazemos a coleta, mas o Lacen está demorando 50 dias para entregar o resultado”, conta o secretário.
Barreiras tem 1.121 casos de síndrome gripal
Em Barreiras existem 1.121 casos de síndrome gripal, notificados entre 1º/12/2021 e esta segunda-feira (3). O número de testes de covid-19 realizados também aumentou, de acordo com o coordenador da Vigilância Epidemiológica, Lucas Torres, mas ainda não há confirmados oficiais para influenza. “O município vinha realizando uma média de 40 a 50 testes para diagnóstico da covid, semanalmente. Na última semana, esse número aumentou para 75, e a perspectiva é que aumente mais na próxima semana”, estima.
Em Juazeiro, no Vale do São Francisco, apenas 130 dos 1.319 testes feitos em pessoas com sintomas gripais positivaram para covid-19, em dezembro. No Hospital de Campanha, apenas três a quatro pessoas positivam para o coronavírus, de um total de 170 atendidas. Segundo a prefeitura, os casos negativos para o coronavírus foram considerados como gripe, assim como em Itabuna.
Na última segunda-feira (3), mais que o dobro de pessoas procurou o ponto de testagem: de 70 pessoas por dia, o local testou 200. “A procura pela testagem está muito grande. Estamos realizando por livre demanda, mas as pessoas precisam compreender que existe um limite de horário e testes realizados neste local pela própria equipe”, destaca o diretor de Vigilância em Saúde, Djalma Amorim.
Reflexos do Natal e Réveillon
A cidade de Feira de Santana, no Centro-Norte da Bahia, é a segunda cidade com maior número de casos confirmados, depois de Salvador, com 66 contaminados, segundo a Sesab. Para o secretário de saúde da cidade, Marcelo Britto, o aumento de casos é reflexo das festas de fim de ano. “Estamos vivendo um problema do Natal e do Réveillon. Os encontros familiares estão gerando um aumento na prevalência do vírus e isso faz com que a gente tenha mais necessidade de internamento”, afirma Britto.
Ele aponta que o número de casos aumentou 120% de novembro para janeiro, mas que a maioria das pessoas tem sintomas leves. Para atender o aumento da demanda, as unidades de saúde estenderam o horário de atendimento até 21h e algumas salas administrativas nas policlínicas e UPAs estão se transformando em salas de atendimento, de espera e até de internamento.
Em Teixeira de Freitas, no Extremo Sul, dos 3.400 casos de síndrome gripal identificados, apenas dois foram confirmados como H3N2 e 342 como covid-19, pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). De acordo com a prefeitura, os casos começaram a aumentar no dia 13 de dezembro e cerca de 170 testes por dia são feitos, entre a rede pública e privada.
Em Nova Soure e Ribeira do Pombal, no Nordeste da Bahia, as prefeituras admitem que existe um surto de gripe, mas que não há como dimensionar, porque não há monitoramento. Já em Vitória da Conquista, no Centro-Sul, cinco casos foram notificados neste final de semana.
Salvador se prepara para ativar novo gripário
Salvador teve um aumento de quase 30% do número de casos confirmados de influenza no último fim de semana, mas o movimento nos gripários deu uma diminuída, com cerca de 90 a 100 pessoas por dia. “Percebemos um aumento do número de casos em dezembro, que acabou sobrecarregando o gripário dos Barris, que era o único existente e a decisão da gestão foi colocar o de Pau Miúdo para absorver a demanda. Mas não vimos um aumento progressivo que justificasse a abertura de outra estrutura”, diz o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Salvador (SAMU), Ivan Paiva.
Mesmo assim, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) está sob alerta para abrir um novo gripário, para evitar longas filas. “A gente está na expectativa do gripário de Pirajá Santo Inácio ser reativado, caso a gente perceba um aumento do número de casos além do que temos hoje”, revela Paiva. Para quem tem sintomas leves, ele recomenda que o paciente vá às 157 unidades primárias de saúde. “Seja unidade de saúde da família ou unidade de atenção básica, elas estão aptas e vão ter médico para colher a história clínicas, identificar potenciais de gravidade que indiquem tratamento ou investigação suplementar”, orienta.
Síndrome gripal, respiratória ou gripe?
O infectologista Antônio Bandeira, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Aeroporto, esclarece que tanto a gripe quanto a covid-19 são tipos de síndromes respiratórias e síndromes gripais. Como os sintomas são basicamente iguais, assim como a forma de se proteger das doenças, a certeza do diagnóstico só virá com o teste de covid e de influenza. Porém, se o de covid-19 der negativo, já é possível considerar que é influenza, devido ao cenário de epidemia de gripe.
“As doenças são muito semelhantes. É praticamente impossível identificar pelo quadro respiratório, apesar de que a covid gera perda súbita do olfato e paladar, coisa que a influenza não faz. A gente só consegue ter certeza se fizer os testes. Porém, se a pessoa tiver com síndromes gripais e o teste de covid for negativo, pode-se considerar e tratar como influenza”, detalha Bandeira. No Hospital Aeroporto, por exemplo, ele cita que apenas 8% dos testes de covid deram positivo, para as pessoas com sintomas de gripe. “Isso mostra que a influenza é que tem predominado”, completa.
Cidades com maior número de casos de influenza na Bahia:
1) Salvador - 909
2) Feira de Santana - 66
3) Conceição do Almeida - 36
4) Lauro de Freitas - 32
5) São Sebastião do Passé - 31
Fonte: Sesab