Número de produtores orgânicos cresce 70% na Bahia
Alimentos naturais, cultivados sem o uso de agrotóxicos e sem organismos geneticamente modificados estão conquistando cada vez mais espaço no solo baiano. Isto porque, segundo dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em setembro desse ano, o estado já contava 1.483 produtores orgânicos certificados – um crescimento de mais de 70% quando comparado ao ano passado. No Brasil, existe, no total, cerca de 25 mil produtores com o mesmo certificado, o que mostra o quanto esse segmento ainda tem a expandir.
“A Bahia tem um grande potencial para expansão da produção orgânica, considerando a oportunidade de terras disponíveis para a produção orgânica, o cenário positivo de expansão produtiva no oeste do estado e a diversidade de possibilidades de produção nos três biomas do estado: Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado”, destaca o assessor especial da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri-BA) e coordenador da Comissão de Produção Orgânica da Bahia, Thiago Guedes.
E dá para entender o tamanho dessa oportunidade. A Bahia tem, aproximadamente, 700 mil agricultores familiares. Este número representa 0,2% de produtores certificados, o que demonstra o montante de produtores que ainda podem ser certificados como orgânico, agregando mais valor ao produto e fortalecendo a cadeia. Com base no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) entre os produtos que contam com selo produzidos por aqui estão o cacau, umbu, maracujá da caatinga, mamão, melão, alface, coentro, rúcula, milho, cebola, beterraba, cenoura, cana, aipim, goiaba, couve, abóbora, melancia, cebolinha, pimentão, tomate e limão.
“Sem dúvida, existe uma grande demanda de produtos orgânicos no estado que ainda não é abastecida pela produção interna, o que acaba oportunizando um cenário de ampliação da produção para atender o mercado interno. Atualmente, alguns produtores comercializam para os estados do sudeste do país. Precisamos localmente de consumidores ativos e participantes”, opina Guedes.
Produtora da comunidade de Lagoa Funda, no município de Barro Alto, território de Irecê, Paula Ferreira, produz um pouco de tudo: frutas, verduras e hortaliças e também agroindústria certificada com a fabricação de extrato de tomate, geleias, doces, temperos, farinhas e ervas desidratadas. Ela faz parte da Rede de Agroecológica Povos da Mata e está certificada há cinco anos.
“Vejo o orgânico como uma crescente tanto para quem produz, como para quem precisa desse alimento para garantir a segurança alimentar e nutricional de suas famílias. Acredito que em 2022 teremos saltos importantes no aumento de novos agricultores e agriculturas produzindo e com certificação no estado”, afirma.
Atualmente, os principais mercados que Paula atende estão nas feiras agroecológicas e os mercados coletivos, através do entreposto de comercialização gerido pela Associação Raízes do Sertão. “Ainda faltam assistência técnica e crédito. A melhor forma para ter investimentos e ampliar o número de produtores é fazer com quem os consumidores procurem os espaços públicos de comercialização, as feiras. Porque é ali que a venda é direta de quem produz”, complementa a produtora.
Hoje, a Rede Povos da Mata têm 900 produtores certificados. A expectativa, de acordo com o presidente, o Hércules Sar, é que esse número possa triplicar nos próximos dois anos.
“Nosso território tem uma diversidade de produtos muito grande. Mas precisamos de mais apoio para uma comercialização justa para se possa chegar até o consumidor sem atravessadores”.
Tendência
Em 2020, dados do Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis) apontaram que houve um crescimento do mercado brasileiro de orgânicos na faixa dos 30%, movimentando cerca de R$ 5,8 bilhões. Em termos mundiais, o faturamento do setor de orgânicos já ultrapassou a barreira dos 100 bilhões de dólares. Os Estados Unidos representam quase a metade do mercado mundial, seguidos pela Alemanha, França, China e Canadá.
Para o coordenador de cooperativa E da Feira Estação Orgânica Grapiúna, em Itabuna, Claudio Lyrio, para além de uma tendência mundial, a pandemia fez com que as pessoas se preocupassem mais ainda com a saúde e alimentação. Ele faz parte do Centro de Agroecologia e Educação da Mata Atlântica (OCA).
“As pessoas ficaram em casa, cuidaram mais da saúde, passaram a voltar uma atenção maior à alimentação. Se antes da pandemia, a coisa já estava em uma crescente, pós-pandemia, com certeza, esse universo pode se multiplicar. Inclusive, as grandes redes de supermercado já estão aumentando seus espaços de alimentos orgânicos. Se elas já perceberam isso, é um nicho de mercado que efetivamente está expandindo”.
Com o crescimento do mercado, o setor espera que aumente também o consumo. “Só com esse aumento, é que podemos trabalhar a questão do preço, o que é algo sempre questionado quando se diz respeito aos orgânicos. O grande gargalo com a questão do preço é o custo. Ele ainda é alto porque a nossa produção é em escala pequena, comparada ao produto convencional”, acrescenta Lyrio.
Produtor de orgânicos e membro da Comissão de Produção Orgânica da Bahia, Tércio Vieira, pontua que custa caro para o pequeno produtor obter a certificação como orgânico, o que acaba sendo mais uma limitação para uma ampla popularização desses produtos.
“A certificação orgânica pode ser participativa ou individual, mas aí o pequeno produtor precisa contratar uma empresa especializada para dar essa consultoria, o que fica em torno de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Então, falta uma assistência técnica para preparar esse produtor e trabalhar o valor agregado do seu produto”.
Tércio defende, que ao adquirir um orgânico, o consumidor leva para casa não só aquele alimento, mas o cuidado com a questão da preservação ambiental, o cumprimento das leis trabalhistas e as práticas sustentáveis que o transformaram em um produto.
“A gente vem percebendo que o consumo aumentou e as pessoas entenderam a necessidade de consumir orgânicos que tem todo um cuidado com a sua produção. O que temos é um preço justo que contempla todo o custo com esse processo. Por outro lado, comparado com os alimentos convencionais onde há uma oscilação de preços constante, no orgânico o valor é mais estável”, completa Vieira.
QUAL A DIFERENÇA?
Orgânicos
São aqueles produzidos dentro de um sistema orgânico ou extrativista sustentável, ou seja, que beneficie o ecossistema local, proteja os recursos naturais, respeite as características socioeconômicas e culturais da comunidade local, além de preservar preserve os direitos dos trabalhadores envolvidos. Além disso, os orgânicos não utilizam organismos geneticamente modificados nem químicos sintéticos. Eles recebem certificação com o selo Produto Orgânico Brasil.
Agroecológicos
Os produtos agroecológicos são cultivados de forma justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável, agrotóxicos e transgênicos. Porém, diferente do orgânico, o agroecológico não tem ainda uma certificação e legislação para esse produto.
Hidropônicos
São alimentos cultivados artificialmente em uma estufa, sem a utilização de terra. Geralmente, a raiz é inserida em estruturas artificiais, como canos e tubos, que contêm água e os nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta.
Convencionais
Nesse caso, a produção tem ênfase em larga escala e conta com a utilização de insumos e tecnologias agrícolas como, por exemplo, fertilizantes e defensivos químicos.