Suspeito de matar Beatriz alega inocência em carta, diz novo advogado de defesa
Quase uma semana após a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) apresentar o principal suspeito de assassinar a menina Beatriz Angélica Mota, o advogado Rafael Nunes apresentou uma carta, nesta terça-feira (18), que, segundo ele, teria sido escrita pelo suspeito, na prisão, na qual ele alega ser inocente.
De acordo com o advogado, a confissão teria ocorrido após pressão, haja vista que o homem não estava na companhia de um defensor quando foi ouvido. "Eu sou inocente, não matei a criança, eu confessei na pressão. Pelo amor de Deus, eles querem minha morte. Preciso de ajuda", diz trecho da carta apresentada pela defesa.
Resposta
Após a fala do advogado, a Secretaria de Defesa Social se pronunciou, em nota, e afirmou que "todo o inquérito sobre o assassinato da menina Beatriz está sendo realizado dentro de todos os parâmetros legais, com zelo e lisura".
A nota destaca, ainda, que o indiciamento do suspeito do crime foi realizado após a identificação positiva através de comparação de DNA. "Essa é uma prova técnico-científica, que foi ratificada pela confissão do preso que se coaduna com as demais provas existentes no inquérito policial e é compatível com a dinâmica dos fatos e toda a linha de tempo descoberta durante a investigação. Importante ressaltar que a Polícia Civil filmou o depoimento na íntegra, seguindo todas as regras legais, a fim de evitar quaisquer questionamentos, tentativas de macular a confissão ou estratégias projetadas para tumultuar o caso".
De acordo com a Secretaria, o caso segue sob sigilo e a Polícia Civil de Pernambuco está dando continuidade às diligências solicitadas pelo Ministério Público Estadual, "bem como à compilação de provas necessárias para conclusão do inquérito policial e consequente remessa ao MPPE".
Suspeito
O suspeito do caso cumpre pena por estupro de vulnerável, ameaça e cárcere privado. Ele estava preso desde 2017 no presídio de Salgueiro e foi transferido para o presídio de Igarassu, no Grande Recife, no dia 13 de janeiro de 2022.
O homem, de 40 anos, confessou o crime para delegados da força-tarefa responsável pela investigação do caso, logo depois de o DNA contido na faca utilizada no assassinato da criança de 7 anos apontar que ele seria o assassino. O depoimento foi dado em 11 de janeiro de 2022, no presídio de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco.
Beatriz foi assassinada durante a festa de formatura da irmã, em 2015, no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina. A menina se afastou da mãe por alguns instantes para beber água no bebedouro da escola. O corpo dela foi encontrado 40 minutos depois, perfurado de facadas, em um depósito, perto da quadra onde acontecia a festa.
Lucinha Mota
Mãe de Beatriz, Lucinha Mota concedeu entrevista ao Blog de Edenevaldo Alves, por meio do Instagram, e disse ter certeza de que o suspeito cometeu o crime. Ela disse ter recebido críticas em seu WhatsApp contra o novo advogado de defesa e deve se reunir, nesta quarta-feira (19), com a presidência da OAB-PE para tratar do assunto.
Lucinha diz ter certeza de que o homem apontado pela Polícia Civil é o assassino. "Ele é o assassino, não temos dúvidas de que ele é o assassino. Após assistir a confissão, os profissionais que me ajudam disseram que mesmo se não houvesse resultado de DNA defenderíamos que foi ele. Ele fala coisas que só o assassino saberia, é o que liga ele ao crime. Claro que outras evidências precisam ser analisadas, para colocar ele na cena do crime, mas o delegado vem fazendo esse trabalho", destacou.
"O que mais quero é que ele (o suspeito) receba a maior pena que já existe, vamos garantir que ele fique preso o máximo de anos possíveis, garantir que ele pegue o máximo, que seja condenado em tudo possível na legislação", disse.
Ainda que se diga certa da culpa do assassino, a mãe da criança segue defendendo a federalização do caso. Ela aponta que a polícia pernambucana não vai investigar supostas sabotagens durante as investigações. "Estavam sabotando o inquérito, precisa ser apurado, defendemos a federalização, a policia não investigará a própria polícia, teve muito escândalo", disse Lucinha afirmando que querem "defender a imagem política".
Ela ainda destaca que receberá um documento do delegado do caso e, em seguida, analisará se a letra da carta apresentada pela defesa seria realmente do suspeito, se ele teria capacidade de escrever o texto apresentado pela defesa. Porém, segundo Lucinha, o homem realmente está com medo de morrer na prisão. Ela assistiu o depoimento, dias depois que a polícia indiciou o homem.
"Ninguém botou arma na cabeça dele. No início, ele nega (o crime), mas percebe que está sendo investigado e, como não tem para onde escapar, confessa. Ele se preocupa com ele, ele quer ficar vivo, cumprir a menor pena, ele está com medo, a primeira coisa foi pedir para mudar de presídio, que se ficasse ali não duraria uma hora. Acho que daí foi feito um acordo com o delegado e é um direito dele, deve ter sido oferecida a proteção e ele confessa, mas ele ainda precisa contar toda a verdade sobre a motivação, foi um crime premeditado e ele teve ajuda", aponta a mãe.
Sem detalhes sobre a morte da menina Beatriz, MP pede novas perícias
Após a Polícia Civil identificar suspeito de assassinar a facadas a menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, há pouco mais de seis anos, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, o Ministério Público Estadual (MPPE) pediu a realização de novas perícias complementares. A informação foi repassada pela promotora Ângela Cruz, coordenadora do Grupo de Atuação Conjunta Especial (Gace), que acompanha o caso.
A promotora ressaltou ainda que o Gace está analisando minuciosamente os 24 volumes do inquérito policial a fim de compreender não apenas o crime, mas também as circunstâncias relacionadas, com base em evidências científicas robustas que permitam a realização da persecução penal e uma eventual condenação perante o Tribunal do Júri.
"O Ministério Público está devolvendo o inquérito à Polícia Civil para que sejam juntadas mais informações. Sabemos que a polícia fará o trabalho requisitado de forma responsável, com foco na apuração dos fatos. E ao receber o relatório final da investigação, o MPPE vai analisar o inquérito e apresentar, no tempo devido, a sua manifestação", destacou Ângela Cruz.
Detalhes do crime
Em uma coletiva de imprensa na sede da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), na área central do Recife, o secretário Humberto Freire, titular da pasta, afirmou que a garota recebeu dez golpes de faca, não 42 como amplamente divulgado desde a época do crime.
Ainda de acordo com Freire, na verdade houve 42 fotografias dos ferimentos no corpo de Beatriz. "O laudo, normalmente, tem várias imagens da mesma lesão para poder ilustrar melhor. Mas o laudo indica dez ferimentos a faca, que a levaram a óbito", pontuou.
O gestor disse também que o homem apontado como autor das facadas que matou a menina agiu sozinho e sem mandante.
Embora a polícia não tenha divulgado a identidade do suspeito, segundo o portal G1, ele chama-se Marcelo da Silva, de 40 anos. Ele já estava preso em Salgueiro, no Sertão do Estado.
Motivação do crime
O secretário também informou o que motivou o crime. Segundo ele, o homem apontado como suspeito do homicídio, desferiu as facadas na menina Beatriz após ela ter se desesperado ao se deparar com o assassino.
"Temos a motivação alegada, se coadunando com a dinâmica dos fatos. Quando teve contato, a vítima se desesperou e foi silenciada pelo criminoso, com golpes de faca", contou Freire, contudo, sem explicar o contexto que teria feito a criança se desesperar.
"A escolha da vítima foi ao acaso, e, por conta do desespero dela, ele decidiu silenciá-la", disse Freire em outro momento.
O secretário disse ainda que o suspeito tem histórico de violência sexual contra crianças. Apesar disso, o gestor ressaltou que as investigações não apontaram indícios de violência sexual contra Beatriz.
Assim, não ficou completamente claro em que circunstâncias se deu o contato entre a vítima e o suposto assassino.
Relembre o caso Beatriz
Beatriz Angélica Mota foi morta no dia 10 de dezembro de 2015, aos 7 anos, durante uma festa de formatura da escola em que estudava na cidade de Petrolina, no Sertão Pernambuco. O pai da menina era professor da escola.
A criança desapareceu quando avisou à mãe que iria beber água. Após estranhar a demora da filha, as pessoas começaram a procurar pela menina, que foi encontrar morta com 42 facadas, dentro de uma sala desativada.
O caso se arrastava há mais de 6 anos. A mãe de Beatriz, Lucinha Mota, nunca desistiu de lutar por justiça pelo assassinato da filha e realizou diversas manifestações ao longo dos últimos anos.
No final de 2021, ela fez uma romaria, saindo de Petrolina até a capital pernambucana para cobrar pessoalmente ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, pelo desfecho do caso.
Reportagem originalmente publicada no JC Online
Caso Beatriz: vítima foi escolhida ao acaso e foi morta por ter se assustado, diz polícia
O resultado do DNA e o depoimento do suspeito, com detalhes sobre o crime que batem com o que está no inquérito policial, embasam a crença da Polícia Civil de Pernambuco que Marcelo da Silva é mesmo responsável pela morte da menina Beatriz, em Petrolina, há mais de 6 anos. A motivação do crime foi porque Beatriz teria se assustado quando foi abordada pelo criminoso, que agiu para calá-la. Marcelo está preso na cidade de Salgueiro por outro crime, estupro de vulnerável, e foi identificado através de exames feitos na faca usada no crime. Ele confessou que matou Beatriz, explicou o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Humberto Freire.
"Ao haver contato do assassino com a vítima, a vítima teria se desesperado. E por isso foi silenciada a golpes de faca. Essa é a motivação alegada e se coaduna com a dinâmica minuto a minuto, segundo a segundo, que foi feita no trabalho investigativo, técnico-científico. Reafirmo, 100% das imagens foram recuperadas. Não há o que macular essa investigação e esse trabalho técnico-científico", disse o secretário. "Trabalho foi sério, comprometido, e chegou a uma prova técnico-científica".
Marcelo disse em depoimento que conseguiu entrar na escola após um momento inicial de dificuldade - o local recebia um evento com mais de 2 mil pessoas. "Ele menciona que transitou no local, teve contato com algumas pessoas. E quando teve contato com a vítima, após um breve contato, conversa, ela teria se assustado, se exasperado, e então a motivação foi silenciar ela, porque ele ficou preocupado que houvesse um revés contra ele", acrescenta. O suspeito não detalhou o que conversou com a menina.
Não há indícios de que Beatriz tenha sido vítima de qualquer violência sexual. A faca usada foi levada por Marcelo. "Ele já tinha a faca, circulou durante algum tempo, e as imagens corroboram, não tenho aqui detalhe da quantidade de minutos. A dinâmica foi estudada de segundo a segundo. Do momento que ele está lá fora, vultos, imagens não de muita qualidade, mas que podem trazer à investigação essa dinâmica", explica o investigador. "Ele entrou no local porque tinha muitas pessoas e queria conseguir algum dinheiro para sair da cidade".
Segundo a Polícia Civil, a força-tarefa vai continuar para concluir a investigação, compilando tudo que é necessário para finalizar o caso. "O acusado está preso por outro crime de estupro de uma menor de idade", acrescentou o secretário, explicando que Marcelo não era de Petrolina e estava de passagem.
A investigação não tem indicativo de outros criminosos envolvidos, e na confissão Marcelo diz que agiu sozinho. "A escolha da vítima, segundo a investigação e confissão, foi ao acaso. Ele estava transitando. E em razão desse desespero momentâneo dela (a matou)", reafirma.
O secretário ainda esclareceu que Beatriz foi morta com 10 facadas, e não 42. Segundo ele, foram 42 fotografias de lesões, mas uma mesma facada causou várias lesões.
A coletiva aconteceu na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, no Recife, na manhã desta quarta-feira (12), um dia depois da polícia anunciar que havia identificado o suspeito pelo crime, que chocou o país.
Reconhecimento por DNA
O DNA foi coletado do cabo da arma, deixada no local do crime, pelos peritos. A faca foi entregue ao Instituto de Genética Forense, no Recife, um dia depois do assassinato. A partir da análise do material recolhido, foi possível comparar com o perfil de suspeitos. O DNA de Marcelo já fazia parte do Banco Estadual de Perfis Genéticos.
Ao todo, o material genético recolhido foi comparado com o de 125 pessoas consideradas suspeitas. Essas amostras foram coletadas pelos peritos desde 2015. "De lá para cá, o trabalho técnico-científico foi preciso de melhoria da qualidade da amostra", disse ele, classificando o trabalho como um "refino" para permitir que a amostra pudesse ser inserida no banco para comparações.
O perfil de Marcelo está no banco genético desde 2019. A partir de um primeiro indicativo positivo na comparação, várias outras análises são necessárias para confirmar a identificação. O Instituto de Genética Forense fez nova coleta do material genético do suspeito, na semana passada, para novos testes. Quatro peritos geneticistas assinam o laudo que aponta que o material recolhido na faca é mesmo de Marcelo.