Procura por mamografias dobra na Bahia após registrar queda de 45% em 2020
A pandemia fez muita gente adiar consultas, exames e outros serviços de saúde, como aqueles relacionados ao rastreio do câncer de mama. De acordo com o DataSUS, o número de mamografias feitas na Bahia em 2020 (114.581) foi 45% menor do que o de 2019 (208.231), percentual acima do indicador nacional, que é de 40%. Essa demanda reprimida fez crescer a procura pelo exame com a reabertura dos serviços. Somente para a oferta de procedimento feita pela rede móvel da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) para o Outubro Rosa, já são 27 mil agendamentos. No ano passado, foram 13 mil.
Rita, de 57 anos, que preferiu não ter o sobrenome revelado, não fez mamografia em 2020 por medo da contaminação por covid-19. Agora, após receber a segunda dose da vacina, está agendando todos os exames e consultas pendentes. “Eu sei que não era o ideal, mas tinha medo de pegar a doença, vi o sofrimento das pessoas, as mortes, isso não era brincadeira. Aí fiquei realizando somente o autoexame durante esse período. Agora, vacinada, me sinto mais segura, mas ainda sigo todos os protocolos necessários”, conta.
Na clínica AMO Saúde da Mulher, no bairro da Barra, em Salvador, cerca de 50% das pacientes deixaram de se consultar com um mastologista entre o final de março e junho de 2020. De acordo com o diretor médico da clínica, o mastologista Ézio Novais, a partir do final do ano passado, a procura começou a subir, mas foi interrompida pela segunda onda e, a partir do avançado da vacinação, foi possível notar a demanda reprimida.
“Comparando maio e setembro deste ano, houve aumento de 40% de procura por mamografias aqui na clínica. As pessoas ligam para marcar e ficam impacientes, não querem esperar nem uma semana. É como se estivessem acordando para um problema e querendo se livrar desse peso, tirar a dúvida de se houve prejuízo ou não pelo atraso. Mas vale ressaltar que ainda não chegamos ao número normal, estamos entre 80 e 90% do patamar regular”, afirma.
Segundo dados da Sesab, até o último dia 15, 191.073 mamografias tinham sido feitas no estado, número que já ultrapassa o total registrado em 2020, mas ainda não encosta no valor de 2019, indicando que muitas mulheres ainda não agendaram o exame após o período mais crítico de pandemia. Esse é o caso de Regiane Amorim, de 51 anos, que sempre fez mamografia regularmente, mas não realizou o exame nem em 2020 nem em 2021. A filha, Gabriela Amorim, de 22 anos, também abandonou durante a pandemia o acompanhamento que fazia com mastologista após a descoberta de um cisto.
Mãe e filha realizavam exames e consultas em Salvador, mas, com a pandemia, foram morar em Aracaju. “A gente foi deixando para depois da pandemia porque achávamos que seria muito mais rápido. Mas até agora ela não acabou e estamos nos dando conta de que isso se estendeu demais e vamos ter que voltar a procurar os serviços médicos regulares de qualquer jeito”, diz Gabriela.
Por conta do cisto, Gabriela deveria realizar exames de 6 em 6 meses para acompanhar a evolução do quadro, mas não foi o que aconteceu.
“Foi uma junção da distância e receio de sair de casa e me contaminar com o vírus. Eu coloquei na cabeça que a quarentena seria mais curta, que assim que acabasse eu ia voltar a procurar um médico. E eu acabei deixando isso em segundo plano, até mesmo atrás de outros problemas de saúde que surgiram nesse meio tempo que eu não tinha como não dar atenção”, acrescenta.
De acordo com a Diretora de Programas Estratégicos da Sesab, Jucélia Nascimento, agora há um aumento de cerca de 50% em relação à demanda dos períodos mais críticos de pandemia. Essa procura vem sendo registrada na rede fixa e também na rede itinerante de rastreio do câncer de mama. Na Bahia, a procura no ano passado somente na campanha do Outubro Rosa foi de 13 mil pacientes; este ano, já são 27 mil. Somente em Salvador, a expectativa era de 14 mil mamografias e já há 22 mil cadastros no sistema.
“A demanda realmente está maior. Muitas mulheres têm reclamado que não conseguem vaga e a gente faz esse pedido para que elas não fiquem nessa angústia porque esse serviço é ofertado durante todos os meses do ano. Estamos agora em outubro com esse reforço do programa itinerante nas regiões de saúde do estado, mas também temos a rede fixa que pode ser buscada a qualquer momento”, diz Jucélia.
A diretora destaca a importância de todo o processo de rastreio. Além de fazer a mamografia, é preciso buscar o resultado e, em caso de confirmação do câncer, realizar o tratamento. “Nessa campanha de Outubro Rosa, a partir do dia 16 de novembro, vamos convocar as mulheres que tiveram exames alterados para uma segunda fase, quando elas vão realizar a ultrassonografia e a biópsia para a conclusão do diagnóstico. Com o resultado positivo, essa mulher será encaminhada pela Diretoria através da Sesab para tratamento e acompanhamento”, finaliza.
Casos de câncer de mama diagnosticados precocemente têm mais de 90% de chance de cura
O mastologista Tufi Hassan destaca a importância da realização regular de exames de mamografia. Ele explica que, diferente de outros tipos de câncer, como o de colo do útero, o de mama não é possível de prevenir, por ser multifatorial. “Isso significa que não sabemos qual o agente causador. Daí, a importância das visitas periódicas aos especialistas”.
De acordo com especialistas, casos diagnosticados precocemente têm acima de 90% de chance de cura. O mastologista ressalta que pacientes em estágios mais avançados precisam se submeter a cirurgias, sessões de radio e quimioterapia, a depender do estágio. “Casos que são diagnosticados tardiamente exigem tratamentos mais complexos e, consequentemente, mais caros. E esse diagnóstico só pode ser feito por meio de consulta médica e exames de imagem”, acrescenta o médico.
A mamografia é indicada para mulheres a partir dos 40 anos, sem limite de idade. O exame deve ser feito uma vez ao ano. Em casos de histórico de câncer de mama ou ovário na família, a mamografia pode começar a ser feita ainda mais cedo e/ou com espaço de tempo menor, a depender da avaliação médica.
Ações oferecem mamografia e reconstrução da aréola do seio gratuita
Uma ação do Grupo CAM em parceria com postos selecionados da revenda Shell vai ofertar mil vagas de mamografias gratuitas a partir do mês de novembro. Segundo a mastologista Carolina Argolo, coordenadora do projeto, o objetivo é reduzir a mortalidade a partir do diagnóstico precoce. “O câncer de mama é multifatorial e, por isso precisamos estimular a detecção precoce. A ideia de doar mamografias é ampliar o acesso aos exames, que foi drasticamente reduzido durante a pandemia”.
Durante o mês de outubro, parte do valor do abastecimento nos postos selecionados da rede Shell estão sendo doados para a realização dos exames, que também terão subsídio do Grupo CAM. Outra parte será doada ao Hospital Aristides Maltez (HAM), maior unidade de atendimento oncológico da Bahia. As pacientes que fizerem os exames e tiverem suspeita de câncer, serão orientadas para a marcação no HAM, para que possam dar seguimento ao tratamento. Os detalhes sobre as marcações dos exames serão divulgados no final do mês pelas redes sociais, nos perfis @seioquecuido e do Grupo CAM.
Outra ação gratuita é a “Todo Dia é Rosa”, que realiza a reconstrução da aréola do seio por meio da técnica de micropigmentação paramédica. O objetivo é devolver a autoestima de mulheres e homens que tiveram câncer de mama, buscando o formato mais próximo do real. Também é ofertada a micropigmentação para a sobrancelha em caso de queda de pelos por conta do tratamento da doença.
O atendimento ocorre de forma gratuita em Salvador durante todo o ano. Basta apresentar um relatório médico autorizando o procedimento e não há limite de vagas. Os agendamentos devem ser feitos pelo telefone (71) 99129-4422.
Femama alerta sobre mamografias após vacina contra covid-19
A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) alerta as mulheres para que não façam exames de mamografia imediatamente após terem tomado vacina contra a covid-19. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente voluntária da Femama, a mastologista Maira Calfelli Caleffi, diz que a recomendação é de que elas voltem a fazer seus exames de rastreamento de câncer de mama, mas relatem ao médico caso tenham tomado vacina.
Segundo Maira, nas últimas seis semanas, foi registrado um aumento agudo de descrições pelos radiologistas, nos laudos de mamografias e ultrassonografias, da presença de linfonodos, também chamados gânglios ou ínguas, nas axilas das pacientes, sugerindo doenças que deveriam ser investigadas. “A paciente, quando ela não está atenta para isso, realmente se apavora”. A mastologista diz ter recebido também muitos casos para investigar, com indicação de punções e cirurgias. “Coisa que não é necessário, desde que a gente constate que ela teve vacina naquele braço, ou até no braço contralateral, nos últimos 15 ou 30 dias”.
Depois desse período, a médica explica que os linfonodos regridem, isto é, voltam ao normal, na grande maioria das vezes. “Por isso, a Femama está fazendo um alerta para prevenir contra essa preocupação. A gente está pedindo que elas não deixem de fazer os exames. Mas se tomou a vacina de covid-19, aguarde de duas a quatro semanas, porque já tem chance de nem aparecer nada”.
Vacina x câncer
A presidente da Femama esclarece que a vacina contra a covid não provoca câncer. “Essa alteração nos gânglios é uma reação do corpo ao imunizante e não tem nenhuma relação com câncer, célula maligna de qualquer natureza. É uma reação inflamatória, como se fosse até uma febre”.
Ela lembra que se as mulheres que tiverem que fazer o exame de rastreamento, porque estão investigando algum nódulo ou caroço suspeito na mama, devem realizar a mamografia, mas informar o médico que tomaram vacina. “O médico já fica alerta. Essa parte é muito importante”. Segundo a Femama, o aumento dos linfonodos pode ser causado por qualquer injeção ou vacina, e não apenas pelos imunizantes contra a covid-19.
Segundo a Femama, a informação é confirmada pela Sociedade Brasileira de Mastologia, pela Comissão Nacional de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Essas instituições já divulgaram recomendações de conduta frente à linfonodopatia axilar em pacientes que receberam recentemente a vacina contra a covid-19. "Por isso, nossa recomendação é que os agendamentos de exames de mamografia em pacientes sejam realizados antes da primeira dose da vacina ou, então, de duas a quatro semanas depois da aplicação da segunda dose", afirma Maira Caleffi. Caso a linfonodopatia permaneça, é recomendada a investigação, por biópsia, do linfonodo para excluir a malignidade mamária ou outra origem extramamária, recomenda.