Mercado em alta: venda de imóveis cresce 33% na Bahia
Se tem um setor que não enfrentou crise pela pandemia da covid-19, foi o mercado imobiliário. O principal indício é o número de escrituras de compra e venda de imóveis registrados nos cartórios da Bahia, que cresceu 33% em 2021, frente a 2020. Foram 36.277 negociados em 2021 contra 27.038 no ano anterior, de acordo com a Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen-BA).
A quantidade de novos empreendimentos também aumentou em 2021, em 60%, segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA). Os bairros que se destacam nesse quesito são Horto Florestal, Pituba, Imbuí, Graça e Barra. Além disso, as vendas tiveram alta de 32%, no acumulado dos três primeiros trimestres do ano passado com todo o ano anterior. Ou seja, os nove primeiros meses de 2021 já tiveram mais vendas do que todo o ano de 2020. O balanço do último trimestre ainda está em confecção.
A farmacêutica Sheimila França, 29, comprou o primeiro apartamento, de 54 m², no Imbuí, que ficará pronto em setembro. Ele tem dois quartos, dois banheiros, piscina, quadra e academia. “A ansiedade está demais, vou visitar a obra todo mês”, confessa Sheimila. Ela se mudou de Feira de Santana, no Centro Norte da Bahia, para Salvador, em 2010, e, atualmente, divide aluguel com a mãe. Na nova casa, morará sozinha. “Estava esperando a oportunidade para adquirir meu imóvel, fui pesquisando empreendimentos que se adequariam ao meu gosto, com minhas condições econômicas. Comprei na planta porque queria colocar ele do jeito que sempre imaginei”, relata.
Os juros baixos a ajudaram a tomar a decisão. “O financiamento estava bem maleável, ficava a critério do bolso do cliente. Dei entrada de R$ 7 mil e dividi em 420 parcelas, mas estou em dois empregos para manter os custos”, explica Sheimila. Ao todo, o apartamento custou R$ 310 mil. “Outro fator que me chamou muito atenção foi a energia solar nas áreas comuns, porque já posso economizar no condomínio”, completa.
A história de Henrique Oliveira, 24, é parecida. Farmacêutico, ele adquiriu um imóvel, também na planta, que será seu primeiro apartamento. Ele comprou em junho de 2021 e poderá se mudar em 2024, quando as obras acabam. Henrique resolveu fugir da capital para Vila de Abrantes. “Moro com meus pais e meu irmão e foi proposto um financiamento lá e aceitei, por desafio de vida”, narra. A entrada foi de R$ 20 mil, com parcelas de R$ 700 por mês, totalizando R$ 150 mil. Além do prédio ter piscina, quadra e salário de festa, o imóvel tem dois quartos e varanda.
Demanda reprimida explica boom do setor
O grande "boom" do setor foi antecedido por anos de crise, entre 2014 e 2019, segundo o presidente da Ademi-BA, Cláudio Cunha. “O Brasil viveu uma grande crise política e econômica nesses anos e isso fez com que as empresas se retraíssem. Essa demanda reprimida, com a taxa de juros baixas e medidas de incentivo à economia deu início a recuperação do setor”, detalha Cunha.
Além da alta nos lançamentos, ele cita uma diminuição considerável no número de imóveis disponíveis à venda. Em 2014, eram mais de 17 mil. Em 2019, cerca de 8 mil, e, em 2021, apenas 2.800 estão sem ocupação. “Houve uma baixa no lançamento de imóveis para que o mercado absorvesse os que já existiam”, conta. No último trimestre de 2019, a recuperação também já estava em curso. Só naquele trimestre, houve mais lançamentos do que todo o ano de 2018.
Em 2022, o ano será de desafios. “Tivemos um problema com o crescimento da inflação e aumento dos custos de materiais de construção. O aço, por exemplo, aumentou 45%, os elevadores, 30%, tubos de PVC, 39%. Isso impactou na construção civil e teremos eleição, então, se houver baixa na inflação e na taxa de juros, que é a tendência, a partir do final de 2022 e início de 2023, voltaremos a crescer”, prevê Claudio Cunha.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Alexandre Landim, o aquecimento do setor se deu ainda pela valorização dos imóveis na pandemia. “As pessoas ficaram mais contidas em suas casas, por conta do isolamento, e o imóvel se tornou o principal elemento de conforto”, argumenta.
As novas residências se adaptam aos novos hábitos. “Antes, os imóveis focavam muito no lazer, como a varanda gourmet. Agora, isso também é importante, mas eles precisam ter um espaço para o home office, que é a nova modalidade de trabalho. As portarias têm que ter um local para receber encomendas e comida, por conta dos deliverys. E, por questões sanitárias, o lavabo é muito procurado, porque as pessoas não querem mais dividir banheiro”, pontua Landim.
Sistema digital do e-Notariado facilita compra e venda de imóveis
Um dos fatores que contribuiu para o crescimento do setor foi a facilidade da compra e venda dos imóveis, possível pelo e-Notariado (www.e-notariado.org.br). Desde o lançamento da plataforma, em junho de 2020, o crescimento foi de 37% na transação de propriedades, na Bahia. O comparativo é entre junho de 2020 a maio de 2021, com junho de 2019 a maio de 2020.
“Com os atos eletrônicos, o serviço ficou mais acessível. Aquela pessoa que precisa resolver algo com urgência, mas não pode ser sair de casa, tem essa opção de fazer no modo online”, ressalta o presidente do CNB/BA, Giovani Gianellini. “Com a pandemia, percebemos esse crescimento, com uma rápida adaptação das pessoas à prática de atos notariais em meio eletrônico”, completa.
Após entrar em contato com o Cartório de Notas de sua escolha, é agendada uma videoconferência com o tabelião para realizar a escritura, assinada com certificado digital, emitido gratuitamente pelo Cartório, ou por ICP-Brasil, assinatura digital de padrão nacional. Se as partes quiserem, é possível assinar presencialmente ou de forma híbrida.
Por conta dos responsáveis de fomento do setor imobiliário estarem com covid-19, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Renda (Semdec) não pôde passar dados.