O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (29). Segundo o jornal O Globo, a informação foi repassada pelo próprio chanceler a seus subordinados.

O chanceler brasileiro vinha sofrendo um processo de fritura no cargo, nos últimos dias, após embates com senadores, entre eles a senadora Kátia Abreu. Integrante da chamada ala ideológica do governo de Jair Bolsonaro, o agora ex-chanceler estava no cargo desde o início da atual gestão, em 2019, mas não resistiu à pressão, inclusive do Centrão, que apoia o presidente, em razão da política diplomática durante a pandemia do coronavírus.

O pedido para deixar o cargo ocorreu após reunião com seu secretariado. O chanceler havia cancelado a agenda oficial desta segunda para conversar com os subordinados.

Fritura
Na semana passada, as críticas à atuação de Araújo no Itamaraty se intensificaram após senadores, durante audiência pública na quarta (24), terem exigido sua saída. O chanceler foi questionado enquanto falava das dificuldades enfrentadas pelo Brasil para a compra de vacinas contra a covid-19.

A fritura continuou no dia seguinte, quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, subiu ainda mais o tom, afirmando que a política externa é falha e precisa de mudanças, porém sem citar Araújo.

A situação tornou-se insustentável após o gesto obsceno, classificado como racista, feito pelo assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins, na mesma sessão de debate da quarta, enquanto Pacheco discursava.

“Senado não é lugar de brincadeira. Senado é lugar de trabalho. E ali nós estávamos trabalhando, buscando soluções, informações de um ministério que está muito a quem do desejado para o Brasil. Era um trabalho muito sério que estávamos desenvolvendo, e que não pode esse tipo de conduta estar presente num ambiente daquele, mas claro, sem pré-julgamentos e garantindo a ampla defesa”, afirmou o presidente da Casa na quinta (25).

No mesmo dia, o próprio líder do governo do governo na Câmara, Ricardo Barros, disse que "Ernesto Araújo não tem ambiente" para negociar ajuda internacional ao Brasil para acelerar a chegada de vacinas.

O comentário ocorreu pouco depois de Araújo se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, fora da agenda, e, em seguida, com Bolsonaro. De acordo com o blog de Andreia Said, no G1, Araújo tentou reverter uma possível demissão no encontro com Lira, pois não tinha mais apoio nem dentro do governo – apenas a ala ideológica, como o assessor Filipe G. Martins e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, gostariam de sua permanência no cargo.

O encontro com Lira e Bolsonaro ocorreu um dia depois de senadores, durante audiência pública com a participação de Araújo, pedirem que ele deixasse o ministério. Ele respondeu aos congressistas que dorme "com a consciência tranquila" e que "é preciso reconhecer as qualidades" do governo.

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