O número de mortes em decorrência de complicações da covid-19 registradas nos 18 dias já transcorridos do mês de julho já supera em 80% a quantidade contabilizada em todo o mês de junho deste ano na Bahia. De acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), no último mês ocorreram 92 óbitos devido à doença. Já entre os dias 1º e 18 de julho, os óbitos chegam a 166, mantendo uma tendência de crescimento.

Se for comparado o mesmo período de 18 dias nos dos meses [1 a 18 de junho e 1 a 18 de julho], a alta nas mortes pela infecção do novo coronavírus este mês fica ainda mais aparente: 286%, mais que o quádruplo das 43 ocorrências registradas nos 18 primeiros dias de junho deste ano.

A estatística, porém, ainda está bem abaixo daquelas registradas nos períodos mais graves da pandemia da covid-19. Em setembro de 2021, por exemplo, foram contabilizadas 96 mortes em um único dia.

A tendência de alta, no entanto, acende um alerta. “Esses óbitos têm acontecido porque há uma baixa procura por doses de reforço (3ª e 4ª injeções). Depois de quatro ou cinco meses, a proteção baixa e a pessoa pode ter complicações”, afirma a diretora da Vigilância Epidemiológica da Sesab, Márcia São Pedro.

De acordo com ela, a faixa etária das vítimas voltou a ser mais elevada. “Os idosos morriam mais [no começo da pandemia] e eles foram os primeiros vacinados. Mas a faixa etária acima dos 80 anos voltou a crescer [os óbitos] pela baixa procura da dose de reforço”, acrescenta.

Entre as 166 pessoas que faleceram em decorrência das complicações da covid-19 nos primeiros 18 dias de julho, pouco menos da metade tinha 80 anos ou mais. Isso faz com que a taxa de letalidade nessa faixa etária chegue a 4,5%, contra 0,1% registrado na faixa dos 40 aos 49 anos, por exemplo.

“Não se tem uma mortalidade igual a momentos anteriores porque hoje a gente tem a população mais vacinada. As que complicam ainda são em sua grande maioria aquelas que não têm a vacinação atualizada. Uma coisa que a gente nota é que quanto mais vacina [doses tomadas] o paciente tem, menor o agravo. E o que chama atenção ainda é que os pacientes que morrem são aqueles que morreriam por causa das comorbidades”, afirma o infectologista Fábio Amorim, coordenador médico do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais do Instituto Couto Maia.

De acordo com os dados da Sesab, no dia 16 de julho, morreram dois homens de 33 e 69 anos em Irecê, os dois com comorbidade. No dia 15, uma mulher de 91 anos, com Mal de Alzheimer em estágio avançado, morreu em Salvador. No dia 14, morreu uma moradora de Mortugaba, com 92 anos, e sem comorbidades.

Vacinação
Na Bahia, 48,61% do público alvo apto a receber a terceira dose ainda não procurou os postos de vacinação. Em relação à quarta dose, 80,53% das pessoas com mais de 40 anos, que podem ser beneficiadas pela vacina, ainda não reforçaram a imunização.

Diante desse cenário, o governo está reabrindo leitos clínicos e de terapia intensiva (UTI) direcionadas ao tratamento da covid-19. Na segunda-feira (18), o Hospital Espanhol, em Salvador, disponibilizou mais 40 leitos para atender aos pacientes. Antes disso, foram abertos 114 deles, sendo 30 de UTI e 84 clínicos em Salvador e nas cidades de Cachoeira, Seabra, Jequié, Valença, Porto Seguro e Barreiras.

No dia 1º de julho, havia 77 pessoas internadas em UTIs Covid no estado, entre crianças e adultos, e 213 leitos disponíveis. Já no dia 18, dobrou o número de leitos ocupados com pessoas em estado grave: 181 pacientes para os 235 leitos disponíveis.

Variantes
A alta no número de mortes e internações acompanha o aumento no número de casos de covid-19 na Bahia. O último boletim InfoGripe, da Fiocruz, divulgado no dia 13, coloca o estado entre aqueles que apresentam crescimento de casos. No documento, o coordenador da pesquisa, Marcelo Gomes, destaca que nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste observa-se uma desaceleração no ritmo de crescimento; enquanto nas regiões Norte e Nordeste há sinais de manutenção de crescimento de infectados ainda em ritmo elevado.

Salvador está entre as 19 capitais com sinais de crescimento a longo prazo de casos de covid-19. Nos últimos 15 dias, houve uma média de 18.735 casos ativos de covid-19 em toda a Bahia.

“A gente está num período pós festas de São João, nossa vacinação atingiu níveis bons de primeira e segunda doses, mas em relação a outros estados e capitais, a gente está meio estacionado, não com a mesma velocidade desejada. E todo mundo muito descuidado do uso de máscaras e distanciamento social que ainda seria recomendado nesse momento, principalmente por causa das subvariantes da Ômicron que estão chegando e têm uma taxa de transmissão enormes”, explica a infectologista Estela Aquino, pesquisadora da Fiocruz Bahia.

A epidemiologista Maria Yury Ichihara, vice-coordenadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz-Bahia), confirma a maior proporção das subvariantes Ba.4 e Ba.5 da Ômicron, que possuem a capacidade de transmissão maior.

“O maior número de mortes deve-se a essa transmissão mais acelerada, principalmente entre os não vacinados ou parcialmente vacinados. Necessário um alerta para o uso de máscaras e cuidado nas aglomerações”, afirma Yury.

Os especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes na recomendação das medidas de proteção como máscara e distanciamento. “Dentro do nosso decreto estadual, no transporte público é obrigatório o uso de máscara, mas as pessoas estão entrando sem. É importante lembrar que se as pessoas estão assintomáticas, elas podem transmitir”, diz a diretora da Vigilância Epidemiológica da Sesab.

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