Número de empréstimos na Bahia sobe 65% em quatro anos
Antes usados para abrir negócios, complementar investimentos ou financiar equipamentos de alto custo, no cenário de pandemia os empréstimos se tornaram também opção para quem já não tem como pagar itens básicos. Em fevereiro deste ano, período mais atual divulgado pelo Banco Central, foram utilizados R$ 112,9 milhões em operações de crédito para pessoas físicas na Bahia. Em fevereiro de 2018, o montante era de R$ 68 milhões. Em comparação, o valor total de empréstimos contraídos pelos baianos com bancos nos últimos quatro anos teve alta de 65% e, segundo especialistas, deve continuar a crescer.
Isso porque, em quatro anos, a perda do poder de compra do real foi de 27,68%. “Enquanto não houver recuperação do emprego positivo, as pessoas vão depender de crédito, porque a questão é que não tem alternativa, ou contraio o crédito ou tenho uma perda social muito grande na família — tirar filho da escola particular e colocar numa pública, por exemplo”, explica o economista Guilherme Dietze, Consultor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-BA).
Em julho deste ano, duas pessoas da mesma família de Itabuna, no sul da Bahia, de 28 e 29 anos, que preferiram não se identificar, precisaram pegar empréstimos de R$ 3 mil para quitar as contas do mês. Uma delas pagará no final um valor de R$ 3,8 mil, já a outra pagará R$ 3,5 mil. Os motivos são simples: gastos excessivos no cartão de crédito e contas atrasadas.
O mesmo foi feito duas vezes por um bacharel em humanidades e estudante de Direito de 34 anos. O soteropolitano conta que pegou pequenos empréstimos para lidar com o cartão. O primeiro foi de R$ 2 mil, no ano passado. “Eu tive que pagar uma quantia grande e vieram duas cobranças no mesmo mês. Na verdade, eu já estava descobrindo um santo para cobrir outro. Basicamente já estava vivendo para pagar o cartão de crédito”, conta.
Especialista em crédito do Serasa, Flávia Cosma analisa que o principal público em busca do empréstimo é aquele que requer o dinheiro para pagar outras dívidas, sobretudo do cartão de crédito. Para ela, a recorrência de contas atrasadas no crediário se faz devido à presença do crédito no dia a dia do trabalhador, para sustentar as contas de supermercado, farmácia e itens de compra doméstica.
Flávia ainda avalia que a solicitação de empréstimo por quem tem um baixo score - pontuação conforme hábito de pagamento - ou nome sujo era comum, no entanto, aumentou durante a pandemia. “Como tem aumentado muito o número de negativados, consequentemente, aumenta o número de pessoas que vêm buscar crédito com essas características. É o maior perfil com maior expressividade que a gente vê hoje no eCred”, observa o público que busca modalidade de crédito.
"A gente está num momento onde tem muitas pessoas que perderam emprego e ficaram à margem do sistema econômico. Elas acabaram tendo que recorrer aos empréstimos para pagar aquela conta que ficou atrasada", afirma.
O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-Ba), Edval Landulfo, concorda que os empréstimos têm sido, prioritariamente, buscados para cobrir dívidas ao invés de consumo. “Tem alguns produtos que subiram 50, 60% e a renda não acompanhou. Muitos estão endividados para poder comer, pagar energia, comprar o gás. Esse é o perfil dos maiores endividados, aqueles que ganham de um a três salários”, afirma. Já outros públicos, como quem ganha de dez a vinte a salários mínimos também tem buscado por crédito, mas por motivo e taxa de endividamento inferior, diz o economista. Prova disso é que o mercado imobiliário - comum nas aquisições do público de alta renda - está reaquecendo, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) houve um aumento de 42% nos lançamentos de imóveis durante novembro e dezembro de 2021 mais janeiro de 2022 no Brasil.