Casos de dengue, zika e chikungunya caem 54% em Salvador; interior vive risco
Chuva e calor formam a dupla perfeita para a proliferação do Aedes Aegypti, conhecido como mosquito da dengue, mas que também provoca zika e chikungunya. Nesta época do ano, é até esperado pelas autoridades de vigilância epidemiológica um aumento dos casos das três doenças. A Bahia já tem aumento de 8,3%, 10 cidades em epidemia de dengue e 50 municípios em alto e altíssimo risco. Mas, na contramão do cenário estadual, Salvador registrou de 3 de janeiro a 23 de abril deste ano uma queda de 54% no número de arboviroses em relação ao mesmo período do ano passado.
Em 2021, foram 517 casos (299 de dengue, 179 de chikungunya e 39 de zika). Já em 2022, foram registrados 234 casos (163 de dengue, 59 de chikungunya e 12 de zika). Em relação às mortes por arboviroses, foram quatro óbitos por dengue e um por zika no ano passado. Este ano, apenas uma morte foi confirmada por dengue.
Em janeiro deste ano, Salvador registrou o menor dado do Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa) dos últimos 16 anos. De acordo com a prefeitura, a capital apresentou em janeiro uma Infestação Predial (IIP) de 1,5%. Isso significa que a cada 100 imóveis visitados pelas equipes de saúde, menos de dois apresentaram focos do mosquito. Como o índice é medido a cada três meses, o próximo resultado será divulgado em maio.
A subcoordenadora de Ações de Controle das Arboviroses do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Cristina Guimarães, lembra que a dinâmica do mosquito Aedes Aegypti sofre oscilações. Em 2019, por exemplo, Salvador passou por um surto de dengue e toda a Bahia teve um salto em um período de um ano de três para 40 óbitos pela doença.
Mas Cristina destaca a importância do papel de cada município e atribui a queda dos casos em Salvador também à permanência das ações de combate ao mosquito durante todo o ano. “O Centro de Controle de Zoonoses, através dos 1.500 agentes de combate às endemias, vem trabalhando durante todo o ano, então, no período em que se costuma ter aumento de casos, o trabalho é apenas intensificado. São ações em domicílios junto com campanhas educativas que vêm fazendo efeito”, diz a subcoordenadora.
Cristina pede que a população não dificulte a entrada dos agentes nos domicílios, mas ressalta que a CCZ não consegue contemplar todas as residências da cidade e, por isso, conta com o apoio dos cidadãos. “O ideal é que cada munícipe faça uma inspeção no seu domicílio uma vez por semana à procura de água parada”, orienta. A população também pode contribuir informando ao Canal Fala Salvador, através do telefone 156, locais de possíveis focos de mosquito.
Bahia tem aumento de 8,3% de casos
O surgimento de casos é esperado para esse período do ano, mas, na Bahia como um todo, os casos de janeiro a abril de 2022 já superam os do mesmo período de 2021. Até o dia 23 de abril, foram 24.579 casos notificados das três doenças este ano. No mesmo período do ano passado foram 22.684 casos, um aumento de 8,3%. Os dados são da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).
“A gente já espera, na época de sazonalidade, um aumento de casos dessas doenças, mas a ideia é que sejam feitas ações para controlar o índice de infestação pela presença do vetor. Os diferentes números entre as regiões da Bahia são explicados pela incidência de chuva, mas também pelas ações de cada prefeitura em relação ao controle do mosquito”, diz a epidemiologista da Sesab, Sandra de Oliveira.
Em algumas cidades, houve uma disparada de casos. Em Itabuna, o aumento de 2021 para 2022 é de cerca de 200%. Segundo a secretária de saúde do município, Lívia Mendes, de janeiro a abril do ano passado foram 150 casos de dengue, zika e chikungunya registrados por lá; já este ano, são 466. A secretaria já considera que há um surto epidêmico na cidade.
As dez cidades em epidemia listadas pela Sesab são Urandi, Coaraci, Floresta Azul, Potiraguá, Apuarema, Mirangaba, Caatiba, Santa Cruz da Vitória, Remanso e Oliveira dos Brejinhos.
“A gente já tinha ações em andamento porque são doenças esperadas para essa época, mas agora estamos intensificando as atividades dos agentes no combate à água parada e as campanhas de conscientização da população”, diz a secretária de saúde.
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Bahia (Divep/Sesab) informou que está em alerta para situação epidêmica de dengue e chikungunya nas macrorregiões de saúde Sudoeste e Norte. Outras regiões que preocupam são: Sul, Centro-Norte e Oeste.
O virologista e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gúbio Soares, explica que a combinação de água e calor atua como uma incubadora para os óvulos do mosquito Aedes Aegypti.
“O mosquito deposita o óvulo na água parada e o calor faz com que os óvulos eclodam. Em três dias de água parada, as larvas já começam a ser liberadas e, em cinco dias, já há mosquito. E vale destacar que mesmo que a água seque, os óvulos podem ficar ali até cerca de um ano só esperando que ali encha de água novamente para eles eclodirem”, diz.
Dengue
A doença que mais preocupa agora na Bahia é a dengue, com os 10 municípios em estado de epidemia, 52 com médio risco, 33 municípios com alto risco e 17 com altíssimo risco para a doença.
Ao todo, foram 14.732 casos de dengue registrados em 271 municípios. A doença é a única das três arboviroses com registro de mortes; são quatro óbitos confirmados e 12 em investigação no estado. No ano passado, foram 14.509 casos no mesmo período (aumento de 1,5%).
Chikungunya
Em relação à chikungunya, já são 9.290 casos em 2022, um aumento de 19,6% em relação às notificações do mesmo período do ano passado, quando foram registrados 7.765 casos. No total, 193 municípios notificaram casos. No acumulado de 2022, 25 municípios apresentaram médio risco, 16 municípios apresentaram alto risco e 8 altíssimo risco para chikungunya. Não há registro de óbitos.
Os dez municípios com mais casos acumulados de chikungunya em 2022 são: Macarani, Itambé, Santa Cruz da Vitória, Brumado, Maiquinique, Coaraci, Feira da Mata, Caculé, Potiraguá e Serra do Ramalho.
Zika
Já os casos de zika também tiveram um incremento de 35,9%, com 557 notificações em 2022, contra 410 registradas no mesmo período de 2021. 69 municípios realizaram notificação para esse agravo. Os cinco municípios com mais casos acumulados em 2022 são: Caculé, Itambé, Malhada das Pedras, Potiraguá e Encruzilhada. Não há registro de óbitos.
A Sesab informou que a Divep está monitorando os possíveis surtos das arboviroses urbanas nas macrorregiões. Nos 10 municípios categorizados como de alto e altíssimo risco para as três arboviroses, a Sesab já autorizou a liberação do inseticida e UBV pesado, bem como tem providenciado manter o abastecimento de inseticidas nos núcleos regionais.
“Estamos realizando reuniões com os secretários de saúde e equipes dos Núcleos Regionais de Saúde e municipais para garantir o planejamento intersetorial das atividades de controle. A Sesab também realiza o monitoramento das Salas Municipais de Coordenação e Controle do Aedes aegypti para orientar sobre as ações de bloqueio vetorial”, explica a secretária estadual da Saúde, Adélia Pinheiro.
O que fazer para eliminar o mosquito
O principal meio de transmissão das três arboviroses, dengue, chikungunya e zika, é a picada de mosquitos Aedes Aegypti, os mesmos que transmitem a febre amarela.
Daí a importância dos cuidados em casa, uma vez que os mosquitos Aedes se proliferam em locais com água armazenada. Os principais focos de combate devem ser frascos plásticos, galões, pneus, vasos de plantas, recipientes de todos os tamanhos como tampinhas de garrafa ou mesmo sacolas plásticas, o ambiente perfeito para a fêmea depositar seus ovos.
Os primeiros cuidados que devemos ter para reduzir os locais de proliferação do mosquito e evitar as doenças são:
tampar lixeiras;
tampar tonéis e caixas d’água;
manter as calhas sempre limpas;
limpar ralos e colocar telas;
deixar garrafas e recipientes com a boca para baixo;
preencher os pratos de vasos de plantas com areia;
manter lonas para materiais de construção e piscinas sempre esticadas para não acumular água;
limpar com escova ou bucha os potes de água para animais.
Quais são os sintomas?
Dengue
O primeiro sintoma da Dengue é a febre alta, entre 39° e 40°C. Tem início repentino e geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira no corpo. Pode haver perda de peso, náuseas e vômitos.
Zika
Tem como principal sintoma o exantema (erupção na pele) com coceira, febre baixa (ou ausência de febre), olhos vermelhos sem secreção ou coceira, dor nas articulações, dor nos músculos e dor de cabeça. Normalmente os sintomas desaparecem após 3 a 7 dias.
Chikungunya
Apresenta sintomas como febre alta, dor muscular e nas articulações, dor de cabeça e exantema (erupção na pele). Os sinais costumam durar de 3 a 10 dias.
Alguns sintomas da dengue podem ser também sintomas de gripe e covid, são eles: febre, dor de cabeça, dor no corpo, cansaço e mal-estar. Mas alguns pontos podem ajudar a diferenciar os sintomas. O ponto chave é o quadro respiratório. Tosse, produção de escarro, dor no peito, falta de ar e alteração do olfato e paladar são sintomas apenas da Covid-19 ou gripe e não aparecem no quadro de dengue.
Por outro lado, há sinais característicos da doença causada pelo Aedes aegypti. Quando a pessoa apresenta manchas vermelhas na pele, dores nas articulações e problemas gastrointestinais, o paciente provavelmente está com dengue. Estes sintomas não são muito frequentes em pessoas infectadas pelo coronavírus, apesar de possíveis.
“Logo a qualquer sintoma compatível com as doenças, a pessoa deve procurar o serviço de saúde da rede pública ou privada do seu município. E é importante que o profissional de saúde encaminhe para diagnóstico laboratorial, faça a notificação do caso e preste as orientações necessárias”, orienta a epidemiologista da Sesab, Sandra de Oliveira.
Vacinas
Mesmo com pesquisas há décadas, ainda não há vacinas para a zika e chikungunya. Para a dengue, somente um imunizante está disponível no Brasil, mas apenas no mercado privado e com restrições de uso. O CORREIO procurou os principais laboratórios que aplicam vacina em Salvador e não encontrou nenhum que fornecesse vacina contra dengue.
A única vacina contra a dengue disponível no Brasil é a Dengvaxia (a primeira que teve registro no mundo), fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. O imunizante é vendido na rede privada na maior parte do Brasil e não está disponível no Programa Nacional de Imunizações, o PNI.
A vacina foi aprovada somente para pessoas entre 9 a 45 anos que moram em áreas endêmicas. Além disso, não é recomendada para quem nunca entrou em contato com o vírus da dengue. A vacina apresentou uma eficácia contra qualquer sorotipo da dengue de 65,6%. Se considerada a forma da dengue que leva à hospitalização, a eficácia verificada da vacina foi de 80,8%.
Outra vacina aguarda a aprovação da Anvisa desde o ano passado e, além disso, o Instituto Butantan está desenvolvendo - com parceria internacional - um imunizante do tipo, há mais de 10 anos.
Para o virologista Gúbio Soares, os estudos podem avançar a partir dos resultados obtidos com as vacinas contra covid-19.
“O que se espera é que a vacina para covid-19 abra portas porque tivemos aí uma nova tecnologia testada de RNA que deu certo e pode ser usada para produzir uma vacina só que cubra Zika, Dengue e Chikungunya, assim como a vacina da gripe é tríplice, com os três tipos de influenza. A expectativa é que, em menos de um ano, a gente já tenha essa vacina no mercado”, destaca.
Salvador tem mais de 11 mil casos de Chickungunya de janeiro a novembro; aumento passa de 200% em relação a 2019
Salvador registrou um aumento de mais de 223% dos casos de chikungunya, de janeiro a novembro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2019.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, este ano, até 7 de novembro, já haviam sido registrados 11.836 casos de chikungunya. No mesmo período do ano passado foram 3.659 casos.
"Esse número é um acumulado de janeiro a novembro e está comparado ao ano passado. Na realidade, o aumento expressivo de casos se deu no mês de abril e maio. Se você observar, foi justamente logo depois que começou a pandemia, em março", explica Isolina Miguez, coordenadora das ações de controle das arboviroses do município.
As regiões de Salvador, que lideram com maior número de casos de chikungunya é o Cabula/Beiru (2.345), Pau da Lima (1.698) e São Caetano/Valéria (1.336).
"Nós já sabíamos que haveria um aumento no número de casos, nos preparamos, mas fomos surpreendidos pela pandemia, no qual foram retirados os agentes de dentro de casa. Eles só podem fazer o perímetro do domicílio [ao lado de fora das residências], isso significa que o mosquito continua no domicílio", conta a coordenadora.
Para a redução desses números, Isolina conta que equipes do Centro de Controle de Zoonoses continuam reforçando a fiscalização nas ruas e que serão realizadas limpezas na cidade.
"Nós estamos intensificando as ações, em todos os lugares e também, de 7 a 11, de dezembro faremos um faxinaço na cidade para combate a essas arboviroses", disse.
A chikungunya é transmitida pela picada do Aedes aegypti, que também causa doenças como dengue e zika vírus.
A infecção por chikungunya começa com febre, dor de cabeça, mal estar, dores pelo corpo e muita dor nas juntas (joelhos, cotovelos, tornozelos, etc), em geral, dos dois lados, podendo também apresentar, em alguns casos, manchas vermelhas ou bolhas pelo corpo.
O quadro agudo dura até 15 dias e cura espontaneamente. Algumas pessoas podem desenvolver um quadro pós-agudo e crônico com dores nas juntas que duram meses ou anos.