A audiência que aconteceria nesta quarta-feira (31) na Vara Militar, no Bonfim, sobre o desaparecimento do adolescente Davi Fiúza, em 2014, foi adiada para outubro, por conta da ausência da principal testemunha do caso. O encontro foi remarcado para 7 de outubro, a partir das 10h, ainda sem definição se será presencial ou on-line. Policiais militares são acusados pelos crimes de sequestro e cárcere privado do adolescente, jogado dentro de uma viatura da Polícia Militar no dia 24 de outubro de 2014 e nunca mais visto.

"Sinto muito, porque é um desgaste emocional, físico, mental. Mas vamos aguentar. Para quem esperou 7 anos e 10 meses, esperar mais um mês... Mas tudo ocorreu porque essa testemunha está sob proteção e não conseguiram um aparato policial, alguma coisa, acredito que foi isso, a forma de locomover ela até aqui", disse a mãe de Davi, Rute Fiúza, que estava no local.

Ela disse que prefere não ver os policiais militares acusados pelo sequestro e sumiço de Davi. "Eles já estavam de costas, prefiro não olhar para eles", afirmou. "O assustador é que hoje fiquei sabendo que foram promovidos, três foram para reserva e todos eles foram pra cargos de oficiais. Interessante, o crime compensa, no caso do Estado. Por isso segue esse terrorismo implantado com sucesso nessa cidade, nesse país", criticou.

Mais cedo, Rute falou da dor pelo sumiço do filho. "O principal ficou no meu coração e na minha memória. Davi é meu ancestral, ele vai ficar comigo para sempre. Tem pessoas que preferem guardar algo físico, eu prefiro guardar o amor, o carinho, a reciprocidade que havia entre eu e ele. Um carinho e amor de mãe pra filho e de filho pra mãe. Admiro pessoas que guardam, mas não tenho essa capacidade, prefiro guardar dentro do meu coração".

Alexandra Montgomery, representante da Anistia Internacional, também esteve na audiência adiada, criticando a demora no andamento do processo. "Primeiro é um absurdo um adolescente desaparecer dessa forma. Absurdo as investigações nunca conseguirem localizar o corpo desse menino. E outro absurdo é esse processo ser trasladado da justiça comum para a militar, que nunca deveria ter sido o fórum competente para analisar esse tipo de violência", afirmou ela, lembrando que houve mobilização de várias partes do mundo pedindo justiça para Davi.

Ela criticou também a mudança na tipificação do crime. "A justifiticativa de que não pode acusar por homicídio e sim por sequestro, pra nós, da Anistia, é um absurdo jurídico. O desaparecimento forçado é um crime continuado. Do dia que a pessoa é desaparecida até o dia que a pessoa é localizada ou não, esse crime continua. Tem tratado internacional, pelo menos três, que tratam do desaparecimento forçado. A acusação só ta sendo por sequestro porque o Brasil até hoje não tipificou o crime de desaparecimento forçado, que é uma obrigação. Para nós está tudo errado, institucionalmente o Brasil está deixando tudo a desejar", avalia.

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