O picadeiro ainda está vazio, mas as cadeiras já receberam a sinalização para o distanciamento durante as apresentações. Os 40 artistas, brasileiros e estrangeiros, que antes foram dispensados por conta da pandemia, já estão a caminho de Salvador. O trabalho para descarregar a estrutura e os equipamentos dos 10 caminhões e 20 carretas não param. Isso porque, no dia 23 vai ter marmelada, sim senhor. A bilheteria do Le Cirque volta a funcionar na Avenida Paralela, em Salvador, depois de um ano e quatro meses.

“Foi muito difícil para nós. Chegamos aqui em março, no começou de tudo. Chegamos a funcionar, mas três dias depois a cidade fechou. Então, dispensamos a maioria dos nossos artistas”, declarou Priscila Ayres, 42, que pertence à geração da família que fundou o Le Cirque há 150 anos na França e que trabalha na administração do circo. Com a fase verde do plano de retomada das atividades econômicas da Prefeitura de Salvador, foi possível o funcionamento das atividades dos circos, teatros centros culturais, museus, galerias de arte, bibliotecas e similares, assim como parques públicos municipais, seguindo uma série de protocolos sanitários para garantir um retorno seguro.

Os artistas que dependem da bilheteria para sobreviver foram os primeiros que tiveram as atividades interrompidas e estão sendo os últimos a retomar. “Foram momentos difíceis para manter tudo isso. Sem apoio algum, tivemos que vender três carros da família para se manter aqui”, disse Priscila. Ela é mãe da acrobata Amy Stevanovich, 12, que vai estrear no dia 23. “Estou muito ansiosa para isso. Venho treinando todos os dias”, disse a pequena artista durante um ensaio.

Amy é irmã de Yam Deric, 20, o palhaço Tonelada. “A gente que era está acostumado e viver viajando, a gente passa três meses numa cidade e depois vai para outra, e depois outra, vendo o circo lotado e de uma hora para outra ter que baixar a lona é muito triste. Mas sempre mantivemos a esperança de um dia melhor e chegou”, disse ele, agora com motivos para sorrir e fazer a plateia gargalhar à vontade.

Expectativa
O Le Cirque está no Brasil há 25 anos e é quinta vez que o circo vem a Salvador. A reestreia será às 20h do dia 23 (sexta-feira) – haverá espetáculo também no sábado (24) e domingo (25) às 16h, 18h e 20h. “As pessoas estão ligando, enviando mensagens atrás de informações sobre o nosso retorno. Graças a Deus a busca está satisfatória. A expectativa é a melhor de todas”, contou a acrobata Stefany Stevanovich, 22, prima dos irmãos Amy e Yam.

De acordo com o decreto municipal, os circos podem funcionar de segunda-feira a domingo, das 10h às 23h, sendo que a capacidade em cada sessão será baseada no distanciamento dos assentos, não podendo exceder o limite máximo de 50% da arquibancada ou 200 pessoas. O Le Cirque comporta 1.600 pessoas. “O nosso custo é grande e que 200 não suprem, porém só o fato de retomar a atividade já dá um fôlego para nós e acreditamos que as coisas tendem a melhorar porque a vacinação aqui em Salvador está sendo rápida e pretendemos ficar por aqui até o mês da criança, outubro”, pontuou Stefany. Para saber o valor da entrada e outras informações, basta acessar a página do Instagram @lecirquebrasiloficial. De acordo com o decreto, em um mesmo procedimento de compra de ingressos, podem ser adquiridos até quatro assentos vizinhos.

A trupe é formada por pouco mais de 40 artistas, entre brasileiros, franceses, africanos, americanos, argentinos e chilenos. Hoje, em Salvador, estão cinco deles, entre palhaços e acrobatas. A grande maioria chega em Salvador até o 21. “Todos retornaram para as suas cidades de origem, mas já estão a caminho. Toda vez que a gente iniciai um espetáculo, há sempre uma surpresa. Nesse retorno, mesmo sem muitos recursos financeiros, porque ficamos parados, vamos tentar inovar de alguma forma. Estamos vendo isso com os artistas como a melhor forma de viabilizar”, declarou Stefany.

Interação
O público terá que estar com a máscara para ter acesso e permanecer no circo. As temperaturas serão checadas da entrada e haverá pontos com disponibilização de álcool em gel. Outra regra a ser observada é que o público deve permanecer sentado durante todo o espetáculo. Ou seja, aquela interação entre os artistas e a plantei não vai acontecer “ É estranho, pois a gente gosta que as pessoas participem literalmente do espetáculo, os palhaços faziam muito isso. Mas nada disso impede que a magia aconteça. Logo quando o circo surgiu, não tinha isso de chamar a plantei para o palco, era algo mais contido e mesmo assim o espetáculo era sucesso e está até hoje”, garantiu
Priscila Ayres

A saída das pessoas deverá será escalonada por fileiras de assentos. Além disso, devem ser evitados intervalos durante as apresentações. “É de praxe sempre quando acaba o espetáculo, os artistas ficam na saída para tirar foto com a plateia, mas infelizmente por conta protocolo isso não vai poder acontecer”, disse Priscila.

Ainda de acordo com o protocolo, os serviços de preparação dos artistas para o espetáculo, como maquiagem, cabelereiro, auxílio para vestir e trocar figurinos, quando realizado por pessoas não pertencentes ao mesmo grupo familiar, devem ser feitos por profissionais usando os EPIs adequados. Nos camarins, deverá ser respeitado o limite de uma pessoa a cada quatro metros quadrados. Não devem ser compartilhados itens entre os artistas durante o espetáculo. Os microfones devem ser de uso exclusivo para cada artista e deverão ser higienizados ao final das apresentações.